Rio Grande do Sul

Coluna

As imagens e suas intencionalidades

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"A diferença entre elas resultam da distinção entre a hipocrisia nojenta e o drama real" - Reprodução
As farsas devem ser desmontadas

A cena do Bolsonaro, no hospital, tratando de imitar pintura famosa, retratando Cristo, ilustra a farsa que acompanha este personagem. Aliás, nem forçando a barra o mito-mito-mito consegue passar a pretendida ideia de semelhança que seus produtores tentaram delinear, naquela “arte”. Basta observar os braços, a boca, os olhos, o “entorno” e o sentimento que aquelas três imagens evocam, para constatar que ali, apenas duas se assemelham.

A diferença entre elas resultam da distinção entre a hipocrisia nojenta e o drama real, de um homem comprometido com a humanidade. Elas carregam, escancaradas nesta comparação trajetórias de vida e intencionalidades de quem as produziu. É por isso que penas em duas, daquelas três figurações, se percebe a força de uma serenidade transcendente, verdadeiro sentimento de correspondência que as conecta aos espectadores, e que independe do tempo. Trata-se de sentimentos profundos, que envolvem as noções de respeito, honra, dedicação, sacrifício e nexo entre a exiguidade da vida de um homem e a eternidade da luta pela igualdade. Por isso, as personalidades capturadas na Itália em 1478 (Andrea Mantegna - A lamentação sobre o Cristo morto), e na Bolívia, em 1967, carregam a humanidade e persistirão no tempo.

Já a outra, serve para ilustrar a fantasiosa desconexão entre o real que somos obrigados a suportar e as manifestações fantasiosas de golpistas e mitômanos. Vimos isso ao longo dos julgamentos do impeachment da Dilma, da prisão do Lula e da  parcialidade de Moro. Vimos isso nos elogios ao tratamento precoce, na destruição de direitos constitucionais e na descredibilização que tudo isso vem impondo à nossas instituições públicas.

Aquelas imagens e estes fatos, bem como a compreensão dos sentimentos que carregam, nos chamam a uma responsabilidade comum. As farsas devem ser desmontadas.

E a CPI da Covid está ajudando nisso. Faz mais, está ajudando o Brasil a entender a importância da transparência e da participação popular, para construção da solidariedade e preservação da democracia. Ali (não apenas ali) se percebe uma possibilidade de recuperação do Legislativo, que mostra dispor de homens e mulheres decididos a superar seu medo das ameaças, em nome da ética e da moral. Aliás, o STF já havia produzido algo similar no julgamento da parcialidade do Moro.

Isto nos faz pensar que a privatização da Eletrobras, a destruição da legislação ambiental, dos direitos trabalhistas e muitas outras ofensas à nação brasileira não prosperariam se a sociedade pudesse acompanhar e opinar a respeito das falcatruas em andamento. Se a democracia privilegiasse a verdade à farsa.

E é este o ponto. A agregação de visibilidade ao que vem ocorrendo de degradante em nosso pais, desde o golpe de 2016, bem como o estímulo à participação popular, em sua correção, surgem como fatores decisivos para a construção de nosso presente e de nossa história.  
Vejam que o ex-capitão Jair Messias Bolsonaro não estava ameaçando apenas o STF, os 81 senadores e os 300 deputados federais quando aventou a possibilidade de cancelamento das eleições de 2022.  Felizmente até alguns de seus aliados, como o Ministro in Fux we Trust e o bolsonarista Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, assumiram suas responsabilidades e vieram a público afirmando que a Constituição e a democracia podem contar com eles.

Seria de esperar algo semelhante por parte da Polícia Federal, do presidente da Câmara Federal, dos governadores  e das Forças Armadas?
Talvez. Aparentemente isso vai depender do sucesso de enganações como a pretendida com aquela foto hospitalar, da credibilidade de conteúdos veiculados na imprensa, da coragem de pessoas em funções públicas e do efeito que isto trará sobre os demais.

Me refiro à disputa entre o conteúdo das imagens. Aos efeitos das maquinações, dos atos dos canalhas, em face à coragem dos que a eles se opõem. Efeitos sobre os impulsos que mantém a sociedade apática ou que nos levarão, famílias de todas as esferas, às ruas, pela democracia.

Como diz a música, basta! Homens sem juízo e sem noção não podem governar esta nação.

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Ouça a coluna em áudio.

Edição: Marcelo Ferreira