Rio Grande do Sul

Opinião

Artigo | Como dialogar com um bolsonarista?

Vamos furar nossa bolha e partir para o diálogo ou supor que tudo está ganho ao custo de uma grande surpresa no dia 30?

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
"O resultado da eleição passa pela nossa capacidade de dialogar" - Divulgação

Como conversar com alguém que acredita que fuzilar a petralhada é um caminho? 

É possível argumentar que 45 dias de atraso em responder o e-mail da gigante farmacêutica Pfizer deixou de salvar milhares de vidas? 

Ou que o isolamento social foi determinante tanto para diminuir a propagação do vírus quanto para estruturar o sistema de saúde e postergar o colapso que assistimos apavorados e impotentes? 

Existe possibilidade de mostrar que a política ambiental adotada pelo governo favoreceu que neste ano a Amazônia atingisse o pior índice de queimadas desde 2010? 

Mas e se falássemos sobre o quanto o conceito de família adotado pelo governo marginaliza e tenta apagar toda a diversidade que existe em nosso país? 

E mais, se questionarmos o quanto as falas irresponsáveis e agressivas do presidente da República fomentam o ódio na população? 

Sei lá se interrogar sobre rachadinha, laranjas e 51 imóveis comprados com dinheiro físico abriria novas visões de mundo… 

Ou se o melhor investimento deveria ser em Segurança Pública ao invés de facilitar o acesso de armas para uma população esgotada e com sede de fazer "justiça" com as próprias mãos. 

Interessante também seria pensar o que levou o Brasil a retornar ao mapa da fome? 

E o projeto econômico do atual governo, tem dado certo? 

Será que a volta da centro esquerda ao Executivo seria tão ruim assim? 

Qual o interesse do apoio internacional na eleição de um candidato mais democrata? 

Será que isso fortaleceria as relações internacionais do Brasil e assim atrairíamos mais investimento? 

E um país que além de investir, não nega a ciência, teria um maior desenvolvimento tecno-científico e a médio prazo não precisaria importar tanta tecnologia?  

E se fosse um governo que respeitasse a diversidade cultural, religiosa, étnica e sexual? Teríamos dias de mais paz e tolerância? 

Bem, talvez com um bolsonarista esse diálogo encontraria um forte impasse. Mas e com um eleitor de Bolsonaro? Seria possível argumentar? É primordial situar uma fundamental diferença: a possibilidade de circular a palavra.

Enquanto os primeiros estão perdidos em imaginárias conspirações sobre comunismo, terraplana, ideologia de gênero, suposta projeção mitológica na figura do presidente salvador, dentre tantos outros absurdos, os segundos apresentam motivos legítimos dentro da sua ideologia. E nós, o que faremos?

Vamos furar nossa bolha e partir para o diálogo ou supor que tudo está ganho ao custo de uma grande surpresa no dia 30 de outubro? Eu, enquanto psicanalista, aposto na palavra. Vamos conversar?

* Graduado em Psicologia Clínica e Ciências Biológicas, mestre em Genética e Biologia Molecular. Atualmente realiza atendimento clínico embasado no referencial teórico e ético de Jacques Lacan.

** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko