Rio Grande do Sul

Indigenas sob risco

Em nota, Cimi denuncia o extermínio programado dos povos isolados

Para o Cimi está em curso o extermínio programado dos povos indígenas livres ou em situação de isolamento voluntário

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |

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Isolados Yanomami
Isolados Yanomami - CGIRC - Funai

Existem no Brasil registros de 114 povos indígenas isolados, dos quais apenas 28 são confirmados pela Funai. De acordo com a nota divulgada pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), nessa terça-feira (12), 21 terras indígenas com registros da presença de povos isolados registraram invasão, seja por madeireiros, garimpeiros, grileiros, caçadores, pescadores e extrativistas vegetais. Os dados levantados compõe o Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil, e compreendem o período de janeiro e novembro deste ano. Para o Cimi está em curso o extermínio programado dos povos indígenas livres ou em situação de isolamento voluntário no Brasil.

“Não se trata tão somente de uma omissão do governo federal, mas de sua ação deliberada para permitir que esses povos sejam massacrados. Faz parte desse plano criminoso e genocida a desconstrução de todo o sistema de proteção da Fundação Nacional do Índio (Funai), ao mesmo tempo que, ora de forma velada, ora de forma explícita, respalda os invasores de seus territórios”, afirma a nota. O levantamento não engloba os territórios com a presença desses povos onde não há nenhuma providência em termos de demarcação e proteção de suas terras.

Conforme aponta a nota, a estratégia de extermínio e genocídio se torna ainda mais evidente já que, de acordo com a entidade o governo conhece a situação de vulnerabilidade em que se encontram esses povos, a fragilidade que têm para se defender e a liberdade de ação de criminosos em regiões sem a presença protetiva do Poder Público. “Os povos indígenas isolados, assim como os demais povos indígenas e comunidades tradicionais, a própria Floresta Amazônica e tudo que nela habita e seus aliados e defensores, não só são considerados como obstáculos, mas como inimigos a serem combatidos, vencidos ou destruídos, na medida em que atrapalham ou oferecem resistência aos planos governamentais”, ressalta.

Na avaliação do Cimi, o governo fecha os olhos para o que está acontecimento em detrimento a interesses de latifundiários. “ Uma vez limpo o caminho, estão dadas as condições para a apropriação das terras por latifundiários para a produção de commodities agrícolas e para que empresas promovam o saque das riquezas naturais da região, como a exploração mineral, inclusive pelo garimpo, que o governo pretende liberar nas terras indígenas”, ressalta a nota que complementa que tal ação permite o extermínio da sociobiodiversidade da Amazônia, e que precisa ser detida.

 

Alguns dos casos registrados

Na Terra Indígena Vale do Javari (AM), uma das maiores terras indígenas demarcadas do país, com mais de 8 milhões de hectares, e com concentração do maior número de povos indígenas isolados no país, com 18 registros , de dezembro de 2018 até o momento já aconteceram cinco ataques a tiros contra a Base de Proteção Etnoambiental do Rio Ituí-Itacoaí denunciados pela União das Nações Indígenas do Vale do Javari (Univaja) e confirmados pelos funcionários da Funai que trabalham nessas bases.

Em setembro deste ano, o servidor da Funai Maxciel Pereira dos Santos foi assassinado em Tabatinga, no Amazonas, provavelmente devido ao seu trabalho de fiscalização na Base do Rio Ituí-Itacoaí. Segundo registra a nota, missionários fundamentalistas, inclusive estrangeiros, estão entrando na TI Vale do Javari sem autorização dos povos indígenas e desrespeitando as medidas de proteção da Funai, colocando em sério risco a sobrevivência desses povos isolados.

Paulo Paulino Guajajara, guardião da floresta, foi assassinado a tiros, em 1 de novembro, numa emboscada executada por invasores no interior da Terra Indígena Arariboia (MA), habitada pelo povo Guajajara e grupos isolados Awá-Guajá. Laércio Guajajara, que acompanhava Paulo Paulino, sofreu uma tentativa de homicídio ao ser atingido por dois tiros: um no braço e outro nas costas. “A Terra Indígena sofre com a invasão de madeireiros e caçadores há anos. São indivíduos que se sentem à vontade para atacar os indígenas no interior de suas terras e são uma grande ameaça aos grupos isolados”, expõe o Cimi.

Na Terra Indígena Inãwébohona, localizada na Ilha do Bananal, no dia 9 de outubro, foram avistados oito indígenas isolados por um brigadista do PrevFogo durante ação de combate a um grande incêndio florestal. Após confirmada as informações de indígenas da região e do Cimi, insistentes pedidos e repasses à Funai para que as necessárias medidas de proteção fossem adotadas, contudo nada foi feito. “As autoridades, apesar do evidente risco que corre esse povo isolado devido ao grande número de invasores explorando as riquezas naturais nessa Terra Indígena e dos grandes incêndios no período seco, e mesmo provocadas a agir pelo Ministério Público Federal (MPF), se mantêm em silêncio”.

Em carta aberta, endereçada à sociedade brasileira e autoridades competentes, no dia 06 de novembro, o conjunto de servidores lotados nas Frentes de Proteção Etnoambiental (FPEs) da Funai http://midianinja.org/news/indigenistas-da-funai-lancam-carta-aberta-em-defesa-da-protecao-de-indios-isolados/ saíram em defesa da proteção dos índios isolados manifestando preocupação diante da situação atual que ameaça a vida dos povos indígenas isolados.

Para o Cimi, os povos indígenas isolados, que se deslocaram para os lugares mais inacessíveis da Amazônia para fugir da violência das frentes de expansão econômica capitalista e para manter a sua liberdade, têm direito à vida, a seus territórios e o respeito à opção que fizeram, assegurados pela legislação brasileira e pelos Tratados e Convenções Internacionais dos quais o Brasil é signatário. “A ninguém cabe desrespeitá-los, muito menos aqueles a quem foi confiado a responsabilidade de zelar pelo seu cumprimento”.

 

*com informações do Cimi

Edição: Marcos Corbari