Rio Grande do Sul

Resistência

“Memória e espiritualidade apontam os caminhos do bem viver a ser construído”

A frase é uma síntese da V Assembleia dos Povos que aconteceu neste final de semana na comunidade Van Ká em Porto Alegre

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Encontro reuniu lideranças indígenas, quilombolas, pessoas em situação de rua e organizações sociais - Foto: Alass Derivas

Entre os dias 30 de julho e 1º de agosto, indígenas, quilombolas, pessoas em situação de rua, coletivos, organizações sociais e populares, lutadores e lutadoras pelo bem viver se reuniram para realização da V Assembleia dos Povos. O evento que teve intuito de reforçar a luta e a aliança entre os povos aconteceu na terra Kaingang, comunidade Van Ká, bairro Lami, em Porto Alegre. 

“Passamos por um momento muito crítico onde os governantes pregam uma política genocida, odiosa contra nossas populações. Não aceitamos sermos tratados desta forma. Exigimos que nossos direitos e nossas ancestralidades sejam respeitadas. Exigimos que nossos territórios sejam demarcados, sem território não conseguimos sobreviver”, afirma o cacique Kaingang da aldeia Vãn Ka, Odirlei Fidélis. 

No encontro, segundo pontua o indigenista e coordenador do Cimi Regional Sul, Roberto Liebgott, discutiu-se os aspectos relativos à memória, as ancestralidades, e como isso marca a trajetória dos povos e comunidades tradicionais. Assim como a importância da espiritualidade e de como essa força religiosa, espiritual que os povos têm refletem e fortalecem as lutas politicas, as lutas por direitos e a luta pela defesa dos territórios. “Foi um encontro profundo de reflexão do contexto que impacta a vida e o modo de ser das comunidades e também sobre o sentido da memória e das espiritualidades”, destaca.  

A V Assembleia dos Povos também foi espaço para reivindicar respeito aos povos originários, sua cultura, seu modo de vida, a importância da memória e da terra, enfatiza o cacique Fidélis. “Da terra temos alimento, saúde, educação e cultura. O respeito à natureza nos faz sermos fortes. Nossa ancestralidade nos faz fortes. Nossa espiritualidade nos faz acreditar que é possível um mundo melhor para todos, onde os direitos sejam respeitados, em que cada povo possa viver da maneira que eles acharem melhor, onde suas peculiaridades não sejam entendidas de maneira discriminatória. A V Assembleia veio para reforçar nossa espiritualidade e para que possamos nos manter unidos para enfrentar esses genocidas e fascistas”, ressalta.

Veja mais fotos do encontro aqui

Abaixo a carta da V Assembleia dos Povos 

Acabou o amor isso aqui vai virar Palmares!”

De 30 de julho a 1 de agosto de 2021 ocorreu, na terra Kaingang, comunidade Van Ká, bairro Lami, em Porto Alegre, a V Assembleia dos Povos que contou com a participação de indígenas, quilombolas, pessoas em situação de rua, coletivos, organizações sociais e populares, lutadores e lutadoras pelo bem viver.

Ao final da Assembleia, depois de momentos de profunda espiritualidade, reflexões, discussões e debates sobre a realidade de nossos povos, os participantes divulgaram uma manifestação coletiva, inspirada na memória dos ancestrais e nas espiritualidades dos povos e comunidades.

Os Povos Indígenas, Quilombolas e as demais comunidades originárias e tradicionais são inspiradores e impulsionadores da esperança na construção e consolidação de um mundo onde caibam outros mundos, ou seja, onde os modos de ser e viver dos outros sejam respeitados e valorizados.

Duas dimensões do viver dos povos e comunidades originárias podem nos inspirar: a memória e a espiritualidade.

A memória vincula passado, presente e futuro. Dá direção aos passos e ao caminhar contínuo. Enlaça o ser à coletividade, porque a memória é força e produção coletiva. Ela coloca em relevo as lutas e seus significados mais profundos, honra aqueles que passaram e os mantém como força inspiradora para os que estão cumprindo a vida e para os que virão.

Ensina sobre como tornar concreto o compromisso, o amor e a resistência. Mostra o saber que não se apaga, não se anula e muito menos se esquece. A memória guia os projetos de vida daqueles que sonham e constroem a justiça, demarca o lugar da Terra como mãe, gestora e acolhedora da vida. Além de tudo isso, ela torna os seres irmãos e irmãs nas diferenças e diversidades.

A Espiritualidade, por sua vez, dá sentido à existência dos povos, conecta os mundos e os saberes às ancestralidades, divindades e as cosmovisões. Agrega as lutas físicas, políticas e as retomadas, dando sentido para além da materialidade. Fortalece as articulações nas lutas por cidadania e dignidade humana, entrelaçando os modos de ser e saber no cotidiano, ritualizando o caminhar e os movimentos dos povos, comunidades, coletivos, periferias em suas culturas.

Memória e espiritualidade apontam os caminhos do bem viver a ser construído. Memória e espiritualidade compõem a oposição aos projetos de morte dos genocidas e suas crenças na acumulação de bens, no ódio, violência e destruição.

Juntas, a memória e a espiritualidade exigem reparação e condenação pelos crimes da colonização escravocrata, genocída, etnocída e a todas as formas de dominação que violentaram os povos. Elas alicerçam a libertação dos povos e a defesa incondicional da Mãe Terra.

(*) Terra Indígena Kaingang, comunidade Van Ká Porto Alegre, RS, 01 de agosto de 2021


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Edição: Katia Marko