Rio Grande do Sul

SOBERANIA ALIMENTAR

Combate à fome: um dia na rotina da Cozinha Solidária do MTST

Desde o seu início, a iniciativa já serviu em média 51 mil marmitas à população vulnerável em Porto Alegre

Porto Alegre |
A Cozinha da Azenha faz parte de um projeto nacional contra a fome idealizado pelo MTST durante a pandemia da covid-19 - Foto: Clara Aguiar

Localizada na Avenida Azenha, nº 608, em Porto Alegre, a Cozinha Solidária do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) está prestes a completar um ano de funcionamento. Aberta em 26 de setembro de 2021, a cozinha surgiu com o objetivo de minimizar a fome agravada pela combinação das crises econômica, política e sanitária no Brasil. De acordo com o Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional do Rio Grande do Sul (Consea-RS), mais de 1 milhão de pessoas passam fome no estado. A cada 10 famílias, sete enfrentam dificuldades em conseguir comida ou não têm o que comer. 

A Cozinha da Azenha faz parte de um projeto nacional idealizado pelo MTST que visou a instalação de cozinhas solidárias em diversas regiões do país durante a pandemia da covid-19. Na capital gaúcha, iniciou suas atividades em uma ocupação. Como o imóvel pertencia à União, foi despejada em menos de um mês. No mesmo dia, a cozinha foi realocada para outro local cedido por uma moradora da região, que possibilitou o prosseguimento da preparação das refeições. Por nove meses, as marmitas foram distribuídas na Praça Princesa Isabel, também situada na Av. Azenha.

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Diante da urgência da fome, a equipe do Brasil de Fato RS acompanhou um dia de trabalho dos voluntários que atuam na Cozinha Solidária da Azenha, agora instalada em um imóvel alugado, e ouviu aqueles que dependem dela para se alimentar. 

Mãos que alimentam

A abertura do portão da Cozinha da Azenha acontece pontualmente ao meio-dia. Mas os voluntários que atuam no espaço já estão a postos por volta das 9h para assegurar o preparo de aproximadamente 250 marmitas diárias. "A minha avó me ensinou a sempre ajudar os outros, ela sempre disse pra mim: 'o que tu aprender, ajuda a mostrar para os outros, seja um arrozinho, seja um feijãozinho. Fazendo com carinho fica mais gostoso'", conta a coordenadora da cozinha, Isaura Aparecida Machado Martins, 42 anos, explicando uma das motivações que a levou a trabalhar como voluntária na cozinha. Atualmente, cinco pessoas são responsáveis pela elaboração das refeições. 


Isaura é voluntária na Cozinha da Azenha desde quando o espaço começou a funcionar / Foto: Clara Aguiar


Atualmente, cinco pessoas são responsáveis pela elaboração das refeições. / Foto: Clara Aguiar


De acordo com os voluntários, há dias em que a Cozinha da Azenha distribui mais de 300 marmitas / Foto: Clara Aguiar


Após meses servindo almoço na rua, agora a cozinha possui espaço próprio / Foto: Clara Aguiar

Amenizando as dores de quem tem fome 

A campanha "Cozinhas Solidárias" do MTST consiste na criação de espaços que oferecem pelo menos uma refeição digna todos os dias para as famílias das periferias dos centros urbanos e para quem mais necessitar. Ao todo, já são 31 locais onde as marmitas são distribuídas gratuitamente por todo o país. "Se não fosse a cozinha, eu não teria como almoçar. Ela provém o meu alimento", relata Ângelo da Silva, ex-motorista de aplicativo que há um ano se encontra em situação de rua, sobre a importância que a Cozinha Solidária da Azenha tem na sua vida. 

"No momento, eu estou desempregado. Não consigo pagar nem aluguel. É a Cozinha Solidária que está me ajudando com alimento. Estou fazendo 'bico', mas é muito pouco. Se não fosse a cozinha, eu não teria como almoçar." Sem ter como pagar por uma alimentação, sequer por um endereço, Ângelo tem buscado acolhida em albergues da cidade. 


A abertura do portão da Cozinha da Azenha acontece pontualmente ao meio-dia, de segunda a sexta / Foto: Clara Aguiar


Iniciativa já serviu em média 51 mil marmitas à população vulnerável em Porto Alegre / Foto: Clara Aguiar


“Se não fosse a cozinha, eu não teria como almoçar", relata o ex-motorista de aplicativo Ângelo da Silva / Foto: Clara Aguiar

Em defesa de uma refeição digna

Em quase um ano de atividades, a Cozinha da Azenha estima ter distribuído em média 51 mil marmitas. Para além do fornecimento da alimentação, o espaço também se propõe a ser educativo. "A cozinha solidária é muito mais do que um prato de comida. A gente brinca que além de ela alimentar o corpo, ela alimenta a alma também. É um espaço de atividades, de cinema, de rodas de conversa, de assembleias a cada 15 dias debatendo a fome, tem wifi... É um espaço de interação", destaca Eduardo Osório, da coordenação do MTST RS. 

Semanalmente, os voluntários do movimento se mobilizam em frente aos mercados para pedir doação para aqueles que estão fazendo compras. "Nisso, a gente vai ganhando doação de alimentos, de roupas. E, de acordo com a necessidade, a gente vai distribuindo", explica o coordenador. Segundo ele, a cozinha existe exclusivamente por meio de doação. "Ela não recebe um centavo do dinheiro público. Dependemos da arrecadação de alimentos e da vakinha que alimentam as cozinhas solidárias nacionais. É muito importante que todo mundo possa contribuir, pelo PIX, por meio de 1kg de alimento, de um hortifruti."


A Cozinha da Azenha oferece uma refeição digna todos os dias para as famílias das periferias e para quem mais necessitar / Foto: Clara Aguiar

Como contribuir

A Cozinha Solidária da Azenha recebe doações direto no local, na Avenida Azenha, nº 608, de segunda à sexta-feira, das 9h às 14h. O MTST também possui uma página de financiamento coletivo, além de receber doações via PIX (chave: [email protected]).


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Edição: Katia Marko