Rio Grande do Sul

Um outro mundo

Fórum Social Mundial 2021 tem início neste sábado (23) e se estende até dia 31

Com duas décadas de história, o FSM que historicamente tem sua marcha pelas ruas das cidades esse ano será virtual

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Fórum Social Mundial de 2021 será totalmente online, devido à pandemia - Reprodução

Janeiro de 2001. Vinte mil pessoas tomam a cidade de Porto Alegre para a realização do primeiro Fórum Social Mundial (FSM), em contraponto ao Fórum Econômico Mundial de Davos. O lema “Um outro mundo possível” tem pautado sua existência.

Com o objetivo de possibilitar respostas aos graves e urgentes desafios da conjuntura em nível global e iniciar as comemorações do seu 20º aniversário, a edição deste ano começa neste sábado (23), e seguirá até o dia 31. O tema ganha um adendo, “Um Outro Mundo é Possível Pós-Covid-19". Programado para ser realizado no México, devido à pandemia, esta edição será virtual, com transmissão pelas páginas do Fórum Social Mundial, pelo Facebook e Youtube.

“Estamos contentes com esse processo que temos preparado com muito entusiasmo, sobretudo para celebrar os 20 anos do Fórum Social Mundial. Serão dias de mobilização global contra esse sistema que oprime a todos e a todas, para levantar as vozes e denunciar todas as injustiças. Nos unimos para ter uma jornada de 9 dias de ação intensas que começa com a marcha global, de 24 horas por todo o globo terrestre, onde todos os povos se unirão e farão suas denúncias”, explicou a mexicana Rosy Zúñiga, secretária-geral do Conselho de Educação Popular de América Latina e Caribe (CEAAL) e uma das organizadoras da edição deste ano, em coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira (21). 

Segundo os organizadores, por ser virtual e por considerar os diferentes fusos horários para realizar painéis de audiência global, este será o Fórum Social mais longo dos últimos 20. Já são mais de 6 mil pessoas e organizações inscritas, com mais de 600 atividades sugeridas pelos participantes. 

Entre as temáticas desta edição estão, Paz e Guerra - Desarmamento universal para transformação social e ecológica; Justiça Econômica: Democratizando a economia para alcançar a justiça econômica; Feminismo, Sociedade e Diversidade; Poder e Democracia: Desespero e Esperança; Justiça Social: Princípio e Objetivo da Transformação Social. 

A escritora malinesa, Aminata Traoré, a militante da Frente Popular para a Libertação da Palestina, Leila Khaled, o ambientalista indiano Ashish Kothari, o ex-ministro de Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis e o ex-presidente Lula da Silva e outros nomes participarão do Painel Global de Abertura, neste sábado, 23, às 11h. 

Durante a coletiva desta manhã, os integrantes do comitê facilitador do FSM destacaram que entre os principais desafios do Fórum está a necessidade de partir para ação concreta para a construção de “outros mundos possíveis”.

Os desafios para construção de um outro mundo possível

Para a feminista peruana e integrante da articulação feminista do Mercosul, Gina Vargas, que participa do Fórum desde seu surgimento, uma das dimensões fundamentais do FSM que se está avançando é sobre o que é a economia transformadora, que fala sobre a economia de cuidado e que vai contra uma economia central baseada no mercado e na “ganância capitalista”.

“Nestes 20 anos temos levado nossas lutas conectadas com nossos territórios, em sua enorme diversidade, com mulheres indígenas, com mulheres de origem africana, e com diferentes outros movimentos. Onde justamente o importante é ver como disputamos outra forma de olhar as mudanças, onde as vozes da diferença estejam presentes e onde essa forma de olhar o mundo, seja feita a partir das nossas realidades. Isso significa reflexões, compartilhar e obviamente disputar”, ressaltou. 

A ativista destacou a violência sofrida, em especial durante a pandemia, pelas mulheres, as diversidades sexuais e a violação de meninas e adolescentes, que, segundo ela, na América Latina,  60 a 70% das violações recaem sobre elas. “Há lutas que temos que levantar com muitíssima força, como fizeram as argentinas recentemente, pelo direito de decidir sobre o próprio corpo. Há uma massificação das lutas dos jovens, das mulheres, dos indígenas. É fundamental que essas lutas sejam a base que vai nos permitir seguir avançando”, frisou. 

Para Rosy, um dos principais desafios é conseguir que o FSM não seja apenas um evento, transcender à ação e articulação entre os diferentes movimentos globais para que realmente tenham efeitos na nossa realidade. Ela assinalou a situação terrível de desaparecimento de mulheres, de indígenas e da violação de crianças. “Precisamos pensar como levaremos para os nossos debates toda essa questão de como combatemos o racismo, como fazemos frente às pandemias, como faremos para que esse Fórum seja um Fórum Vivo, um Fórum dos movimentos, um Fórum para ação e para a transformação, e sobretudo como construímos um novo sistema econômico, um novo sistema de vida, combinando com a natureza e a sociedade”, expôs. 

Ela também lembrou sobre as mortes e perseguições de defensores dos direitos humanos no México, Colômbia, Paraguai e Brasil, ativistas que defendem seus territórios. “Defender os territórios com seu corpo e sua palavra se torna muito perigoso porque os grandes violadores buscam ser dono deles. A participação política se torna um grande desafio, decidir sobre seu próprio território. Temos que unir forças para denunciá-los e para que parem. Protestar é um direito, precisamos denunciar a criminalização.” 

Para o mexicano Felix Cadena Barquín, coordenador do Foro de La Paz (Fórum da Paz), é preciso que ao fim da edição do FSM saía uma agenda entendida como a definição de dias concretos, em que todos aqueles que querem lutar por outro mundo possível possam ter um compromisso de curto prazo. “Se trata de buscar formas novas que vão além de somente uma manifestação ou solidariedade. É muito importante que expressemos solidariedade e façamos a denúncia. Mas os poderosos do mundo morrem de rir diante disso”, opinou. 

“Essa pandemia está revelando a grande injustiça que existe no mundo em que milhões de pessoas não têm casa, comida. E que hoje quando nos pedem para ficar em casa, os que têm que estar trabalhando para que possamos comer são os campesinos e campesinas do mundo. E necessitamos pensar, questionar nossos modelos de vida, e repensar nossos modos de consumo, porque se não, outro mundo possível não vai ser possível, temos que fazer realidade e pôr em prática já, não é para amanhã, é para hoje. Porque o mundo reclama, senão não vamos existir”, finalizou Rosy. 

Veja aqui a conferência completa. 

As inscrições para o FSM seguem abertas e podem ser feitas individualmente ou coletivamente pela página: wsf2021.net. No site também é possível acompanhar a programação completa e conferir a relação completa de painelistas, além de cadastrar propostas e iniciativas para serem discutidas.


:: Clique aqui para receber notícias do Brasil de Fato RS no seu Whatsapp ::

SEJA UM AMIGO DO BRASIL DE FATO RS

Você já percebeu que o Brasil de Fato RS disponibiliza todas as notícias gratuitamente? Não cobramos nenhum tipo de assinatura de nossos leitores, pois compreendemos que a democratização dos meios de comunicação é fundamental para uma sociedade mais justa.

Precisamos do seu apoio para seguir adiante com o debate de ideias, clique aqui e contribua.

Edição: Katia Marko