Depois de cerca de 90 dias trabalhando em ações de atendimento emergencial e mapeamento de atingidos nas áreas rurais, os voluntários e voluntárias da Missão Sementes de Solidariedade começam a retornar até os pequenos agricultores e agricultoras - de matriz familiar e camponesa - cadastrados para entregar kits de sementes e mudas para reestruturação dos cultivos de subsistência.
A campanha solidária conta com a participação de 23 organizações entre movimentos sociais e pastorais, cooperativas, pastorais religiosas, sindicatos e organizações populares e ainda está mobilizando recursos e doações. Porém segundo os organizadores, já tem condições de começar a fazer de forma satisfatória os primeiros retornos às áreas atingidas.
“A primeira fase foi justamente lançar a arrecadação de doação de recursos e de sementes, enquanto os voluntários percorreram os territórios atingidos, visitando as famílias e fazendo os cadastros”, explica Frei Sérgio Görgen, diretor do Instituto Cultural Padre Josimo e um dos idealizadores da Missão.
“Nessa jornada, em contato com nossos irmãos e irmãs atingidos e atingidas nós nos transformamos, vamos nos tornando mais sensíveis, mais solidários. Vamos compreendendo que a semente é um símbolo mais relevante que a sua representação física, ela representa uma espécie de ressurreição: assim como uma semente vai para a terra, nasce e frutifica, a pessoa atingida também precisa renascer, se reconstruir, se refazer depois dessa situação difícil que viveu.”
Desafio requer grande capacidade solidária
A segunda fase, explica Görgen, foi a mobilização das sementes, mudas, ramas e demais itens que vêm de diferentes locais e precisam ser organizadas e preparadas para chegar até os atingidos e atingidas. “É um desafio logístico muito grande, um material delicado que precisa ser bem cuidado, transportado, preparado e embalado, receber as orientações para sua utilização correta, é um trabalho silencioso que muitas vezes não aparece, mas que envolve muita gente e que mais uma vez desperta a necessidade de uma grande organização e de uma grande capacidade solidária.”
Agora, na terceira fase, as sementes chegam até as famílias, nas comunidades. "Mas é importante a gente dizer que o trabalho não encerra aqui, a mobilização continua e precisamos continuar chamando a todos e todas que estão dispostas a seguir contribuindo ou trabalhando para que sigam ativos conosco porque o desafio a ser superado ainda é muito grande”, conclui.
Até o momento a campanha arrecadou através de doações financeiras cerca de R$ 1,2 milhão. Estes valores ficam sob gestão da Cáritas, organização de ação social vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Entre aquisições e doações, até o momento já está mobilizada a quantia de 45 mil quilos de sementes de milho (crioulo e varietal), 15 mil quilos de sementes de feijão (preto e carioca), 6 mil quilos de sementes de arroz de sequeiro, 1,8 mil quilos de sementes de arroz irrigado, 33 mil sachês de sementes de hortaliças diversas, 2 mil quilos de sementes de pastagens, 6 mil mudas de pastagens perenes, 6 mil mudas de batata-doce de diversas variedades para multiplicação, 6 mil fetiches de ramas de mandioca e 100 mil mudas de árvores frutíferas e nativas.
Jacira Ruiz, da Cáritas RS, expressa seu agradecimento para as “empresas, pessoas, movimentos e organizações sociais que acreditaram na proposta de levar sementes, levar esperança, levar solidariedade a tantas famílias que ficaram devastadas a partir dos desastres de setembro de 2023 e de abril de 2024”. Ela explica que a campanha atual superou a edição passada, mas que é preciso levar em conta também que os desafios atuais estão sendo muito maiores.
“Esse tempo, findando o inverno e iniciando a primavera, é tempo de semear. É tempo de esperançar no coração das famílias que vivem da agricultura familiar. Por isso, nas próximas semanas vamos estar fazendo um esforço intensivo de entregas nos municípios que foram visitados pelos voluntários e voluntários dessa missão.”
