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Tom Zé conta como combateu ditadura com humor: 'Nunca deixei de lidar com o que me espanta'

Com 87 anos e preparando novo álbum, artista recebeu, em outubro, premiação italiana por carreira musical

Ouça o áudio:

No ano passado, Tom Zé lançou seu mais recente álbum, Língua Brasileira - Divulgação

“Naquele tempo todo compositor brasileiro do meu ambiente era uma pessoa séria que falava sério que estava defendendo o Brasil contra a ditadura e contra a ditadura só se fala no sério.”

Nos anos de chumbo, Tom Zé percebeu que tinha outro inimigo além dos militares. O músico que recém completou 87 anos relembra que seus colegas artistas tinham uma maneira diferente de combater o regime que perdurou 21 anos no Brasil.

“Como é que eu vou imitar um negócio que tem um mal humor filho da mãe? Existe mal humor pior que o da ditadura?”, questiona em entrevista ao programa Bem Viver desta terça-feira (28).

“Enquanto todo mundo que falava, falava muito grosso, porque tinha que ser muito homem para poder ser contra a ditadura. Eu nunca achei isso.”

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A crítica de Tom Zé rendeu uma música, Complexo de Épico presente no álbum Todos os Olhos, que completa 50 anos em 2023.

Todo compositor brasileiro
é um complexado.
Por que então esta mania danada,
esta preocupação
de falar tão sério,
de parecer tão sério
de ser tão sério

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“E essa era a maneira que eu caia em cima da ditadura. Então quando eu falava mal da ditadura, eu juntava uma coisa qualquer em que a ditadura ficava ridícula, ridícula para uma coisa que gerasse riso”, comenta Tom Zé, lembrando que a música Vai (Menina, Amanhã de Manhã), lançada em 1976 no álbum Estudando o Samba, fazia referência, justamente, a essa forma de criticar com ironia

Tom quem?

O humor sempre foi a alma da composição de Tom Zé. O compositor recém voltou da Itália, onde foi receber o Prêmio Tenco, distribuído desde 1974 para artistas que deram suporte à canção autoral mundial. Tom Zé foi o único artista brasileiro condecorado neste ano.

"As maiores coisas que eu recebi foram prêmios de países de outras línguas”, desabafa o compositor. Segundo ele, sua carreira foi marcada pela falta de reconhecimento dos brasileiros com seu trabalho. Na entrevista, ele relembrou a história que fez com que seu álbum mais famoso, de fato, se tornasse famoso. 

“Eu tinha feito um disco, Estudando o Samba, 1976. E eu falei assim, ‘rapaz, eu tô fazendo um disco bom e é capaz de ninguém dar bola para essa banana’. Então eu resolvi fazer uma armadilha.”

‘Cheguei na gravadora e pedi para influenciar na capa do disco. Eles disseram que está bem, está certo. Ai eu fui com a casa que vende material de construção e comprei umas cordas e uns arames farpados”.


Álbum Estudando o Samba foi lançado em 1976 / Reprodução

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“Disco de samba realmente se bota uma praia ou a mulher de biquíni, ou sei lá o que”, brinca Tom Zé explicando o estereótipo do qual queria fugir. De fato, o álbum saiu da maneira que o artista montou. Segundo ele, ao chegar em casa, pôs os materiais em cima da mesa e fez uma composição. O desenho que surgiu virou a capa do álbum, adicionando o título na parte superior.

“Eu achei que aquilo era um pedido de socorro”. As coisas mudaram quando uma ajuda internacional que desembarcou, despretensiosamente, no Brasil

“David Byrne [cantor da banda Talking Heads] conta que foi ao Rio de Janeiro, botar um filme dele no festival que tem no Rio de Janeiro. E ele sempre passava em casa de disco para ver o setor de samba e olhar e ter a curiosidade de comprar alguns”, lembra Tom Zé.

“Ele conta que olhou para os discos brasileiros e de repente viu um disco com corda e arame farpado. Ele achou surpreendente aquele negócio, que é samba com corda e arame farpado. Não dava tempo de ouvir, e ele botou na bolsa dele e levou para Nova York. No dia que o viu, se assombrou, saiu perguntando a todo mundo quem conhecia aquele artista, eu no caso.”

“Ele lançou em Nova York e me levou para lá e aí eu comecei a cantar pra todo mundo, e é por isso que eu estou aqui, entende? E o Brasil, que compra jornal do exterior, começaram a acreditar que eu era artista”, brinca Tom Zé.

Nem tão louco

Trabalhando em um novo disco, Tom Zé é baiano de Irará, cidade no interior do estado, próximo a Feira de Santana, mas que vive em São Paulo há décadas, “desde a época do tropicalismo”, lembra.

“Eu aqui me instalei em Perdizes [bairro na Zona Oeste da cidade] onde virou irará da seguinte maneira: todo mundo me conhece mas, ninguém fala comigo só quem fala comigo é uma outra pessoa que toma coragem”.

Segundo o cantor, as coisas mudaram um pouco desde que foi reconhecido como membro da Academia Paulista de Letras, em setembro do ano passado.

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“Desde que eu entrei na Academia Paulista de Letras de letras aconteceu uma coisa inacreditável: 30% das pessoas começaram a falar comigo. E eu gosto de conversar, eu sou da roça”

“Eu acho que as pessoas achavam que eu era muito louco e ficavam com medo de falar comigo”, divaga Tom Zé. Agora, segundo ele, as pessoas pensam “se ele tá na academia, ele não pode ser tão louco”.

Sobre o novo disco, Tom Zé não abre o jogo. “Eu não posso te dizer, porque se não todo mundo amanhã vai fazer o que eu vou fazer. Até dizer um segredo já é perigoso”, brinca.

A única coisa que revela é que “eu tô trabalhando no disco, onde naturalmente tem uma coisa que o mundo todo tá vendo de uma maneira e que eu tô tentando fazer de como se tivesse mostrando ela nu”.



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Edição: Rodrigo Durão Coelho