Rio Grande do Sul

OPINIÃO

Artigo | Sobre a Pastora Romi M. Bencke – um justo reconhecimento

"Sempre pautou sua vida e ministério pela ética do evangelho do amor e da justiça que aprendemos de Jesus de Nazaré"

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Pastora luterana vem sofrendo ataques nas redes sociais após lançamento da Campanha da Fraternidade Ecumênica - Divulgação CONIC

Romi M. Bencke é teóloga luterana, estudou nas Faculdades EST, de São Leopoldo (RS), formando-se nos anos de 1990, depois de um longo período de estudos. Foi pastora de comunidade na IECLB, mais tarde realizou estudos de mestrado na Universidade Federal de Juiz de Fora, tornando-se mestre em Ciências da Religião.

Sempre pautou sua vida e ministério pela ética do evangelho do amor e da justiça que aprendemos de Jesus de Nazaré. Sabe bem o que isto significa numa sociedade machista, racista e homofóbica. Nunca – que eu saiba – desistiu dessa luta que não tem fim.

Mais recentemente foi escolhida e chamada para assumir a Secretaria Executiva do CONIC – Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, com sede em Brasília, onde vem desenvolvendo um trabalho ecumênico da maior envergadura, sendo reconhecida no Brasil e no exterior como uma pessoa que contribui de forma excepcional à causa ecumênica. Esta trajetória vivencial neste momento vem sendo atacada de forma vil e injuriosa por quem não compreende a relevância transcendental da causa ecumênica que nasce da oração de Jesus (João 17).

Seu protagonismo e a oportuna decisão do CONIC de lançar em 2021 uma nova edição da Campanha da Fraternidade Ecumênica sob o tema “Fraternidade e Diálogo”, lamentavelmente, feriu dogmatismos e concepções equivocadas da fé cristã. Isto lhe valeu e ao CONIC uma campanha vergonhosa que vem atacando a ela e ao Conselho das formas mais vis e reprováveis.

Em solidariedade com a colega Romi e ao CONIC, publico aqui um poema em que destaco que ela e tantas outras irmãs de nossas igrejas não estão sozinhas, mas fazem parte de uma longa tradição de luta, de fé e de teimosia no caminho da justiça e da paz.

 

Elegia à jovem teóloga (**)

 

Para Romi M. Bencke num fevereiro de luto, luta e paixão!

 

Irmã, este canto nasce abrupto

mas é teu, por direito e por justiça.

Tu vens de uma longa tradição

de teimosas filhas de Deus.

No começo foi Miriã e suas mulheres

que cantaram o louvor

de uma vitória de escravos

porque Deus precipitara no mar

o cavalo e seu cavaleiro.

 

Então vieram outras, muitas outras

mulheres guerreiras,

mulheres anônimas gerando filhos e resistências.

Mulheres firmes e altaneiras

liderando o povo de Deus.

Tu fazes parte desta tradição de fé [e de luta]!

Honra tuas avós, tuas tias, tua mãe,

as sábias de outros tempos, [povos, culturas]

aquelas que não se deixaram

dominar pelo medo ou prepotência.

 

Mulheres como Rute e Noemi,

Débora, Bate Seba, Ester,

Judite, Tamar, e mesmo as estrangeiras

que tanto bem fizeram ao povo de Israel.

Irmã, acerta o passo

e reverencia a memória de Maria,

[aquela do Magnificat de Lucas 1],

Madalena e Suzana,

a profetiza Ana, Lídia e suas tecelãs,

Priscila, Evódia, Júnia,

sem esquecer a escrava Rode.

 

Sê a testemunha do Evangelho

da liberdade maior,

do amor encarnado num canto,

no gesto da cruz e da solidariedade

de um Deus que não julgou

ser menos que um servo de todos

e nos deu na sua entrega da vida

a vida inteira e um novo porvir

[que se antecipa na práxis da ressurreição].

 

Ah, irmã que hoje te lanças

corajosa ou relutante

no campo da lida ou da luta,

desejo que saibas anunciar um novo mundo

e com franqueza e ternura

reunir num mesmo barco pescadores, poetisas,

homens feitos e mulheres

crianças, jovens e sábias,

dispostas a encarar de frente

o novo éon que já ensaia

vilanias e tristezas.

 

Mas quando a tristeza da lida

te assaltar na noite fria,

recorda-te que antes de ti

muitas sonharam por ti

e deram suas vidas pra que o sonho

do teu Deus e nosso Deus

não fosse apenas um sonho,

mas um banquete e uma ceia

para a qual todas são convidadas,

particularmente, os mais pequeninos,

[sem esquecer as camponesas e as prostitutas].

 

Irmã, que o Vento Novo de Deus

preencha teus sonhos de amor

teus gritos de liberdade,

tua gana de servir e mudar,

nossa fome de esperança.

Louvado seja o Criador

que te fez mulher, amiga e amante,

estudiosa e servidora de um reino que não tem limites.

 

Oh, jovem teóloga ingente,

[hoje pastora decidida e experiente]

junta-te a tuas irmãs de nossas comunidades.

Com elas serás um sinal

de uma nova humanidade.

Percebes o quanto esperamos de ti?

 

Teu futuro já se anuncia

em pequenos mas preciosos passos.

Louvo a ti e tuas parceiras

[de igrejas e dos movimentos]

com um misto de paixão, inveja e sedução.

Peço-te por fim e confiante:

Tem paciência com teus pares

dessa outra de nós dois:

a crucial e terrena Teologia!

 

* Roberto E. Zwetsch é teólogo e pastor luterano

** Este poema foi escrito em 1999, mas tive de inserir aqui e ali palavras deste momento, amiga, em que você está sendo injustamente caluniada, perseguida, mas resiste! Nós te admiramos sempre mais, viu!

*** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.


:: Clique aqui para receber notícias do Brasil de Fato RS no seu Whatsapp ::

SEJA UM AMIGO DO BRASIL DE FATO RS

Você já percebeu que o Brasil de Fato RS disponibiliza todas as notícias gratuitamente? Não cobramos nenhum tipo de assinatura de nossos leitores, pois compreendemos que a democratização dos meios de comunicação é fundamental para uma sociedade mais justa.

Precisamos do seu apoio para seguir adiante com o debate de ideias, clique aqui e contribua.

Edição: Marcelo Ferreira