Pressionado a adotar a prescrição de cloroquina para os doentes de covid-19, ainda nos primeiros sintomas da doença, o médico Nelson Teich pediu demissão antes de completar um mês no Ministério da Saúde. Um mês atrás Bolsonaro forçou a demissão de Nelson Mandetta, que tinha uma equipe técnica que defendia o isolamento social como única defesa possível contra a coronavírus enquanto não existem medicamentos nem vacina para conter essa pandemia.
Conforme dez entre dez cientistas respeitáveis no planeta, a única atitude possível de barrar o avanço rápido da doença é o isolamento social, tese comprovada pelos números da maioria dos países que agora estão lentamente retornando às atividades econômicas. A Suécia, atual modelo defendido por Bolsonaro, não fez restrições à circulação de pessoas, mas teve a mortalidade mais elevada entre os países nórdicos. Os outros dois países que inicialmente tinham esta posição, EUA e Reino Unido, tiveram que voltar atrás diante do avanço da pandemia.
O Brasil, no momento, está batendo todos os recordes oficiais, com cerca de 800 mortes por dia, apesar de ser reconhecida a subnotificação. Ainda ontem, em teleconferência com empresários paulistas, Bolsonaro disse que por ele voltaria com a reabertura de todas as atividades econômicas e pediu aos defensores do mercado para pressionarem o governador Dória a reabrir a economia em São Paulo.
A cloroquina continua sendo defendida como tratamento por Bolsonaro desde os primeiros sintomas, apesar de reconhecidamente não ter comprovação científica, pelo contrário ter diversas contraindicações. Hoje ele exigiu que Teich fizesse um novo protocolo para o seu uso nos pacientes do SUS. Ele defende isso desde sua reunião com Trump em março. Hoje jornais dos EUA divulgaram que Trump é sócio de um fabricante do medicamento.
Logo após a demissão do ministro Teich, houve uma reunião no Palácio do Planalto com a participação da médica Nise Yamaguchi, amiga de Bolsonaro e defensora intransigente do uso do medicamento. Ela poderia ser a nova ministra assessorada por militares. Bolsonaro foi enfático ao dizer que “os ministros são nomeação minha e devem estar afinados comigo”. Por isso, em menos de dois anos de governo, ele já trocou sete ministros, começando por seu apoiador de campanha, o Bebiano, e terminando no Teich.
Outro nome aventado nos corredores do poder foi o do médico deputado Osmar Terra (MDB). Terra defende o isolamento vertical (só para os grupos de risco) e não é contra o uso da cloroquina. Contra a nomeação da primeira existe o fato dela ser mulher e Bolsonaro ser extremamente machista, contra o Terra, o boato de ter “arrastado a asa” para a primeira-dama Michelle.
Por enquanto, ficaremos com o general Eduardo Pazuello, paraquedista nomeado como secretário de Teich, mas que na realidade comandava o ministério. Depois que ele assumiu, já existem mais de 30 militares nos postos técnicos. Teich era um verdadeiro refém no ministério. Com isso, a estratégia para o enfrentamento da covid-19 no Brasil será de guerra. Os mortos serão baixas necessárias e aceitáveis e o objetivo fundamental será atender às necessidades do mercado. Bolsonaro tem dito isso a seus apoiadores com a maior naturalidade.
Os resultados, quem sobreviver verá.
* Walmaro Paz é jornalista
Edição: Marcelo Ferreira