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Educação

Artigo | Carta Pedagógica: O que aprendemos com o legado de Paulo Freire?

“É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar, porque tem gente que tem esperança do verbo esperar"

Brasil de Fato | Porto Alegre |
O direito à Educação de qualidade social ainda está no papel, porque não vem acompanhado de outros direitos e de políticas públicas sociais que materializem esse direito - Foto: Arquivo Instituto Paulo Freire

Resolvemos compartilhar, por meio de uma Carta Pedagógica, nossas aprendizagens com Paulo Freire.

Escrevemos essa Carta no dia 05/11/2021, manhã ensolarada que nos provocou a uma escrita coletiva. Escrita entre amigos que se conhecem a partir das lutas populares.

Aprendemos muito, uns com os outros desde que nos conhecemos, mas nestes últimos anos, aprendemos a resistir e a esperançar em tempos difíceis. Essa aprendizagem, inspirada em Paulo Freire, vem das nossas lutas, de todos os dias; lutas individuais e coletivas. A nossa luta é a luta de muitas outras pessoas. As nossas lutas cotidianas nos fazem nos indignarmos contra as injustiças e desigualdades sociais, sejam elas localizadas no bairro Lomba do Pinheiro, onde residimos; ou, no contexto mais amplo (Brasil, mundo).

No primeiro caso, o bairro possui mais de 100 mil habitantes (não é dado do IBGE - Censo 2010 - mas dos Movimentos Sociais) e uma escola de Ensino Médio. Isso que em 2009, por meio de uma Emenda Constitucional, a Educação Básica obrigatória se estendeu dos 4 aos 17 anos. No caso mais amplo, dois fenômenos nos marcam, a pandemia (mundo) e o desgoverno de Bolsonaro. Mas enquanto docentes, também destacamos a educação em tempos de pandemia que desnudou, ainda mais, as desigualdades sociais pois muitas/os estudantes não possuíam acesso à  internet. As tecnologias como alternativa (ensino remoto), além de acentuar a desigualdade social, vieram acompanhadas da exclusão educacional no Brasil.

Fazemos esses apontamentos, em nossa Carta Pedagógica, porque a leitura crítica da realidade só é possível mediante uma educação problematizadora, Educação Popular freiriana – essa que aprendemos com Paulo Freire.

O direito à Educação de qualidade social ainda está no papel, porque não vem acompanhado de outros direitos e de políticas públicas sociais que materializem esse direito. A Educação Básica como direito social não é levada a sério quando um bairro como o nosso só tem uma escola de Ensino Médio, por exemplo.

Então por que continuamos com Paulo Freire, mediante o contexto de lutas de décadas por vida digna? Por tudo isso, pois com ele aprendemos que a educação tem lado, não pode ficar neutra ou não tomar atitude dentro da realidade que vivemos. E queremos contar-lhes que aprendemos a pedagogia de Paulo Freire na prática e militância nos Movimentos Sociais Populares. Aprendemos que a educação transforma as pessoas, quando elas aprendem a ler, não só as letras, mas realidade de forma crítica buscando sua transformação. 

Aprendemos nos Movimentos Sociais Populares a lutar por um mundo melhor com justiça, igualdade e fraternidade.  Aprendemos que educador aprende quando ensina, e que o conhecimento só tem sentido se for socializado e transformador. 

Aprendemos que o ato pedagógico é um ato político, que acontece dentro e fora da escola, incluindo os Movimentos Sociais Populares. Nesse sentido fechamos nossa carta convidando outros companheiros e companheiras a aprender com Paulo Freire. Sugerimos dois livros para conhecê-lo melhor: “Por uma pedagogia da pergunta” e “A educação na cidade”.  Adoraremos receber uma Carta Pedagógica que conte sobre suas aprendizagens com Paulo Freire, pois toda Carta Pedagógica tem um conteúdo educativo, provocativo, intencional e deseja um retorno. 

Por fim, finalizamos  com uma citação usada como se fosse de Paulo Freire, mas é de Mário Sérgio Cortella: “É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar, porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera”. – Que a gente continue esperançando.

Um abraço e boa luta para nós!

*Acir Luis Paloschi (Conselho Popular, AEPPA/MEP) é liderança comunitária, professor, assessor da bancada do PT, filósofo, pós graduado em Violência Doméstica e estudante Pedagogia;

Fernanda dos Santos Paulo ( AEPPA/MEP, FEJARS ) tem pós-doutorado, doutorado e mestrado em Educação e é especialista em Educação Popular e Movimentos Sociais. Graduada em Pedagogia e Filosofia.

** Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressam a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Marcelo Ferreira