Rio Grande do Sul

LANÇAMENTO MUSICAL

Artigo | Pedro Munhoz abre o peito e deixa o coração à mostra em novo CD

Conheça o disco "Diário de Canções", que já está disponível para download gratuito no site Palco MP3

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Do lirismo à melancolia, novo trabalho de Pedro Munhoz encanta pela sinceridade - Divulgação

O poeta e cantador Pedro Munhoz voltou à cena com o sétimo CD da carreira, “Diário de Canções”, lançado em transmissão online a partir de sua casa na noite de quarta-feira (27). São sete canções que dizem muito sobre o mundo que circunda o artista, as dores das pessoas que calejam a alma e o corpo do cantador que ao longo de sua trajetória especializou-se em cantar as histórias dos mais simples, dos pequenos, de todos aqueles e quelas que tem as luzes dos holofotes negadas.

De sua lavra já conhecemos e cantamos em diversas jornadas a empolgante “Canção da Terra” (sempre evocada em nossas cantorias ao redor das fogueiras, mas que já foi parar até em novela da Globo e em orquestra europeia), assim como a emblemática Procissão de Retirantes (que evoca a memória dos mártires de Eldorado Carajás e de tantos outros Eldorado Carajás que nos arrancam companheiros e companheiras pela história afora). Mas talvez nunca tenhamos visto Pedro Munhoz tão exposto em suas lutas, em seus sonhos, em seus amores e em suas dores quanto podemos ver neste álbum.

Vamos às nossas impressões, música por música:

“Papo Reto” abre os trabalhos indo direto ao ponto. É um brado de revolta contra a condição do isolamento e o abandono dos mais pobres relegados à própria sorte para lutar contra a miséria e tentar se proteger do vírus: “Ninguém se abraça, ninguém se aproxima, pessoas com medo, portão cadeado” diz o refrão, que cutuca fundo na ferida afirmando que “A falta de tudo é pauta, é matéria... A Fome a miséria, as Leis do mercado”. Aqui temos o Pedro guerreiro, lutador que coloca sua voz, seus versos e seu violão a serviço da denúncia contra as escolhas erradas daqueles que estão no poder e que acabam cobrando em vidas que tombam pela covid ou pela fome, assassinadas em um genocídio praticado a partir de um líder inconsequente.

Ouça e baixe neste link: https://www.palcomp3.com/pedromunhozoficial/papo-reto-cd-pedro-munhoz/

A segunda canção, singelamente intitulada “Vê”, traz uma reflexão sobre a temporalidade, enaltecendo as coisas simples que valem a pena mais do que “ter razão”. É a evocação do sentido do “ser” que deveria ser colocado em evidencia frente ao “ter”, mas nem sempre acontece assim. “Vê toda tarde quando o sol se vai, a noite ensina quando a lua sai. E eu, da janela do apartamento vou desfiando todo o sentimento, vou aprendendo aquilo que eu não sei”. É Pedro humano, frágil, homem que sangra e chora, que erra e que como todos nós busca o direito sagrado de recomeçar.

Ouça e baixe neste link: https://www.palcomp3.com/pedromunhozoficial/ve-pedro-munhoz/

“Não quero nada” entra na terceira faixa, demarcando o espírito libertário do trovador que fez a vida correndo mundo, buscando histórias para cantar, enfrentando as contradições do homem que sonha sim, que aposta sua fé e sua esperança em cada passo adiante, passos que vez ou outra acabam tropeçando. Ao mesmo tempo que o violão acelera numa crescente viva, a poesia segue carimbando um tom de melancolia que reflete as perdas – e foram tantas! – de um período histórico onde todos saímos de alguma forma despedaçados, buscando libertar-se das amarras e ao mesmo tempo agarrando-se aos clichês que nos chamam a seguir em frente.

