Rio Grande do Sul

Coluna

Neste novo ano, que o exercício de ouvir aproxime ainda mais as mulheres em sua diversidade

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"Cada uma de nós tem uma trajetória que merece ser manifestada" - Nireuda Longobardi
Pedimos a algumas mulheres que enviassem seus desejos para as outras mulheres no ano de 2022

O que reúne mulheres tão diferentes, desde uma menina de 9 anos a algumas "senhoras" entre 60 e 70; moradoras de centros e periferias; lésbicas, bissexuais, héteras; cooperadas, artesãs; quilombolas; "hermanas" e "brasileñas"; negras, brancas, pardas?

Em finais de 2021, todas estávamos profundamente cansadas, extremamente agitadas, certamente, cheias de inseguranças e com muitas, mas muitas atribuições.

Como avaliar um ano que parecia ter decorrido como se fosse um mês do ano anterior? Principalmente, como iniciar o planejamento do ano seguinte e manter acesa a disposição para atuar no sentido da superação das opressões e da exploração?

Nós, da Coletiva Feminista Outras Amélias, fizemos o que todas nós mulheres fazemos nestes casos: buscamos apoio, solidariedade e firmeza para continuar o caminho, nas vozes, nos afetos e na força de outras mulheres. Decidimos simplesmente pedir para algumas mulheres de nossas relações que nos enviassem, em poucas palavras, seus desejos para as outras mulheres no ano de 2022.

O resultado foi exatamente o que esperávamos: a injeção de ânimo ao ler mensagens de mulheres que estão passando por todos os perrengues possíveis, desde desemprego, até a sobrecarga com tarefas de cuidados da família, num período de crise sanitária. E achamos que seria justo compartilharmos a generosidade destas amadas com mais mulheres. Por isto, aí vai…

“Que 2022 seja melhor que 2021. Que sigamos alertas e unidas, nos somando cada vez mais na luta para garantir nossos direitos. Que não falte comida na mesa de ninguém!!”
Denise Laitano, 60 anos, Col. Feminista Outras Amélias

“Que las mujeres conozcamos nuestros verdaderos/genuinos/auténticos deseos y necesidades porque siguen modelados y determinados por la colonización de nuestra singularidad que ejerce el sistema patriarcal. Que sepamos de una vez que las deudas externas de nuestros países son castigo directo sobre los cuerpos, energía y capacidades de nosotras las mujeres. Que sepamos que cuando deseamos aún estamos modeladas por el sistema patriarcal, y que sepamos que la deuda la pagamos más nosotras que ellos. Y que nos amemos aún más. Porque las formas del amor también están colonizadas/formateadas/modeladas por el sistema patriarcal... Tengo mil deseos más, pero pueden estar colonizados.”
Claudia, Cooperativa La Asamblearia, Buenos Aires/Argentina

“Desejo a cada uma que siga alçando voos tal qual Fênix, aquela que renasce das cinzas, com força para levar sua carga ainda que, por vezes, pareça muito pesada. Também, sem esquecer de imprimir no voo a esperança de encontrar novos horizontes e alguma leveza para apreciar o trajeto.”
Clarice Sampaio Roberto, Psicanalista, Servidora da saúde pública municipal - POA/RS

“Desejo que todas nós possamos perceber e compreender profundamente nossas opressões e juntas lutar por nossa liberdade!”
Patrícia Meireles Moisés, psicóloga, mãe da Carolina e de um bebê anjo, filha de Ivone, feminista, analista social da URBEL/PBH e sonhadora com um mundo mais justo

“Desejo em 2022 emprego para todas mulheres que em sua grande maioria são arrimo de família e são elas as principais responsáveis e provedoras do sustento da casa e dos filhos.”
Mariele Silveira, 42 anos

“Desejo paz, amor e saúde, e que esse ano seja um ano de mais união entre as mulheres, e paciência e ouvir mais a pessoa que está ao seu lado.”
Jocelaine, 45 anos, Cascata, Col. Feminista Outras Amélias

“Desejo paz, amor e saúde, que com saúde podemos conseguir o que desejamos. Sem saúde não conseguimos nada.”
Leonira, 75 anos

“Desejo paz, amor e saúde.”
Nathalie, 9 anos

“Desejo a todas as mulheres que lembrem que a base do patriarcado é a submissão das mulheres. De todas nós mulheres. Negras, brancas, indígenas e lésbicas. Desejo que a gente fortaleça nossos laços e que juntas lutemos contra o patriarcado no Brasil representado pelo agronegócio, pelos capitalistas e pelas mentiras de algumas seitas religiosas que combatem todas as crenças e práticas das religiões afrodescendentes e indígenas.”
Clarisse Chiappinni

“Que tenha menos violência contra a mulher, mais igualdade.”
Miriam, Cascata

“Eu desejo mais fé na gente enquanto mulher, enquanto coletivo, menos competição entre nós e mais colaboração. Mais amor, mais cuidado.”
Katiúcia, Cascata, Col. Feminista Outras Amélias

“Desejo para as mulheres, em 2022, mais empoderamento, independência, liberdade. Que na condição de mulher assuma sua força e mostre para o mundo. Não ser mais submissa, que possamos traçar um caminho forte e independente, e se tiver um companheiro, que seja lado a lado. Que as mulheres se respeitem entre si, não competir ou olhar outra mulher como adversária, mas como uma irmã na mesma condição.”
Márcia Nascimento, 59 anos

“Meu desejo em 2022, que possamos conscientizar mais mulheres, principalmente mulheres negras, para irmandade, desejo mais comprometimento com a causa.”
Helena Fagundes, Bom Jesus, Col. Feminista Outras Amélias

“Desejo para absolutamente todas as mulheres, que se encontrem no seu amor próprio e melhores versões de si e permaneçam apenas onde puderem amar desse modo. Especialmente às mulheres brancas, desejo, desde fundo e dentro, que enxerguemos os privilégios de nossa cor e usemos de alavanca para proporcionar melhora na vida de mulheres com outros fenótipos.”
Manoela, 29 anos

“Desejo que tenhamos muita saúde para lidar com tudo que está por vir. E que é preciso ter respeito com os processos. Se organizar direitinho na lutas para termos as glórias.”
Luana de Brito, 32 anos

“Eu desejo para todas as mulheres, em 2022, que esse ano novo que venha ser um ano de decisão, atitudes, que elas se valorizem mais, se amem mais, se coloquem em primeiro lugar, depois os filhos e depois o marido, se ele valer a pena de ser colocado em terceiro lugar. Se ele se ele te valorizar, te respeitar, te ver de verdade. Diga não à humilhação, diga não à violência doméstica.”
Ligia Letícia Silva de Oliveira, Quilombola, Quilombo da Família Silva

Optamos por não agrupar as manifestações por tipo de desejo. Porque, em um mundo que busca nos invisibilizar, é importante lembrar que, embora estejamos reunidas em muitas das dificuldades que vivemos e, especialmente, na capacidade de fazer frente a elas, cada uma de nós tem uma trajetória que merece ser manifestada.

Com a certeza de que, para quem leu o texto até o final, 2022 inicia com ânimo renovado, apesar do difícil cenário em que vivemos, desejamos que façam o exercício de ouvir seus desejos, para si e para outras mulheres, e que a gente se reúna para fazer deles realidade. Porque é isto que pode nos aproximar ainda mais, em nossa diversidade.

* Este é um artigo de opinião. A visão das autoras não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Marcelo Ferreira