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Zoravia Bettiol: talento, amorosidade e engajamento a serviço da democracia

Em entrevista, artista fala sobre sua trajetória, papel das mulheres, defesa da democracia e poder da arte

Hoje com 87 anos de vida e mais de 60 de carreira, Zorávia é conhecida por seu engajamento social - Foto: Igor Sperotto/Ecarta

Entrevistar a artista plástica e arte educadora Zoravia Bettiol se torna uma conversa prazerosa cheia de histórias e ensinamentos. Sua fala tranquila e otimista envolveu a todos no programa Espaço Plural - Debates e Entrevistas desta quarta-feira (11), na Rede Estação Democracia (assista no final desta matéria). Além de contar sobre sua vida, ela falou sobre a evolução do papel das mulheres, sobre a prática do voluntariado, o poder da arte e a defesa da democracia.

Zoravia, hoje com 87 anos de vida e mais de 60 de carreira, iniciou a entrevista falando sobre seu novo interesse de trabalho - as animações. Ela conta que começou fazendo historinhas para seu neto, que demorou a conhecer por ter nascido durante a pandemia de covid-19, e hoje considera algo muito apaixonante. Durante toda a conversa, ela pontua que sempre foi muito dinâmica e, quando se enjoa de alguma técnica, busca outra para desenvolver seus trabalhos.

A artista também faz questão de citar diversas vezes o quanto teve a sorte e felicidade de ser criada por uma família amorosa e respeitosa, que a ensinou muitas coisas sobre arte e meio ambiente de forma natural e simples. E sempre a incentivou e valorizou o seu trabalho. “Muitos amigos dizem: pode me dar tal coisa? Mas minha família não, sempre perguntaram: qual o preço? É o respeito pela arte e pelo meu trabalho”, lembra Zoravia.

Associação Cristal Florido - 11 anos de dedicação

Zoravia também é conhecida pelo seu engajamento social. Quando retornou ao Brasil, depois de morar nos Estados Unidos, ela procurou instituições para fazer trabalhos sociais ligados à arte, mas não encontrava. Foi, então, que junto com outras pessoas interessadas, criou a Associação Cristal Florido, que levava oficinas de artes no turno inverso nas escolas. “Eu acho que todo mundo deveria trabalhar com outras realidades, outros Brasis, que estão muito perto da gente (…) a gente mais aprende do que ensina”, pondera.

As mulheres assumindo seu papel

Em determinado ponto, Zoravia lembra que quando casou com o também artista Vasco Prado, 21 anos mais velho que ela, as pessoas falavam abertamente que ele era lindo, perfeito, e ela apenas “mais uma”. Ela diz que não se deixava abalar, pois por sua criação amorosa e respeitosa, tinha convicção de que em algum momento as pessoas reconheceriam seu talento.

Mas diz saber que esse tipo de coisa pode afetar muito as mulheres. “Antigamente, as famílias visitavam o ateliê final de semana e a mulher escolhia uma obra e o marido pagava, Hoje em dia, as mulheres chegam, escolhem, pagam (...) estão assumindo seu papel que sempre foi de opressões seculares”. A artista ainda afirma que as ruas de Porto Alegre deveriam ter o nome de tantas mulheres importantes e representativas, não só nomes de homens do exército.

Defesa da Democracia e o papel das artes

Zoravia analisa que hoje no Brasil, as grandes lacunas sociais de fome, de falta de acesso à educação, etc não são apenas em função da pandemia, mas principalmente “por este senhor que está na presidência, que é um genocida, perigoso, que não ama o povo brasileiro”. Ela lembra que “nós como sociedade civil não podemos fazer o papel do Estado, mas podemos ampliar a nossa ação para suprir essa lacuna”. 

Neste sentido, ainda fala com entusiasmo de iniciativas como o Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático de Direito, da qual faz parte, por promovem reflexões e ações concretas junto à população. E apesar de na sua idade o voto não ser mais obrigatório, ela o defende como forma de trazer de volta as coisas boas para o povo brasileiro. “Eu sempre vou votar porque eu me sinto espontaneamente envolvida e me sinto responsável pela soma geral”.

Por que querem calar os artistas?

Quando questionada sobre por que os governos autoritários sempre tentam enfraquecer as artes e a cultura e, muitas vezes, tentam calar os artistas, Zoravia é direta. “Os artistas não almejam o poder, mas intrinsecamente o trabalho da arte tem um poder, uma penetração muito grande. Os governos autoritários têm medo pois a arte vai num dos pontos mais frágeis e vulneráveis e dá o seu recado; mostra possibilidades de transformação; e o autoritarismo precisa de concentração de poder para atuar como quiser.”

Na entrevista, Zoravia Bettiol ainda passou por várias histórias pessoais sobre sua família, viagens, exposições e formações, além de falar sobre o processo de implantação do seu Instituto no Centro de Porto Alegre.

Assista à entrevista na íntegra:

 

Edição: Rede Estação Democracia e Marcelo Ferreira