Rio Grande do Sul

CRIME ELEITORAL

Empresa gaúcha é denunciada por ameaça de redução de atividades caso Lula vença o 2º turno

Stara, de empresário bolsonarista, enviou comunicado a fornecedores em tom de chantagem ameaçando reduzir 30% em 2023

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Proprietário da Stara Indústria de Implementes Agrícolas é vice-prefeito de Não-Me-Toque (RS) pelo DEM e doou R$ 350 mil para a campanha de Bolsonaro - Reprodução

A empresa Stara Indústria de Implementes Agrícolas, do município gaúcho de Não-Me-Toque, que enviou um comunicado a seus fornecedores, nesta segunda-feira (3), com ameaças de redução de atividade em caso de vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na corrida presidencial, é alvo de denúncias por crime eleitoral e coerção ao direito de voto. As federações Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV) e PSOL-REDE protocolaram representações no Ministério Público Eleitoral e no Ministério Público do Trabalho, na tarde desta terça (4), solicitando pedidos de investigação urgentes.

O documento que originou as denúncias, assinado pelo diretor administrativo da Stara, Fábio Augusto Bocassanta, informa que a empresa cortará em 30% o orçamento caso se mantenha no segundo turno o resultado do primeiro. As representações apontam ainda que circula nas redes sociais a cópia de um pedido da empresa em talonário próprio onde consta mensagem sobre o cancelamento do pedido em caso de vitória de Lula.


Documento que circula nas redes sociais teve veracidade confirmada por diretor da empresa / Reprodução

A denúncia ao MPE destaca ainda que os trabalhadores da Stara receberam material impresso com nítida propaganda em prol do candidato Bolsonaro, na qual há afirmações sobre os supostos malefícios do comunismo e incitando a que “Nossa Bandeira jamais será vermelha”.

Para a deputada estadual reeleita, Luciana Genro (PSOL), uma das que protocolou a representação no MPT, a denúncia é muito importante para evitar que empresários usem suas posições de poder para intimidar os trabalhadores com ameaça de demissão. "Nós estaremos atentos a qualquer movimentação do empresariado reacionário do Rio Grande do Sul e do Brasil no sentido de fazer chantagem a seus trabalhadores", disse.


Protocolo da denúncia: Marcio Souza (Presidente do PV), Luciana Genro (PSOL), Maritânia Dallagnol (advogada), Fernanda Melchionna (PSOL), Juçara Dutra (vice-presidenta do PT/RS), João Lúcio Costa (advogado) e Andrezão Costa (Presidente estadual da Rede) / Foto: Samir Oliveira

Diretor da empresa é doador da campanha de Bolsonaro

A Stara foi beneficiada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia com uma subvenção de R$ 2,1 milhões. O contrato foi firmado em 2021, por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, destinado ao investimento em projetos tecnológicos.

O vice-prefeito de Não-Me-Toque, Gilson Lari Trennepohl (DEM), é o proprietário e conselheiro de administração da empresa. Ele é um dos maiores doadores das campanhas de Jair Bolsonaro (PL) e de Onyx Lorenzoni (PL) neste ano. Em levantamento do UOL de 4 de setembro, ele aparecia como o segundo maior doador privado a Bolsonaro registrado no TSE, com uma doação de R$ 350 mil. A Onyx, que concorre ao governo do RS, conforme dados do TSE, Trennepohl doou R$ 300 mil.

O proprietário da Stara também é objeto de procedimento por abuso de poder econômico por ter envolvido a empresa nas manifestações bolsonaristas de 7 de setembro. Em vídeo publicado por ele nas redes sociais, afirma que a ação se deu por conta de desfile com tratores e máquinas agrícolas em Brasília e que “as máquinas estavam lá e nem a Brasília eu fui”.

Na decisão, o corregedor-geral Benedito Gonçalves afirma que o empresário bolsonarista “fez à expensa de terceiros para marcar a proximidade do candidato Bolsonaro ao agronegócio, ao ponto de os veículos serem dirigidos por motoristas com camisetas em apoio a este”.

O que diz a Stara

Em vídeo publicado nas redes sociais da Stara, o filho de Gilson e diretor-presidente da empresa, Átila Stapelbroek Trennepohl, confirmou a veracidade do comunicado. Contudo, disse que o conteúdo não se configura ameaça, mas que é uma mensagem exclusiva a fornecedores com projeções para o ano de 2023. “Não acreditem em fake news que falam que a Stara vai demitir 500, 1.000 ou 1.500", disse. "Isso não é verdade e muito menos queremos coagir pessoas para votar no A ou votar no B", defendeu.

Empresa vive bom momento, segundo sindicalista

Publicação da Federação dos Metalúrgicos do RS afirma que os dirigentes sindicais da região onde localiza-se a Stara também denunciaram e empresa. Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santa Rosa (RS), Sávio André dos Santos, as fábricas da região estão vivendo um bom momento, com aumento de produção. “Esse anúncio da Stara vai na contramão da realidade”, disse, destacando que a unidade da empresa no município tem em torno de 400 trabalhadores e está construindo uma nova fábrica na cidade.


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Edição: Katia Marko