Ouça e baixe neste link: https://www.palcomp3.com/pedromunhozoficial/nao-quero-nada-pedro-munhoz/

“E foi assim” é um retrato singelo e forte do momento de Munhoz, uma típica canção de despedida que poderia ser dirigida a um amor que encerra sua jornada ou a um projeto que não se pode realizar. É uma canção bela e dolorida, que rasga o coração de quem ouve assim como visivelmente está rasgando daquele que canta. “O mundo lá fora, o ir embora, tanta saudade. O amor implora, vida ignora, realidade!” expressa com lirismo e dor a face refletida no espelho das águas que se deforma conforme as lágrimas caem e fazem a água ondular.

Ouça e baixe neste link: https://www.palcomp3.com/pedromunhozoficial/e-foi-assim-pedro-munhoz/

Hora de sorrir. A quinta canção mostra como é possível morar dentro de um abraço. Abraços que tanto fizeram falta ao artista, quanto a cada um de nós que escreve ou lê esta crítica. Pedro canta o abraço que é o antídoto ideal para tempos de ódio e materialismo que afastam uns dos outros mais do que os protocolos de enfrentamento à pandemia. “Minha casa é teu abraço” é uma canção de amor à mulher amada e ao mesmo tempo uma ode de amor à vida, é uma chama que afirma com palavras rimadas que sempre havemos de ter motivos para lutar e resistir enquanto soubermos encontrar morada no abraço de alguém ou de alguéns que povoam de cores e sensações aos nossos enredos.

Ouça e baixe neste link: https://www.palcomp3.com/pedromunhozoficial/minha-casa-e-teu-abraco-pedro-munhoz/

A sexta canção é um bonito registro do Pedro andarilho que há pouco mais de três anos deixou o sul e suas estéticas para abrigar-se no sertão nordestino, abraçado por suas paisagens, suas gentes e sua cultura. Na canção “Toada distante”, cantando um personagem, canta a si mesmo; encantando um enredo imaginário que de certa forma encanta a si mesmo dentro de uma história que se apresentava nova. O forasteiro descobre novos cenários, aprende a cantar a saudade e sonhar olhando pra frente, tal como o boiadeiro que ergue a voz conduzindo a boiada, na passada certa que o horizonte dá: “Seus olhos buscavam respostas, a estrada de novo a lhe perguntar” canta Munhoz antes de erguer a voz chamando e perguntando “Iê boi, quem vem lá?!”

Ouça e baixe neste link: https://www.palcomp3.com/pedromunhozoficial/toada-distante-pedro-munhoz/

Distante do sul que lhe forjou o início da carreira e da luta, Pedro Munhoz arrisca encerrar seu diário de canções trazendo ao palco uma milonga, mais precisamente “Milonga e eu”. Relembra o caminho que vai do Pampa ao Sertão, percorrendo um “Brasil sem fim”. É cancioneiro compassado, versos marcados que firmam a voz de quem está novamente com o pé na estrada evocando as bandeiras da solidariedade e da igualdade, levadas consigo junto do estojo do violão, “de boa, sereno, seguindo conselhos do coração”. Esta última canção fecha o álbum, mas deixa aberta a porta de casa. É cantiga de quem quer seguir peleando e que apesar de tanta dor sentida, vivida, assistida, ainda crê que a utopia vale a pena e nela centra o foco e direciona o passo.

Ouça e baixe neste link: https://www.palcomp3.com/pedromunhozoficial/milonga-e-eu-cd-pedro-munhoz/

As canções estão todas disponíveis gratuitamente para download no perfil de Pedro Munhoz no portal Palco Mp3 e também em álbum completo no seu canal do Youtube. Este projeto, conforme registrado por Munhoz, só foi viável devido ao apoio da organização Mundukide, do País Basco.

Vale a pena? Sim e como vale! “Diário de canções” não é apenas um ótimo álbum que mostra a maturidade de um artista singular, que por escolha própria preferiu cantar entre os pequenos do que vender uma fração da alma para subir nos grandes palcos. É um disco lindo e necessário, para conhecer Pedro, mas também para conhecer a si mesmo neste verdadeiro espelho em forma de canções.

Assista a gravação da Live de lançamento do CD

 

Pedro Munhoz Live de Lançamento do CD Diário de Canções. 27/07 - 21 h

Posted by Pedro Munhoz on Wednesday, July 27, 2022

 

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Marcelo Ferreira