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A Bolívia e os ventos andinos de esperança

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Evo Morales despertou símbolos importantes como Tupac Katari e Bartolina Sisa, o trabalhador cocalero e o que tenha sido talvez o seu maior êxito, conduziu o povo boliviano a retomar a batalha contra o colonialismo
Evo Morales despertou símbolos importantes como Tupac Katari e Bartolina Sisa, o trabalhador cocalero e o que tenha sido talvez o seu maior êxito, conduziu o povo boliviano a retomar a batalha contra o colonialismo - RONALDO SCHEMIDT / AFP
Evo Morales, Linera e o MAS ressignificaram a democracia e a utopia revolucionária latino-americana

“Você derrota algo quando tira sua força moral ou sua energia”, essa afirmação foi feita pelo ex-vice-presidente da Bolívia Álvaro García Linera logo após a vitória esmagadora de Luís Arce nas urnas. Enfrentaram os golpistas bolivianos e norte-americanos que movidos por interesses econômicos e sentimentos xenófobos haviam tomado o poder em um golpe sustentado com a violência característica e subserviente das forças armadas bolivianas (característica de quase todos os exércitos latino-americanos) e a cumplicidade da alta corte, também doutrinada nos cursos de formação norte-americanos, tal como a brasileira. Foi curta sua estadia no poder, porém com um rastro de destruição e morte que em nada difere dos anos ditatoriais.

A diferença reside na identidade nacional indígena resistente despertada e personificada por Evo Morales. Morales despertou símbolos importantes como Tupac Katari e Bartolina Sisa, o trabalhador cocalero e o que tenha sido talvez o seu maior êxito, conduziu o povo boliviano a retomar a batalha contra o colonialismo. O projeto popular do Movimento ao Socialismo (MAS) entranhado nas lutas e no cotidiano do povo, tornou-se uma barreira intransponível aos golpistas. Com um vigor impressionante manteve a vanguarda progressista do país perfilada, atuante, sem tergiversar e a massa ocupando as ruas, desafiando forças poderosas locais e internacionais. Morales, García Linera e o MAS ressignificaram a democracia, a utopia revolucionária latino-americana, o socialismo indo-americano de Mariatégui, radicalizaram a democracia.

O Brasil vive sitiado por forças que apesar de eleitas democraticamente são golpistas em essência. O conglomerado econômico, jurídico, midiático e militar aliado ao fundamentalismo religioso e aos extratos do submundo (milícias, especialmente), mergulhou o país em uma crise sem precedentes, de representatividade, moral e ética inclusive. O Brasil hoje é tratado com desprezo no cenário internacional, perde o país e perde a América Latina. Crise sanitária, desemprego generalizado, paralisia produtiva, fome e inflação descontrolada são contrastes que as pessoas podem comparar rapidamente.

Ressignificar, radicalizar a democracia, um novo projeto de transformação da economia, do Estado e da sociedade, incorporar novas vozes, as vozes referendadas pelas urnas nas eleições para os executivos e legislativos municipais de 2020 e que tomaram posse no dia 1º de janeiro. Mulheres, negros e negras, mulheres trans, LGBTS, oriundos de comunidades periféricas, de organizações sociais marginais que agora tem a oportunidade de falar para todo o povo brasileiro, gente que o status quo não está acostumado a ter que calar pra ouvir, gente questionadora, gente desconfiada, que não gosta do mundo que está aí, que quer transformá-lo.

No Brasil como na Bolívia, a direita sobrevive agarrada ao velho, ao sexismo, ao autoritarismo, ao ódio, ao rancor, a violência, a repressão e a mentira, seu projeto econômico, de Estado e de sociedade é um projeto vazio de sentimento, não gera expectativas, não oferece nenhum horizonte à população.

Ressignificar a democracia, redirecionar o horizonte da população, ofertar um novo projeto político e popular, radical no compromisso com os menos favorecidos e com a transformação econômica, do Estado e da sociedade, esse é o sopro dos ventos que vêm das montanhas andinas. Que a tristeza de nosso povo seja transformada em força, para que não siga enfermo de conformismo em sua alma.

Feliz 2021!

* Graduando em Administração Sistemas e Serviços de Saúde da UERGS.

 

Edição: Katia Marko