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Economia

Tudo pela metade do dobro: poder de compra do brasileiro é engolido por inflação alta

Nem famílias de classe média escaparam da inflação, mais de 60% dos brasileiros tiveram que cortar gastos

Curitiba (PR) |
"Em outros anos, sempre sobrava um dinheiro para comprar uma geladeira nova, mesmo parcelada, uma TV. Hoje o que sobra é para comida e contas", conta trabalhador - Foto: Giorgia Prates

Marcos Silva, 36 anos, analista de web design e funcionário público. Mesmo com estabilidade no emprego e ganhando uma boa faixa salarial, com o aumento da inflação, teve o poder de compra que garantia um padrão de vida confortável para sua família corroído. "Antes tínhamos condições de comprar alimentos de qualidade, hoje até a carne moída vermelha, por conta do preço, está virando luxo. A não ser os alimentos ultraprocessados, tudo aumentou muito", diz.

A realidade de Marcos tem sido a de 60% dos brasileiros, que entre o último semestre de 2021 e o primeiro deste ano, tiveram que cortar gastos, de acordo com pesquisa apresentada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), no final de abril. Produtos considerados essenciais passaram a se tornar raros nos carrinhos de supermercado das famílias brasileiras, como, por exemplo, o tomate, que teve aumento de 117% no ano passado, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Com pouco dinheiro circulando, os pequenos e microempresários do setor de serviços, sentem. Apesar da recuperação do setor de serviços por conta da reabertura da pandemia, e a flexibilização dos protocolos sanitários, a inflação tem impedido uma recuperação mais robusta.

Joana Araújo, cabeleireira, 54, é uma das microempresárias que sente a dificuldade do momento. Dona de um estabelecimento de beleza pequeno, no bairro Santa Cândida, região norte de Curitiba, comenta que o valor de luz, água e produtos que usa no salão acaba impactando no valor final para o consumidor.

"Passamos por dificuldades grandes por causa da pandemia, nosso faturamento caiu quase a zero. Melhorou agora, nossas clientes estão voltando, mas com tudo caro, fica difícil para segurarmos os valores", relata.

A cabeleireira ainda conta que, com o aumento dos valores que acaba repassando para suas clientes, a recuperação do negócio fica comprometida. "A luz está mais cara, os produtos que usamos aqui estão mais caros para comprar, o aluguel foi reajustado, eu apostava que iríamos recuperar melhor, mas do jeito que está, estamos batalhando para pagar as contas e só", reclama.

Com a inflação galopante e o poder de compra corroído, o governo Bolsonaro ainda tenta cartadas para controlar a situação econômica em ano eleitoral. Na semana passada, o Congresso Nacional aprovou um Projeto de Emenda a Constituição que prevê a ampliação de benefícios e auxílios sociais, como o Auxílio Brasil, subsídio para combustíveis, entre outras medidas.

Contudo, o poder aquisitivo dos trabalhadores continua achatado. Marcos Silva, cita que em anos anteriores conseguia comprar, por exemplo, eletrodomésticos. Hoje, compra apenas o básico. "Comer de forma saudável está se transformando um luxo. Em outros anos, sempre sobrava um dinheiro para comprar uma geladeira nova, mesmo parcelada, uma TV. Hoje o que sobra é para comida e contas", diz. Sobre a queda do valor dos combustíveis, por exemplo, Marcos é taxativo. "É tipo Black Friday: está tudo pela metade do dobro. Ajudou a queda na gasolina, mas pagávamos bem menos em outros anos", conclui.

Edição: Lia Bianchini