Rio Grande do Sul

Coluna

SER FREIREANO

Imagem de perfil do Colunistaesd
Lindas, emocionantes, longas, muitas e diversas celebrações marcaram o centenário de Paulo Freire
Lindas, emocionantes, longas, muitas e diversas celebrações marcaram o centenário de Paulo Freire - Lays Furtado
Ser freireano é lutar, neste momento histórico, por vacina no braço, comida no prato, fora Bolsonaro

Está terminando setembro. Paulo Freire fez 100 anos no domingo (19). Terminaram as lindas, emocionantes, longas, muitas e diversas celebrações do centenário. O mundo inteiro (até o Google e Rede Globo!) lembrou e exaltou o educador popular Paulo Freire, como talvez não tenha acontecido com mais ninguém, pelo menos nos últimos tempos. Justo, mais que justo, justíssimo!!!

Mas o que é mesmo ser freireano em 2021, e nos próximos anos, décadas, século? O que será ser freireano em 2121, daqui a 100 anos?

Ser freireano é, em primeiro lugar e acima de tudo, estar na rua no meio do povo, como Paulo Freire esteve a vida inteira. É assumir as causas das oprimidas e dos oprimidos. É marchar com as trabalhadoras e os trabalhadores por direitos, justiça, igualdade, democracia. É dialogar o tempo todo com os pobres e os esquecidos da história. Não se é verdadeiramente freireano apenas dentro da sala de aula, ou falando de e sobre Paulo Freire em debates e seminários, ou (re)lendo Paulo Freire.

Ser freireano é impulsionar no próximo período, em especial 2022, a Campanha Latino-americana e Caribenha em Defesa do Legado de Paulo Freire: superar e reinventar Paulo Freire hoje, nos tempos atuais, e a educação popular e libertadora, com mais trabalho de base e organização popular, com muita formação conscientizadora e ação libertadora. Há muito por fazer acontecer.

Ser freireano é lutar, neste momento histórico e conjuntura, por vacina no braço, comida no prato, fora Bolsonaro, já!

Ser freireano é dizer todos os dias ‘mudar é difícil, mas é possível!’

Ser freireano é fazer e assumir a ‘denúncia, o anúncio, a profecia, o sonho, a utopia’.

Ser freireano é semear a voz da liberdade em corações e mentes, é ser amoroso com as plantas, os seres vivos, a natureza, o ser humano. É fazer da amorosidade um sentimento de amor à vida e à humanidade. É tornar a boniteza presença e vivência cotidianas, permanentes.

Ser freireano, hoje, no Rio Grande do Sul, é organizar o Plebiscito Popular sobre as Privatizações, que vai acontecer de 16 a 23 de outubro.

Ser freireano é mobilizar todo mundo e o Brasil inteiro para estar na rua dia 2 de outubro, na grande mobilização Fora Bolsonaro.

Ser freireano é reunir/juntar, em 2021, a Pedagogia do Oprimido, conscientização e libertação, com a Pedagogia da Indignação, a justa raiva, com a Pedagogia da Esperança, ESPERANÇAR. E denunciar com voz forte o atual governo genocida e o ultraneoliberalismo reinante, como Paulo Freire fez nos anos 1990, em tempos de governos FHC.

Ser freireano é lutar contra toda e qualquer injustiça, contra o racismo, os feminicídios, contra os preconceitos, discriminações e violência contra quem quer que seja.

Ser freireano é estar nas periferias, lutando com o povo, organizando, conscientizando. É fazer a reflexão sobre a ação para partir para uma nova ação conscientizadora. É teorizar sobre a prática e chegar a uma nova prática, mais libertadora.

Ser freireano é fazer formação na ação: nos Comitês Populares contra a Fome, nas mobilizações de rua, nas greves, nas ocupações urbanas e rurais, nos locais de trabalho, no movimento sindical, nas Associações de Bairro, nos movimentos populares, nas Pastorais, nas ONGs, nas escolas e Universidades, em todos os espaços, ruelas, esquinas e territórios.

Ser freireano é colocar o poder a serviço, fazer da política ternura e caridade máxima, como diz o Papa Francisco na Encíclica Fratelli Tutti.

Ser freireano é ser mais movimento e menos instituição, o que não quer dizer desprezar a instituição, mas reavivar sempre o carisma e os valores de movimento de cada instituição, como os partidos, os governos, o Parlamento, as ONGs, as Pastorais, igrejas e religiões, assim como os movimentos sociais e populares.

Ser freireano é abraçar ecologicamente o cuidado com a Casa Comum.

Ser freireano é dizer sempre, e fazer acontecer: ‘Ninguém solta a mão de ninguém’.

Ser freireano é superar Paulo Freire cada dia, é reinventar Paulo na realidade concreta no campo e na cidade, nas periferias, no meio das oprimidas, dos oprimidos e da classe trabalhadora, nas lutas sociais, na organização popular, nas ações de conscientização e solidariedade.

Ser freireano é marchar, marchar, marchar todos os dias e todo tempo, com fé e coragem: com os sem terra, com os sem teto, com os indígenas, com os quilombolas, com as mulheres, com as juventudes, com o povo LGBTQIA+, com os ambientalistas, com as lutadoras e os lutadores por um ‘outro mundo possível’, cada vez mais urgente e necessário.

Freireanamente, em 2021, foi (re)aberta a leitura do mundo e anunciada a Primavera da Democracia. Agora, é ESPERANÇAR, fazer acontecer.

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko