Rio Grande do Sul

COVID-19

Entidades médicas adotam tom mais grave diante do agravamento da pandemia

O país deve alcançar nos próximos dias a triste marca de 300 mil mortes e, pior, em ritmo de franca expansão

Sul 21 |
Pior momento da pandemia no Brasil é agravado por falta de medicamentos, oxigênio e ausência de coordenação do Ministério da Saúde - Silvio Avila/HCPA

O agravamento da crise do coronavírus no Brasil, com recordes de mortes, hospitais à beira do colapso em vários estados e o alto risco de faltar medicamentos essenciais para tratar pacientes graves com covid-19, tem levado entidades médicas a se manifestarem de modo mais enfático sobre a gravidade da situação no País. Entre os dias 15 e 21 de março, o Brasil foi responsável por 25% das mortes por covid-19 no mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), no período houve 60 mil óbitos, dos quais 15,6 mil no Brasil. O País deve alcançar nos próximos dias a triste marca de 300 mil mortes e, pior, em ritmo de franca expansão.

Em suas redes sociais, o Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) publicou nesta segunda-feira (22) uma montagem com duas pessoas internadas e a pergunta: Qual desses pacientes você acha que deve viver? A imagem é acompanhada com a descrição da idade e outras características dos dois supostos pacientes.


Campanha divulgada nas redes sociais do Cremers / Reprodução

“Nós sabemos que você está no limite e não aguenta mais ficar isolado em casa, mas chegamos num ponto em que não há outra escolha. Ou seguimos todas as recomendações e cuidados contra a disseminação do coronavírus ou teremos que conviver com uma triste realidade. Os hospitais do RS estão com suas taxas de ocupação além do limite e os prognósticos de crescimento dos óbitos exigem a contribuição de todos. Por isso, não crie mais decisões difíceis para os médicos”, diz o post do Cremers.

Por sua vez, a Associação Médica Brasileira (AMB) divulgou uma longa nota nesta terça-feira (23), apontando 13 orientações para pacientes, médicos e autoridades responsáveis “à urgente resolução de casos que exclusivamente delas dependem”.

“Faltam medicamentos para intubação de pacientes acometidos pela covid-19, não existe um calendário consistente de vacinação, não há leitos em Unidades de Terapia Intensiva. Fake news desorientam pacientes. Médicos e profissionais de saúde, exaustos, já são em número insuficiente em diversas regiões do País”, afirma a entidade.

Entre os 13 tópicos destacados no documento, a necessidade da vacinação em massa da população brasileira é o primeiro, seguido do alerta para a variante P1 do vírus e a necessidade de lockdown nas regiões mais críticas para frear o contágio e as mortes. “Todos, sem exceção, temos de seguir à risca as medidas preventivas: uso correto de máscara, distanciamento social, evitar aglomerações, manter o ambiente bem ventilado e higienizando, ficar em isolamento respiratório assim que houver suspeita de Covid-19, identificar os contactantes, higienizar frequentemente as mãos, com água e sabão ou álcool gel a 70%”, orienta a AMB.

A entidade enfatiza ser urgente a necessidade de esforços políticos, diplomáticos e a utilização de normativas e leis de excepcionalidade para solucionar a falta de medicamentos no atendimento emergencial de pacientes com covid-19 internados, principalmente bloqueadores neuromusculares, opioides e hipnóticos, usados no processo de intubação de doentes em fase crítica.

De acordo com a AMB, a ausência destes medicamentos inviabiliza o atendimento adequado para salvar vidas. Por outro lado, a entidade critica o uso de remédios do chamado “kit covid”, propagandeado desde o começo da crise pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).  “Reafirmamos que, infelizmente, medicações como hidroxicloroquina/cloroquina, ivermectina, nitazoxanida, azitromicina e colchicina, entre outras drogas, não possuem eficácia científica comprovada de benefício no tratamento ou prevenção da COVID-19, quer seja na prevenção, na fase inicial ou nas fases avançadas dessa doença, sendo que, portanto, a utilização desses fármacos deve ser banida”, alerta.

A nota da AMB ainda dá orientações específicas aos médicos no uso de corticoides e anticoagulantes, e recomenda aos pacientes a procura por atendimento preferencial à telemedicina em caso de sintomas leves, e uma Unidade de Pronto Atendimento ou serviço de emergência se houver sintomas mais graves, como falta de ar, respiração rápida e saturação de oxigênio menor que 94%.

A Associação Médica Brasileira (AMB) encerra a manifestação pedindo ações unificadas e coordenadas entre os governantes das esferas federal, estadual e municipal, “sem qualquer resquício de ideologias e interesses políticos”.

Edição: Sul 21