O Dia Nacional da Visibilidade Lésbica é comemorado em 29 de agosto e foi criado em 1996 durante o 1º Seminário Nacional de Lésbicas (Senale) no Rio de Janeiro. O objetivo do seminário era discutir a existência das mulheres lésbicas, as violências que sofrem e as pautas que reivindicam, como direitos, dignidade, visibilidade, acesso à saúde e liberdade de expressão da sexualidade.
O evento foi um marco histórico fundamental no movimento lésbico no Brasil, pois deu início à luta pelos direitos das lésbicas e por dignidade.
Levante do Ferro's Bar, em SP no ano de 1983 / Acervo Folha de São Paulo
O mês de agosto é considerado também o Mês da Visibilidade Lésbica e tem outra data marcante, o Dia do Orgulho Lésbico, comemorado a 19 de agosto. Esta data surgiu após a primeira grande manifestação de mulheres lésbicas no Brasil: o Levante do Ferro`s Bar, em SP no ano de 1983.
À época, o folhetim ChanaComChana, a primeira publicação noticiosa lésbica no Brasil, era produzida de forma independente pelas ativistas do Grupo de Ação Lésbica Feminista (GALF, 1981-1990) e circulou entre os anos 1981 e 1987 nos bares da capital paulista.
As ativistas lésbicas iam ao Ferro's vender o jornal, mas em 23 de julho de 1983, em uma dessas ações, o dono do Ferro's Bar mandou expulsar as ativistas do GALF, alegando que elas importunavam os clientes com suas intervenções e a venda do jornal. O porteiro agiu com violência, o que gerou indignação e ajudou a mobilizar uma frente de ação contrária à entrada das ativistas no bar.
Então, no dia 19 de agosto daquele ano, as militantes do GALF, unidas a outros grupos ativistas feministas, gays, políticos e defensores de direitos humanos simpatizantes à causa lésbica, se mobilizaram e organizaram um protesto contra a opressão e pelo fim às expulsões arbitrárias e violentas recorrentes. O evento ficou conhecido como o “Stonewall lésbico brasileiro”, em referência à histórica rebelião da comunidade LGBT ocorrida nos EUA em 1969.
Em Porto Alegre, diversos coletivos se unem para dar seguimento a essa luta por direitos. Conversamos com Cris Bruel, psicóloga, coordenadora da ONG Coletivo Feminino Plural, uma organização feminista com atuação desde 1996 para garantir cidadania e direitos humanos à meninas e mulheres, e Priscila Leote, também psicóloga, coordenadora da ONG Outra visão, que trabalha com a pauta LGBTQIAPN+. Priscila é uma das organizadoras da 15ª Visibilidade Lésbica em Porto Alegre e uma das idealizadoras do 3º Ocupa Sapatão.
Brasil de Fato RS - Em sua 15ª edição, porque se faz importante ter uma Visibilidade Lésbica?
Cris Bruel - Partindo de uma perspectiva feminista, realizar a 15ª Visibilidade Lésbica é levar às ruas a pauta das resistências lésbicas frente ao constante apagamento e invisibilidade produzidos pelo sistema patriarcal com suas bases machistas de caráter misógino e conservador que impõe sua lógica pautada na norma da heterossexualidade compulsória como uma forma de existência.
BdF RS - O que tem mudado no cenário político para as lésbicas, especialmente no Sul do país? Que tipo de políticas públicas poderiam melhorar a qualidade de vida das mulheres lésbicas?
Priscila Leote - Nos últimos anos, o cenário político para lésbicas tem experimentado algumas mudanças, embora o ritmo e a natureza dessas mudanças possam variar regionalmente, especialmente no Sul do Brasil. No cenário geral, houve um aumento na visibilidade e na luta por direitos, porém temos um aumento de 400% de lesbocídios no país, registrado pelo lesbocenso, a saúde continua sendo um direito pouco acessível. Esses desafios persistem, e as políticas públicas específicas para melhorar a qualidade de vida das mulheres lésbicas ainda são limitadas.
BdF RS - Infelizmente, o lesbocídio ainda é uma triste realidade no meio, apontando um viés de vulnerabilidade específico dessa população. Que medidas poderiam ser tomadas para conter o crescimento desses casos?
Cris Bruel - O lesbocídio é uma arma cruel do patriarcado que se usa de todos os efeitos dos preconceitos para banir as lésbicas da esfera da vida. Segundo o dossiê do lesbocídio: “A falta de dados é tamanha que não há como traçar uma estatística fiel sobre o número de mortes lesbofóbicas”. Me parece que as medidas necessárias são aquelas que vão na direção ao enfrentamento de toda forma de preconceito através de processos educativos e políticas públicas de enfrentamento.
A caminhada histórica e o ato de rua são momentos cruciais para a afirmação da identidade lésbica e para a construção de um movimento mais visível e unido / @jornadalesbica
BdF RS - Nesta edição da Jornada e da Ocupa Sapatão haverá uma programação bastante variada - ato, cine debate e feira. Quais destaques podemos dar para essa agenda?
Priscila Leote - A entrada da 15ª Visibilidade Lésbica na agenda da Jornada Lésbica em Porto Alegre é, sem dúvida, um marco significativo. Esse evento representa uma importante oportunidade para a visibilidade e o reconhecimento da história e das lutas das lésbicas na cidade. A exibição de filmes como o "Ferro's Bar", acompanhada de debates com figuras históricas lésbicas, oferece uma chance valiosa para refletir sobre o passado e discutir o presente e o futuro da comunidade.
A caminhada histórica e o ato de rua são momentos cruciais para a afirmação da identidade lésbica e para a construção de um movimento mais visível e unido. Essas ações destacam o caráter dinâmico e resiliente da comunidade lésbica, enfatizando o lema de "Somos sapatão e estamos sempre em movimento". Essas manifestações não apenas celebram conquistas, mas também reforçam a necessidade contínua de ativismo e de visibilidade.
Esses eventos culturais e políticos são fundamentais para a luta por igualdade e para a promoção de uma sociedade mais inclusiva, além de fortalecer o senso de comunidade e pertencimento entre as mulheres lésbicas.
Confira a programação completa:
📅 Dia 29/08 (quinta-feira)
🗣 ️Concentração, às 17h, e Ato Político, às 18h.
Local: Esquina Democrática
📅 Dia 30/08 (sexta-feira)
🎥 Cine Debate, às 19h, com Atividade Gratuita (prioridade de ingressos para mulheres lésbicas)
Local: Cinemateca Capitólio
Será exibido o curta Ferro's Bar, dirigido pelo Cine Sapatão, seguido de um bate-papo com Roselaine Dias e Leila Lopes, com mediação de mariam pessah. 🎞️💬
📅 Dia 31/08 (sábado)
🏳️🌈 3º Ocupa Sapatão e 15ª Visibilidade Lésbica, às 14h.
Local: Praça do Aeromóvel
Edição: Katia Marko