Rio Grande do Sul

ARTE E CULTURA

Fotógrafo indígena realiza exposição no Projeto Potência da Galeria Ecarta

Vherá Xunú é fotógrafo e cineasta e apresenta a exposição “O olhar de Xunú - Fotografia da resistência”

Brasil de Fato | Porto Alegre |
“Fotografar a cultura do meu povo é resistência. É dar visibilidade ao nosso modo de ser e às nossas lutas para existir”, resume Xunú - Foto: Josemar Martins

O fotógrafo e cineasta indígena Vherá Xunú realiza a exposição “O olhar de Xunú - Fotografia da resistência” no Projeto Potência da Galeria Ecarta. A abertura da mostra ocorre nesta quinta-feira (23), às 19h, e fica em cartaz até 23 de abril, na sede da Fundação Ecarta (Avenida João Pessoa, 943, em Porto Alegre).

Para Xunú, fotografar a cultura de seu povo é uma forma de resistência. "É dar visibilidade ao nosso modo de ser e às nossas lutas para existir”, resume.


“Quero trazer a vida do meu povo com o meu olhar. Por isso vou continuar fotografando”, pontua Vherá Xunú / Foto: Josemar Martins

Com 30 anos, o nome de Xunú remete aos guardiões. Esta será sua primeira exposição individual desde que iniciou, há sete anos, seu interesse por registrar a vida de seu povo, os Mbya Guarani. Sua vontade de fotografar nasceu na escola, durante um projeto sobre vídeos.

Compreendeu a importância de alguém do próprio povo registrar os costumes de sua gente a partir da sua cosmovisão, e não captados por não-indígenas (juruá). “Quero trazer a vida do meu povo com o meu olhar. Por isso vou continuar fotografando”, pontua.

Visibilidade para a proteção

Nesta seleção estão cerca de 20 fotografias coloridas de cenas cotidianas da sua aldeia Tekoá Pindó Mirim, em Viamão (RS), onde vivem 25 famílias.

Os costumes e espaços sagrados, como a casa de reza (opy), o petynguá – o cachimbo guarani usado tanto para fumar tabaco ou como objeto ritualístico, a confecção de cestaria em bambu, os animais entalhados em madeira e a venda de artesanato no centro da capital estão entre as imagens captadas.


Os costumes e espaços sagrados, como a casa de reza (opy), o petynguá – o cachimbo guarani usado tanto para fumar tabaco ou como objeto ritualístico, estão entre as imagens captadas / Foto: Vherá Xunú

Manifestações pela demarcação de terras e a luta pela rejeição do PL 490/2007 do marco temporal também são parte dos registros da mostra que tem curadoria da jornalista Stela Pastore.

Genocídio e reparação

O Censo IBGE 2010 identificou mais de 305 povos indígenas, somando cerca de 900 mil pessoas. As recentes imagens da precariedade do povo Yanomami, mais uma vez explicitaram a insuficiência de políticas públicas de proteção aos povos originários e – neste caso – há denúncias de genocídio com a conivência do Estado brasileiro no período do último governo.

No Rio Grande do Sul estima-se aproximadamente 33 mil indígenas, sendo cerca de 30 mil Kaingang, aproximadamente três mil Guarani e alguns remanescentes Charrua e Xokleng, com 29 áreas demarcadas em 41 municípios. Com 19 territórios em análise para possível demarcação, o RS tem o maior número de áreas em estudo entre todos os Estados.

Segundo o Mapa Guarani Continental, ao menos 280 mil pessoas, ao longo de 1,4 mil comunidades em quatro países diferentes – Argentina, Bolívia, Brasil e Paraguai – compartilham uma língua e cultura comuns: o Guarani.

O guatá (caminho) do guardião

Em sua caminhada para ser fotógrafo, Xunú estudou na Luz – Escola de Fotografia. Em 2016, foi convidado a fazer parte do grupo de Comunicadores Mirim da Comissão Yvyrupa, em que trabalhou durante três anos divulgando, fotografando e filmando eventos Guarani.


Manifestações pela demarcação de terras e a luta pela rejeição do PL 490/2007 do marco temporal também são parte dos registros da mostra do fotógrafo Vherá Xunú / Foto: Vherá Xunú

Seu primeiro filme curta-metragem se chama “Perigo na Mata” (2016), e fala do fortalecimento da vida dos Mbya Guarani. Seu último lançamento foi “O despertar do divino Sol” (2019), onde trata da lentidão para demarcar as terras indígenas. Participou da Mostra de Arte Aberta de Porto Alegre, MAAPA 2021, e da Exposição Retrato de Família realizada pelo Goethe Institut, na Galeria de Arte do DMAE, 2022.

Em 2021 foi protagonista do documentário curta-metragem “O olhar de Xunú”, com roteiro e direção de Josemar Martins, executado com recursos da Lei Aldir Blanc que pode ser visto no Youtube.

 

Projeto Potência

A exposição “O olhar de Xunú” ocupa o novo espaço de exposições da Fundação Ecarta no segundo andar do prédio, proposto pelo coordenador da Galeria Ecarta, André Venzon. A realização da mostra neste período do ano também é alusiva ao mês de abril, em que se comemora o Dia dos Povos Indígenas.

Neste período, que também contempla o aniversário de Porto Alegre, a Galeria está com duas exposições, integrando uma artista urbana – Carla Barth com a mostra o Bloco do Afeto – e um artista Guarani. “Esta interligação é bem salutar porque são artistas que trabalham mais à margem dos espaços institucionais e estamos incluindo estes olhares”, completa Venzon.


Xunú compreendeu a importância de alguém do próprio povo registrar os costumes de sua gente a partir da sua cosmovisão, e não captados por não-indígenas (juruá) / Foto: Vherá Xunú

A Fundação Ecarta inaugurou o Projeto Potência em 2022 ofertando uma nova sala para mostras, ampliando a variedade de exposições, unindo pesquisa e difusão de arte contemporânea. O novo espaço reforça a produção de jovens artistas e estimula o debate sobre as linguagens visuais e temas atuais. Nesta primeira temporada mostraram seus trabalhos os artistas Leonardo Lopes, Valéria Barcellos, Pedro EMCB, Kami Bouviet e Artur Ferreira.

* Com informações da Fundação Ecarta.


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Edição: Katia Marko