Rio Grande do Sul

Coluna

Que ´venga´ 2022!

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Felizmente a sociedade civil se mobiliza e organiza, com coragem, a rebeldia e a resistência ativa - Valdemir Castro
Unidade e solidariedade são palavras-chave para o ano que está vindo

2022 não será um passeio, na minha modesta avaliação na última semana de dezembro. Só espero que não seja pior que 2021, possibilidade que não dá para descartar.

A começar pela seca que assola o Rio Grande. Em Santa Emília, Venâncio Aires, minha terra e comunidade, onde estou descansando o corpo e a mente entre o Natal e o Ano Novo, todos os dias passam caminhões-pipa levando água para algum lugar mais distante, nos morros da região, enquanto as plantas, especialmente o milho, sofrem com o calor do sol. Ao mesmo tempo, na Bahia, Minas e Estados vizinhos, as chuvas produzem sofrimento e mortes.

Este é apenas um detalhe, o das mudanças climáticas, de um ano, 2022, que se apresenta cheio de dúvidas, angústias, incertezas, para dizer o mínimo. 2021, felizmente, está no final. É preciso pensar no ano que virá, no futuro que se avizinha.

No campo econômico-social, não há como esperar melhoras significativas em 2022. A fome vai continuar, junto com a miséria e o desemprego. Os Comitês Populares contra a Fome, as Cozinhas Solidárias e Comunitárias, a Frente Nacional contra a Fome e tantas outras iniciativas da sociedade civil vão defender quem sofre diante da inação dos governos, especialmente o federal, e da ausência ou extinção de quase todas as políticas públicas.

A pandemia não está superada, dizem os especialistas, ainda que o povo brasileiro tenha dado lições de vida e sabedoria, ao se vacinar, ao tomar todos os cuidados sanitários, apesar dos negacionistas de plantão, amantes da morte.

Não há sinais de melhoria econômica em 2022. O que se desenha é mais inflação, mais riqueza de poucos, mais pobreza de muitos, mais concentração de renda.

No campo político, 2022 será, tudo indica, um ano difícil, cercado de absurdos e loucuras. As eleições de outubro são, neste momento, incerteza total. Em dezembro de 2021, a dez meses da eleição, ninguém pode cantar vitória. Pesquisas eleitorais dizem pouco nesta altura do campeonato. São um indicativo conjuntural, como se sabe e se viu em eleições anteriores. Só lá por julho, agosto, será possível ter uma ideia do que vai acontecer.

Felizmente a sociedade civil, os movimentos sociais e populares, as pastorais progressistas de diferentes igrejas e religiões, os partidos do campo democrático-popular se mobilizam e organizam, com coragem, a rebeldia e a resistência ativa.

De 26 a 30 de janeiro acontece, de forma híbrida, o Fórum Social das Resistências (FSR) em Porto Alegre, com uma grande marcha de abertura dia 26, com Assembleias de Convergência dias 27 e 28 e muitas outras atividades, até o encerramento, no domingo dia 30 de janeiro. Povo organizado e na rua não se deixa dominar.

O Fórum Social das Resistências antecede o Fórum Social Mundial, que acontecerá no México, da 1 a 6 de maio, dizendo de novo que um outro mundo é possível, e cada vez mais urgente e necessário. Em julho, acontecerá o Fórum Pan-Amazônico em Belém (PA), lembrando todas e todos que o cuidado com a Casa Comum e com a natureza é decisivo para o mundo e o futuro da humanidade, e propondo uma sociedade do Bem Viver.

Só depois destes eventos, e de muitas lutas e mobilizações na rua, em 8 de março, Dia Internacional da Mulher, no primeiro de maio, Dia das Trabalhadoras e dos Trabalhadores, acontecerá a eleição de outubro. Será possivelmente a eleição das nossas vidas, tal seu grau de importância, para o Brasil, a América Latina, o mundo.

Neste momento, servem de alento e esperança as eleições do Chile, mostrando que o povo chileno ama a democracia. Há, portanto, sinais de esperança de que o povo brasileiro poderá seguir o povo chileno: restabelecer a democracia, os direitos dos mais pobres, reconstruir políticas públicas de saúde, educação, soberania e segurança alimentar e nutricional, agroecologia e produção orgânica, reafirmar a participação e o poder popular.

Nada está definitivamente perdido, pois. Que ´venga´ 2022. E que 2021 se despeça com dignidade, mas sem saudade. Unidade e solidariedade são palavras-chave para o ano que está vindo. ESPERANÇAR freireanamente: com mobilização social, trabalho de base, formação na ação.

Feliz 2022 para todas e todos, na boa luta: denúncia, anúncio, profecia, utopia e sonho.

** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Marcelo Ferreira