“Falta de competência”, “transferência de responsabilidade”, “falta de coragem”, “ingrato”, “corrupção”, “retrocesso na educação”, “ônibus pegando fogo”. Não faltaram críticas ao prefeito Sebastião Melo (MDB) ou a sua gestão no mais recente debate das eleições em Porto Alegre neste domingo (8).
Desta vez, além de Maria do Rosário (PT) e Juliana Brizola (PDT), ele sofreu ataques também pela direita através de Felipe Camozatto (Novo). O chefe do Executivo, que é apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), teve que, em certo momento, admitir “nem tudo está resolvido”.
Já nos primeiros minutos, a discussão acendeu com Rosário. Ela mirou no prefeito e no desaparecimento do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP). Até ser extinto em 2017, na gestão tucana de Nelson Marchezan Jr. e com o apoio da bancada de Melo, o DEP funcionava como o serviço técnico capaz de proteger ou minimizar a destruição provocada na cidade pelas inundações. Como a de maio deste ano que fez Porto Alegre colapsar.
“Vou criar um novo DEP”
“Vou criar um novo Departamento de Esgotos Pluviais, o DEP. Não vou gastar nada demais porque, caro mesmo é não ter prevenção. Quando não tem prevenção, tudo estraga, a cidade perde tudo, mais de 90 mil moradias, negócios, vidas, tudo que se perdeu aqui custou caro”, avançou a candidata. Seria “um DEP sério e não aquele da corrupção que aconteceu nos governos recentes”.
Escalado para comentar as palavras de Rosário, Melo alegou que fez tudo o que poderia, retomando seu argumento principal: a estrutura de proteção da cidade é da década de 1970 e “e se mostrou insuficiente para a quantidade de chuva que chegou na bacia do (rio) Guaíba”. Repetiu que busca soluções “e não culpados” e, novamente, queixou-se do governo federal que não o estaria auxiliando.
“Não podemos correr o risco de nova enchente”
A candidata do PT considerou que, ao dizer que fez tudo o que poderia, o prefeito admite que “não fará nada melhor”. Acusou o candidato do MDB de querer privatizar o Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE) e de destruir o serviço público, o que estaria levando a cidade a uma séria crise.
“Não podemos correr o risco de uma nova enchente que venha a dizimar o que as pessoas estão construindo”. E alfinetou: “é interessante ele que diga que não procura culpados quando é o próprio culpado ou, pelo menos, um deles”.
“Só promessas, promessas e promessas”
Camozatto atacou Rosário e os governos petistas revivendo os casos do “mensalão” e do “petrolão” e condenou a proposta de recriar o DEP, descrevendo o departamento como um lugar de corrupção. “Você quer recriar o DEP para quê? Para seu partido voltar a roubar?”, provocou.
“Ao que me consta, houve roubo no DEP quando alguém vinculado ao senhor é que estava no DEP. Ramiro Rosário (ex-secretário municipal, filiado ao Novo), alguém assim?”, revidou a petista.
Afirmando que não recebeu “um centavo” do governo federal, Melo procurou partilhar as responsabilidades pela derrocada com a União e as administrações petistas em Porto Alegre, embora o partido esteja fora do poder na cidade há 20 anos.
Pontuando que “água não tem ideologia”, o emedebista notou que “a água também entrou em São Leopoldo” (cidade da região Metropolitana gerida pelo PT). Porque não falam de Eldorado do Sul, de Canoas, de Muçum?” Quanto ao governo federal, “são só promessas, promessas e promessas”, insistiu.
“Toda semana tem ônibus que pega fogo”
Rosário respondeu que, em São Leopoldo, a água foi removida em uma semana. Em Porto Alegre, ao contrário, bairros como Humaitá, Navegantes, Farrapos, Sarandi, ficaram mais de 30 dias debaixo d´água. “Não tinha nem bombas, não tinha geradores. (O bairro) Menino Deus alagar, gente? O prefeito nem sabia se a bomba estava ou ligada ou não... Era uma confusão. Não tinha plano de contingência...”
“O senhor briga com o Lula, briga com o (governador) Eduardo Leite, briga com todo mundo. Como é que vai governar Porto Alegre brigando com todo o mundo e isolando a cidade?”, reagiu Rosário.
Juliana Brizola disse que o DMAE “teve lucro de R$ 400 milhões em 2023” e, apesar disso “não foi investido um centavo na proteção da cidade”.
Questionado sobre a situação da mobilidade urbana, Melo defendeu a privatização da Carris (empresa municipal de ônibus), dizendo que dava prejuízo, e assegurou que está investindo forte no transporte público.
“Toda semana a gente tem uma notícia de ônibus que pega fogo”, retrucou Juliana, afirmando que a frota está sucateada.
“Em toda cidade (do país) tem problema mas (Porto Alegre) melhorou”, contrapôs o prefeito.
“Caímos para a 26ª posição entre 27 capitais”
Como se não bastasse a bateria de ataques pela esquerda, pela primeira vez Melo foi fustigado também pelo seu flanco direito. “Porto Alegre vem muito mal na educação, especialmente na aprendizagem de Português e Matemática no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Caímos para a 26ª posição entre 27 capitais”, lamentou Camozatto que, na condição de franco atirador, questionou todos os demais concorrentes.
“Somos a penúltima capital no Ideb e não existe desenvolvimento econômico sem educação de qualidade”, cutucou Juliana.
O encontro foi promovido pelo Sindicato Médico do RS (Simers), os portais Terra e Porto Alegre 24 Horas e a rádio Acústica FM.
Edição: Marcelo Ferreira