Festival de Cinema

44º Festival Internacional do Novo Cinema Latino-Americano começa em Havana

Com quase 200 filmes e forte presença do cinema brasileiro, o festival abre suas portas

Brasil de Fato | Havana (Cuba) |
44 Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano - 44 Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano

Sob o lema "Luz Verde: Ação!", a 44ª edição do Festival Internacional do Novo Cinema Latino-Americano tem seu início em Havana. Entre os dias 8 e 17 de dezembro, a capital cubana será mais uma vez o cenário de um dos eventos cinematográficos mais importantes do continente. 

O festival será aberto oficialmente com Los colonos (2023), o primeiro longa-metragem do diretor chileno Felipe Gálvez. Vencedor do prêmio Fipresci na última edição do festival de Cannes, Los colonos se ambienta na criação de fronteiras traçadas por meio de sucessivos genocídios dos povos nativos do nosso continente. A história se desenrola no início do século XX, durante o deslocamento e a matança dos Selk'nam, um dos povos originais da região da Ilha Grande da Terra do Fogo, no extremo sul do continente. 

Este ano, o festival é dirigido por Tania Delgado Fernández, professora universitária da Faculdade de Artes de Mídia Audiovisual (Famca) e da Universidade das Artes (ISA). Essa é a primeira vez, em mais de quatro décadas, que o festival está sendo dirigido por uma mulher.

Esta 44ª edição do festival homenageia os diretores Max Linder (1883-1925), um dos principais expoentes do cinema mudo; Luis Buñuel (1900-1983), um dos diretores mais influentes da história do cinema, cuja carreira esteve ligada ao movimento surrealista; e o caricaturista cubano Juan Padrón (1947-2020), criador de Elpidio Valdés. 

Um total de 199 filmes de 19 países – selecionados de um total de quase 1800 filmes – serão exibidos durante o festival e competirão nas diferentes categorias do festival. O prêmio principal é o Grand Coral Prize, o prêmio do festival que simboliza os grandes recifes de coral que povoam o Mar do Caribe. Além disso, o Festival é acompanhado por um concurso de roteiros, um concurso de cartazes de filmes e várias palestras e exposições com figuras importantes do mundo do cinema latino-americano. 
 

Este ano, a maioria dos filmes vem do Brasil, da Argentina e do México. A presença da produção cinematográfica brasileira sempre teve um papel de destaque no festival.

Realizada em 1979, a primeira edição do festival concedeu o Grande Prêmio Coral ao cubano Sergio Giral, por sua obra Maluala, e ao diretor brasileiro Geraldo Sarno, por sua famosa obra Coronel Delmiro Gouveia, considerada pela crítica como "a última grande obra do Cinema Novo". Desde então, os diretores brasileiros ganharam o prêmio principal nove vezes no festival de Havana. A última vez que o prêmio foi ganho por um brasileiro foi por Paxton Tyrone Winters, em 2021, por seu filme Pacificado, um drama ambientado na violência da ocupação policial das favelas do Rio.

A maioria dos filmes selecionados para a edição deste ano abordam temas como violência, discriminação e conflitos em torno da diversidade sexual. O principal objetivo do festival, além de ser um espaço de encontro e circulação de filmes realizados em nosso continente, é abrigar uma mostra inclusiva, descolonizadora e comprometida com um olhar emancipatório por meio do cinema. O festival nasceu com a intenção de ser um espaço alternativo às grandes indústrias e aos circuitos comerciais de cinema.

Este ano, o público e os críticos de cinema poderão assistir a vários filmes brasileiros. Entre os selecionados para participar do festival estão Sem Coração (2023), dos diretores Nara Normande e Tião. A história se passa em Alagoas, na década de 1990, onde uma jovem passa seu último verão antes de entrar na universidade. Lá ela ouve falar de uma garota que é chamada de "sem coração" por causa de uma cicatriz profunda em seu peito. Um drama emocional sobre identidade que retrata inseguranças, medos, mas também o amor na adolescência.  

Extraño camino, de Guto Parente, é ambientado nos dias do evento global que marcou todas as nossas vidas, o confinamento devido à pandemia do coronavirus, conta a história de um cineasta que é forçado a ficar em quarentena com seu pai, um homem com quem não fala há 10 anos. Lá, no confinamento desse encontro forçado, estranhos eventos começam a acontecer. 

O multipremiado Pedágio, de Carolina Markowicz, conta a história de uma funcionária de um pedágio que começa a ajudar uma gangue de criminosos a fim de conseguir dinheiro para pagar um centro de "reconversão" para seu filho gay.

Meu nome é Gal, de Dandara Ferreira, que também estará no festival, retrata a trajetória em que a tímida Gracinha se transforma em Gal Costa. Um retrato de uma época cheia de violência onde, em meio da loucura, surge uma das maiores cantoras do Brasil. 

Levante, da primeiro longa diretora Lillah Halla, aborda a espinhosa questão do aborto no Brasil. Com extraordinária sensibilidade, Levante conta a história de uma jovem adolescente que, depois de engravidar, decide viajar para o Uruguai para interromper a gestação (país onde o aborto é legal desde 2012). 


 

Edição: Thalita Pires