Rio Grande do Sul

OPINIÃO

Artigo | Politicamente Cristã: a Igreja e as eleições de 2022

“Foi em nome de Deus, da moral, da ordem e da segurança que mataram Jesus” — Pr. Henrique Vieira

Brasil de Fato | Porto Alegre |
"Permanecer na igreja evangélica é resistência"
"Permanecer na igreja evangélica é resistência" - Ricardo Stuckert

Com o microfone na mão, abri meu voto no culto, a igreja precisa saber que votar em Lula não é pecado. Precisa saber que nenhuma liderança religiosa pode decidir em quem ela vai votar. O coronelismo é história, chega!

O projeto de tomar posse do discurso cristão pela direita brasileira iniciou com um batismo no Rio Jordão, em maio de 2016. Desde então, a população evangélica acredita fielmente que votar em candidatos de esquerda é andar no caminho contrário da sua religião.

Quando estou falando sobre a Bíblia, eu gosto de substituir a palavra “amor” pela palavra “respeito”. Esse amor que Jesus ensina aos seus seguidores é sobre compreender a dor do outro, se colocar no lugar dele e sempre estender a mão ao que precisa. Eu, nascida em um lar cristão e ativa na igreja que frequento, encontrei nos discursos de esquerda a semelhança com os ensinamentos bíblicos que ouço desde criança.

Ser politicamente cristão é defender o amor, a liberdade religiosa e as diferenças, pois ser um evangélico na política, não é fazer com que todos se convertam ao cristianismo, mas lutar até o fim para que o respeito à humanidade se sobressaia à barbárie.

Por ser ativa no movimento de esquerda e na igreja, acabo tendo que “engolir a seco” muitos comentários que diminuem a minha causa. Hoje, a maioria deles acabo sabendo por terceiros, mas em um dos casos fui chamada de “demônio”. A doutrina da extrema direita está com as portas das igrejas abertas sem nenhuma sutilidade, onde não é vergonha alguma apoiar candidatos que defendem tortura, ofendem mulheres, negros e LGBTs, pelo contrário, é vergonhoso apoiar quem defende comida no prato, direitos trabalhistas, educação e cultura.

O eleitorado cristão foi decisivo nas eleições de 2018, mas as doutrinas que as lideranças religiosas estão usando para determinar seus candidatos têm sido seletivas. Muitos hoje permanecem ao lado do ódio, ignorando o discurso falso contra a corrupção, ignorando a defesa pela família, que só defende a família do presidente e os seus amigos próximos, ignorando os frutos do Espírito, que nos é ensinado em Gálatas 5: 22-23, “Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Contra essas coisas não há lei.”

Permanecer na igreja evangélica é resistência. Não pela doutrina cristã, mas por quem a tem interpretado. É muito fácil acreditar no que se ouve vindo do púlpito, afinal, é um “escolhido de Deus” que está falando. Me sinto no dever de permanecer falando das Escrituras e do amor que Jesus nos ensinou. Me sinto no dever de mostrar aos membros que eles não vão para o inferno se votarem no Lula e em todo o seu time. Me sinto no dever de mostrar que eles não estão sozinhos, permanecendo firme, resistindo. 

* Melissa Barão é evangélica e militante do Levante Popular da Juventude no RS. 

** Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko