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"Acertei quando dizia que a presença de candidaturas negras, de mulheres, trans e LGBT teria um impacto muito positivo nesta eleição" - Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Há uma longa caminhada pela frente mas passos seguros estão sendo dados nesta eleição

Errei e acertei.

Errei: achei que o resultado das urnas no primeiro turno seria mais favorável ao campo democrático-popular e de esquerda, com maior quantidade de votos e vantagem em Porto Alegre, em capitais como Florianópolis e outras cidades do Rio Grande do Sul.

Errei ao não prever o avanço do voto conservador liberal tradicional e dos partidos e candidaturas de centro e centro-direita, e sua recomposição.

Errei ao achar que as montanhas de fake news, onipresentes em 2018, teriam maior controle, ou diminuiriam em 2020, o que não aconteceu em Porto Alegre e outros lugares.

Acertei. Ouvi de muitas pessoas com quem conversei na rua na reta final de campanha e com a militância: o clima geral de campanha era melhor que nas eleições de 2016 e 2018. Não houve mais aquela rejeição quase total e automática a candidaturas ligadas ao PT e outros partidos de esquerda.

Acertei quando alertei que haveria grande abstenção, muita gente não indo votar, especialmente os idosos, por causa da pandemia do coronavírus e do descrédito da política, além do aumento de votos brancos e nulos.

Acertei quando propus, com muitas companheiras e companheiros, um grande esforço para garantir a mais ampla unidade eleitoral do campo de esquerda. Infelizmente, a unidade aconteceu em poucos lugares no primeiro turno eleitoral.

Acertei quando dizia que as propostas de candidaturas coletivas eram grande e positiva novidade. O resultado eleitoral confirmou o acerto da iniciativa, que vai trazer ainda muitos frutos com mandatos populares enraizados nas lutas e comunidades

Acertei quando dizia que a presença de candidaturas negras, de mulheres, trans e LGBT teria um impacto muito positivo nesta eleição.

Acertei quando dizia e avaliava que o trumpismo e o bolsonarismo sofreriam arranhões e até abalos nesta eleição. E que estas eleições eram mais importantes que o normal de eleições municipais, frente à atual conjuntura e contexto brasileiro, latino-americano e mundial.

O segundo turno coloca enormes desafios. E algumas oportunidades. A unidade, que está se construindo em muitos lugares, é fundamental, não só para o sucesso eleitoral e o aumento de vitórias, quanto também para enfrentar o próximo período e a profunda crise social, econômica e ambiental, que tende a se aprofundar em 2021.

A unidade em construção pode ser um passo importante para um projeto estratégico de país, de desenvolvimento, de Nação nos próximos anos. Sem grande unidade popular, a conduzir e produzir ampla mobilização social, trabalho de base e formação política, não se avança para uma sociedade com justiça e igualdade.

Os poucos dias que faltam exigem um esforço especial de toda militância, e de todas as mulheres e homens de boa vontade, tendo, claro, todos os cuidados sanitários. Vitórias do campo democrático-popular e de esquerda em São Paulo, Porto Alegre, Vitória, Belém, Recife e outras cidades terão um significado especial. Serão uma recusa ao bloco de poder neofascista dominante. Serão um grito de esperança, de amanhã, de futuro. Serão vozes a dizer que o sonho não acabou, que um outro mundo possível, urgente e necessário, pode estar no horizonte, que a resistência popular tem sentido, que a utopia cabe nos corações e mentes de muita gente. No Brasil, na Bolívia, no Chile, no mundo.

Há uma longa caminhada pela frente, de médio e longo prazo, mas passos seguros estão sendo dados nesta eleição. A próxima semana e o dia 29 de novembro de 2020 poderão tornar-se um marco e um registro na História. Depende de nós, todas e todos!

PS. Por incrível que pareça, a pandemia do coronavírus pode ser um fator importante, senão decisivo, na reta final das campanhas de segundo turno. Na medida em que, tudo indica, a segunda onda da pandemia, sem que houvesse terminado a primeira, já chegou ao Brasil. Os candidatos da centro-direita, pelo menos em Porto Alegre e São Paulo, tal como o presidente da República, opõem economia e vida, colocando a economia em primeiro lugar, e apoiando todas as medidas de flexibilização. O campo democrático-popular coloca a vida em primeiro lugar. Eleitoras e eleitores, se a situação continuar se agravando até 29 de novembro, também poderão colocar a vida em primeiro lugar, como já o fizeram ao serem contra a reabertura irrestrita das escolas. A conferir.

Edição: Marcelo Ferreira