REPRESENTATIVIDADE

Dilma e Maria do Rosário: luta por mulheres na política deve garantir espaço ao campo popular

Ex-presidenta diz que aumento de cadeiras feminina no Congresso precisa ser acompanhada do fortalecimento dos movimentos

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Dilma: "Nosso governo conseguiu aprovar os direitos para trabalhadoras domésticas, mesmo com forte reação" - Foto: Roberto Stuckert Filho

A ex-presidenta Dilma Rousseff e a deputada federal e ex-ministra de Direitos Humanos Maria do Rosário (PT-RS) debateram, nesta terça-feira (8) a subrepresentação de mulheres na política e como a violência política de gênero é um pilar da desigualdade representativa no Congresso Nacional. O evento virtual, pelo Dia Internacional da Mulher, foi organizado pelo Grupo de Acompanhamento de Temas Estratégicos (Gate) do Instituto Lula.

Tanto Dilma quanto Rosário avaliam que, mesmo após a lei de cotas para diminuir a desigualdade de mulheres nos partidos políticos, ainda há grande sub-representação nas instâncias de decisão. A parlamentar gaúcha lembra que, em 2018, cresceu o número de mulheres no Congresso, mas ressalta que este aumento não tem relação direta com a garantia de mais direitos sociais.

“Em 2018, tivemos mais mulheres eleitas, mas não esqueço que dois anos antes aconteceu um golpe contra uma mulher. Esse crescimento no Parlamento tem relação com a crescente conservadora e figuras que defendem a ideia de “família”. Não basta ter mulher no Parlamento, porque há muitos votos femininos para a destruição dos direitos trabalhistas. Cabe a nós, mulheres, garantir mais espaço às mulheres do campo popular, progressista, que lutem contra a exclusão”, defendeu a deputada federal.

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Para a ex-presidenta Dilma, a garantia de direitos passa necessariamente pelo aumento da representação feminina no Congresso. Entretanto, ela acrescenta que o movimento das mulheres precisa se politizar ainda mais, acompanhado também de uma aproximação com outros movimentos populares. “A garantia de direitos é composta por vários elementos. É preciso se fortalecer politicamente. Nosso governo conseguiu aprovar os direitos para trabalhadoras domésticas, mesmo com forte reação. Mas, pouco tempo depois, o Michel Temer acabou com os direitos trabalhistas”, lembrou.

Violência política contra mulheres

Dilma também abordou como a estrutura atual da política brasileira é violenta contra mulheres que conquistam espaço nas esferas de poder. “A mulher que faz parte da política entra num domínio de poder. Ela sai do espaço privado, o lugar que o patriarcalismo dedicou a ela, e vai para o espaço público, deixa de ser subordinada. E aí vêm a misoginia e os ataques sistemáticos contra mulheres que contrariam essas normais. Começam a ser taxadas de burras, vagabundas, desonestas e até histéricas”, afirmou.

Rosário reafirmou que o Brasil não ultrapassou o patriarcado e a misoginia ataca mulheres que representam um projeto de desenvolvimento de país contrário ao neoliberalismo. “O Brasil naturaliza a violência e o feminicídio e nós fazemos o caminho contrário do país que eles tanto desejam. Enquanto existir desigualdade, nós lutaremos contra esse modelo de violência. Inclusive, essa violência de gênero na politica teve seu ápice quando uma mulher foi deposta num golpe misógino”, acrescentou.

Dilma disse acreditar que para a questão das das mulheres na política exige práticas transversais, que vão além de políticas públicas. “Precisamos estar em todas as áreas para lidar com as diferenças em todas as frentes. O objetivo do golpe foi enquadrar o Brasil. O crivo deles passa por um processo de você ser mulher e representar um projeto contrário a eles. A partir disso, você é transformada em inimiga”, criticou.

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Avanços políticos

O debate organizado pelo Instituto Lula também abordou como as mulheres, quando estão nos espaços políticos, são colocadas como agressivas, além sempre de serem direcionadas a espaços de direitos sociais, sendo excluídas de debates sobre economia, por exemplo. Ao falar sobre esse tema, Dilma lembrou que, durante os governos petistas, houve a inclusão nesses espaços.

No governo Lula, eu ocupava o segundo maior ministério, a Casa Civil. No meu governo, a Gleisi Hoffmann ocupou esse mesmo cargo. Inclusive, a Petrobras e a Caixa Econômica também foram dirigidas por mulheres, com Maria das Graças Foster e Miriam Aparecida Belchior, respectivamente. Nos governos do PT, nós buscamos combater a desigualdade, por isso criamos ministérios com foco em temas de gênero e racial”, afirmou ex-chefe da República.

Maria do Rosário, inclusive, citou que os avanços de direitos humanos no Brasil aconteceram por ser um viés de todo o governo. “Nós ainda não compreendemos como foram realizados os governos do PT. Se fala sobre os números, que são positivos, mas houve uma forma de agir. A área de Direitos Humanos não era apenas uma pasta, mas um pilar de todo o governo para superar toda a exclusão”, acrescentou.

A conselheira do Instituto Lula, Juvandia Moreira, ex-presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, mediou a conversa. Já a banca de entrevista foi formada pelas pesquisadoras Ana Paula Guidolin, Beatrice Weber, Helga Almeida, Luciana Ballestrin, Nilce Aravecchia-Botas, Rosemary Segurado e Waleska Miguel Batista.