"Ainda há muito chão a ser percorrido"
O trabalho de campo até o momento envolveu mais de 150 voluntários e voluntárias, que percorreram mais de 250 comunidades em 23 municípios, chegando próximo a 3 mil famílias visitadas. “Ainda há muito chão a ser percorrido, muitos atingidos e atingidas onde ainda não conseguimos chegar para preencher os cadastros e ter conhecimento das necessidades e queremos ressaltar que o começo das entregas dos kits não significa que os esforços de visitação vão cessar, continuaremos percorrendo as estradas e chegando nos territórios até que tenhamos força e recursos para fazer”, garante Frei Sérgio.
Os últimos dias têm sido de muito trabalho na Unidade de Beneficiamento de Sementes Crioulas Gilberto Tuchtenhagen, estrutura que é mantida pela Cooperativa Origem Camponesa e pelo Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) em Encruzilhada do Sul (RS). Josuan Schiavon, dirigente responsável pela unidade, explica que ali estão sendo realizados os processos de recebimento e preparação das sementes crioulas produzidas pelos guardiões e guardiãs vinculados aos movimentos camponeses, bem como estão sendo recebidas e armazenadas as sementes que têm sido adquiridas pela campanha ou doadas por empresas e vem chegando através de remessas de todo país. Ali são as sementes são separadas, preparadas, embaladas e recebem as orientações técnicas adequadas para serem enviadas aos agricultores.
Roteiro de entregas
As primeiras entregas estão previstas para o município de Arroio do Meio, na quarta-feira (11). Às 9h da manhã será realizado o ato no salão da comunidade de Forqueta Baixa, enquanto às 13h30 será realizado no Campo do Pituca, em São Caetano.
O segundo dia de entregas contempla dois atos em Travesseiro, na quinta-feira (12). Às 9h no Clube Esportivo Travesseirense e às 13h30 no salão da comunidade Três Saltos Baixo.
O terceiro dia de entregas desta semana acontece em Gramado Xavier. Ali o ato se dará às 16h de sexta (13), ao final de um seminário sobre ervas medicinais e saberes tradicionais, que estará sendo realizado na Cabana dos Servidores Municipais.
Em todos os atos de entrega dos kits de sementes e mudas devem acontecer atos de partilha e benção das sementes, bem como apresentações culturais.
Vinte e três organizações participantes
Tendo em sua cabeça de rede a Cáritas, o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e o Instituto Cultural Padre Josimo (ICPJ), a Missão Sementes de Solidariedade vem agregando o apoio de diferentes organizações desde o início de sua atuação. Atualmente conta com a participação das seguintes organizações e movimentos:
Movimento dos Atingidos e das Atingidas por Barragens (MAB), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Diocese de Santa Cruz do Sul, Rede de Agroecologia Ecovida, Articulação pela Economia de Francisco e Clara, Gritos dos Excluídos, Instituto Conhecimento Liberta (ICL), Instituto Koinós, Freis Franciscanos (Serviço Justiça Paz e Integridade da Criação), Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras), Sindicato dos Petroleiros (Sindipetro-RS), Canoas Tec, Movimento dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Sem Teto (MTST), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Eletrobras. Também fazem parte da Missão as cooperativas Certel, Cooperbio, Origem Camponesa, Coptil e Creluz.
Campanha de arrecadação segue em curso
Doações podem ser encaminhadas para o PIX da Cáritas, com a chave: 33654419.0010-07 (CNPJ). Outra possibilidade de colaboração se dá por meio de depósito bancário para a Conta Corrente: 55.450-2 / Agência 1248-3 (Banco do Brasil).
Os recursos e a mobilização estão sendo diretamente administrados pelo escritório regional da Cáritas no Rio Grande do Sul, que raliza prestações de contas continuadas.
Edição: Marcelo Ferreira