Rio Grande do Sul

DEFESA DA CEEE

Audiência pública sobre privatização da CEEE cobra ação de órgãos de controle

Participantes criticam processo de venda da estatal e deputados lamentam ausência de representantes dos órgãos públicos

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Audiência ocorreu de forma virtual nesta quinta-feira - Reprodução / TV ALRS

Parlamentares, representantes de sindicatos e funcionários cobraram ação dos órgãos de controle do Estado no processo de privatização do Grupo CEEE, nesta quinta-feira (24), em audiência pública realizada pela Comissão de Segurança e Serviços Públicos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. O debate foi proposto pelo presidente e pelo vice-presidente da comissão, os deputados petistas Jeferson Fernandes e Edegar Pretto, com o objetivo de apurar a forma como estariam sendo tratados os passivos do grupo diante da sua possível privatização.

O diretor-presidente da Fundação Família Previdência (ex-Fundação CEEE), Rodrigo Sisnandes Pereira, foi o primeiro a se pronunciar na audiência. Ele apresentou um histórico da entidade criada em 1979 como “Fundação CEEE de Seguridade Social”, que passou a se chamar, em agosto de 2019, “Fundação Família Previdência”. Explicou que em 1997 se tornaram “multipatrocínio” e administravam hoje 12 planos de previdência, com 18 mil participantes e patrimônio de R$ 7 bilhões. A folha de pagamento mensal, segundo ele, era de R$ 50 milhões. Informou aos deputados dados relativos a dívidas e compromissos atuariais e descreveu os eventos geradores desses compromissos.

A presidente do Conselho Fiscal da Fundação CEEE, Janice Gambetta, relatou o recebimento de carta da presidência da CEEE, que classificou como “assédio” em relação às garantias que a fundação teria por ser credora do Grupo. Disse ter denunciado a atitude aos vários órgãos de fiscalização por entender que não seria possível a exclusão das garantias dos contratos previdenciários geridos pela fundação.

O presidente do conselho deliberativo da Fundação, Moacir Grippa, disse que possuíam garantias e que iriam exercê-las, mas não considerava a carta do presidente como assédio. “A patrocinadora mandou correspondência e respondemos não concordando”, disse. “Temos tranquilidade (em relação ao assunto) e vamos trabalhar em defesa dos participantes”, acrescentou.

O ex-presidente da CEEE e assessor técnico da Frente Parlamentar pela Preservação da Soberania Energética Nacional, Gerson Carrion, criticou o processo de privatização de áreas essenciais que via em andamento no país. “A CEEE não é problema para o estado, é solução”, defendeu, condenando o silêncio e a omissão dos órgãos de controle. “Está na hora de agirem e suspenderem cautelarmente esse processo”, afirmou, classificando-o como "lesivo pela forma que levaram a empresa a definhar e ir para o caminho da insolvência”.

Tarifa mais cara e serviços piores

Leonardo Maggi, da coordenação nacional do Movimento Atingidos por Barragens (MAB), saudou a iniciativa do debate pela Assembleia Legislativa e disse que compartilhava da linha de raciocínio de seu antecessor, vendo a CEEE não como problema, mas como solução. Para ele, o processo de privatização da empresa era um retrocesso, uma vez que a empresa já havia sido privada antes que o então governador Leonel Brizola a encampasse e “deu errado quando se começou a fatiá-la” nos anos 90. A privatização, na sua avaliação, resultaria em aumento da tarifa para consumidores residenciais e pequena e média indústria.

Antonio Jailson Silveira, do Sindicato dos Eletricitários do Rio Grande do Sul (Senergisul), defendeu a empresa pública e disse que era uma falácia a afirmação de que a privatização levaria à melhora dos serviços prestados. Para ele, o resultado do processo seria o aumento de tarifas e desemprego ou subemprego. Lembrou que a RGE recentemente havia sido multada por falta de qualidade e disse ainda que hoje as grandes empresas do setor tinham acionistas estatais estrangeiros.

O presidente do Sindicato dos Técnicos Industriais de Nível Médio do Rio Grande do Sul (Sintec), César Augusto Silva Borges, afirmou, a respeito dos passivos e prejuízos de uma possível privatização, que se repetiam as narrativas de precarização do serviço público para justificar a venda de patrimônio público e que havia exemplos por todo o estado do resultado desses processos, que, segundo ele, geravam má qualidade dos serviços, aumento de tarifas e passivos transferidos à sociedade.

Sandro Peres, ex-conselheiro da Fundação CEEE, fez uma série de considerações e disse que gostaria de saber do presidente da CEEE se era verdade que ele havia feito um seguro para cobrir eventuais erros cometidos no processo de privatização. Já o gerente de Energia Elétrica da Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (Agergs), Alexandre Jung, expressou preocupação com a manutenção da concessão da CEEE e a qualidade dos serviços. Disse que, se determinadas metas não fossem atingidas, haveria risco de perda da concessão.

Ausência dos órgãos públicos

A ausência de representantes dos órgãos públicos foi lamentada pelos deputados, que anunciaram o envio da ata de toda a discussão e dados apresentados pedindo que exerçam o seu papel fiscalizador. “É inadmissível que os órgãos de controle, que são muito bem pagos com dinheiro público para exercer um trabalho de isenção nesse tipo de negócio, se omitam, porque, talvez, por detrás da ação técnica haja uma ideologia da privatização”, disse Jeferson Fernandes.

“Temos que reafirmar esse pacto entre nós de não desistirmos de lutar pelo nosso estado e pelo que é público”, disse Pretto. “Porque está muito nítido que, a partir dessa autorização que a (base do governo na) Assembleia Legislativa concedeu ao governador, está agora tudo com ele”, afirmou. O mesmo entendimento tiveram só deputados Fernando Marroni (PT) e Sofia Cavedon (PT).

Para Fernando Marroni, o que estava se fazendo com CEEE era um crime que lesava o Rio Grande do Sul e rompia “com uma história tão bonita, como a que foi a desestatização de uma empresa americana, que (a partir dali) só orgulhou o estado ao longo da sua história”. Sofia Cavedon, por sua vez, sugeriu a elaboração de documento que demonstrasse a gestão temerária que teria se dado na CEEE, o que, a seu ver, poderia, inclusive, ensejar a instalação de uma CPI.

Também se pronunciaram na audiência Fabrício Cavalheiro, da Associação dos Funcionários em Defesa das Estatais e do Patrimônio Público do Rio Grande do Sul (Adefers), Vitor Dahm, da Uniproceee, e Eduardo Dias, funcionário da CEEE, e Jeferson Patta, diretor eleito pelos beneficiários da Fundação CEEE.

* Com informações da agência de notícias da ALRS

Edição: Marcelo Ferreira