Rio Grande do Sul

PAPO DE SÁBADO

Produtora da primeira feira ecológica do Brasil fala sobre os 33 anos de história da FAE

A agroecologista Claudia Bos Wolff faz parte da Feira de Agricultores Ecologistas de Porto Alegre desde sua origem

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Cláudia, na foto com sua família produtora de mel, fez parte do grupo de pessoas que fundaram a FAE em 1989 - Foto: Arquivo pessoal

A primeira feira ecológica do Brasil nasceu no Dia Mundial da Alimentação de 1989, em Porto Alegre. Atualmente com 44 bancas de 32 municípios gaúchos, a Feira de Agricultores Ecologistas (FAE) celebra seus 33 anos de história, neste sábado (15), com apresentações culturais, ações de educação ambiental, degustação de produtos e o tradicional abraço na feira.

A longa vida da FAE, que ocorre todo o sábado das 7h às 13h, na primeira quadra da Av. José Bonifácio, no Parque Farroupilha (Redenção), é marcada por sonhos, conquistas, desafios e autogestão. Nasceu do encontro entre a cidade que quer consumir alimentos saudáveis e produtores que plantam e colhem sem usar venenos e respeitando o meio ambiente.

Para contar um pouco desta história que inspirou a criação de outras tantas feiras ecológicas pelo país, o Brasil de Fato RS conversou com uma produtora que está na FAE desde o início. Claudia Bos Wolff é agrônoma e produtora familiar de mel e derivados, e ovos.

Além de relembrar como tudo começou, ela fala do crescimento da feira, da importância do olho no olho entre consumidor e produtor, dos desafios e da resistência para que a feira siga autônoma. Também traz sua avaliação sobre a relevância da agroecologia em um país que voltou ao mapa da fome e que incentiva o avanço de monoculturas sobre florestas e campos nativos.

Confira a entrevista:

Brasil de Fato RS - Vamos começar falando um pouco de você, que produtos vocês produzem, se é uma produção familiar.

Claudia Bos Wolff - Eu sou a Claudia Bos Wolff, tenho produção principalmente de mel, sou apicultora, produção de mel e derivados, e produção de ovos também, de todo esse sistema orgânico. A produção basicamente é familiar, somos eu, meu marido, e tem dois parceiros, um na parte de aves e outro na apicultura. A gente envolve também os filhos, mas já um pouco menos.

Moro em Viamão, as abelhas eu tenho na região de Caçapava do Sul. Participo da Feira de Agricultores Ecologistas desde o início, com mel. A gente tinha as abelhas mais próximo aqui da região, mas na época nem existia ainda a lei de orgânicos, a gente fez os critérios todos na Colmeia, na FAE, e quando saiu a legislação de orgânicos, foi estabelecida uma distância grande para apiários de lavoura com agrotóxicos, de estradas movimentadas. Então mudei pra região lá de Caçapava, na época que a gente mudou pra lá até nem tinha lavoura nenhuma, agora a gente tem que cuidar muito, onde tem lavoura tem que mudar os apiários de local, porque com o tempo houve uma invasão de soja ali na região.

Foi essa união, com a necessidade aqui dos consumidores de ter um alimento saudável, e dos produtores de poder viabilizar esse alimento, poder realmente vender e escapar do mercado convencional

BdF RS - A Feira Ecológica da Redenção está completando 33 anos. É a feira agroecológica mais antiga do Brasil. Como se deu esse início lá no final dos anos 1980?

Cláudia - A feira começou com a Cooperativa Colmeia, que bem no início fez duas edições de feiras isoladas, que foram chamadas de Tupambaé, em anos diferentes. Na última Tupambaé se decidiu fazer a feira mensal. Foi aí que começou a Feira de Agricultores Ecologistas.

Foi um movimento que iniciou com os consumidores de Porto Alegre, pela Cooperativa Colmeia, e que buscava uma alimentação saudável, sem agrotóxicos e também com o foco em uma alimentação integral. Tanto que por isso até hoje a gente mantém na FAE a questão de ter produtos integrais, não ter farinha branca, arroz também não ser branco, é só integral. Então isso tudo veio da época da própria Colmeia, e a gente manteve.


Cláudia em sua banca de mel na FAE em 1991 / Foto: Arquivo pessoal

Eu não lembro bem quantos que eram no início, eu tenho uma lembrança de 17, não eram 20 bancas, bem no início, de agricultores produtores. Então a feira foi criada pela Colmeia, só que desde essa criação se procurou ter uma autogestão. Por mais que tivesse ligada à Colmeia, com algumas pessoas da cooperativa que dessem esse apoio na estruturação da feira, se criou já a autogestão pelos próprios agricultores. Sempre teve uma comissão de agricultores, de feirantes que organizava a feira, junto com alguém da Colmeia.

BdF RS - Dá pra dizer então que a FAE surgiu do encontro entre o campo e a cidade, entre a necessidade do consumidor com a necessidade do produtor?

Cláudia - Sim, porque foi um momento em que, no final da década de 1980, já tinha ocorrido o boom da criação da revolução verde. A revolução verde foi quando se começou a produzir com agrotóxicos aqui no estado e alguns produtores ainda eram resistentes a essa produção com veneno. Foi essa união, com a necessidade aqui dos consumidores de ter um alimento saudável, e dos produtores de poder viabilizar esse alimento, poder realmente vender e escapar do mercado convencional. Porque no mercado convencional tu produz com veneno e tu tem que ter um padrão de produto e, muitas vezes, principalmente no início, quando tu começas a produzir sem veneno, muitas vezes a produção ainda não é tão bonita quanto o padrão que o mercado quer.

BdF RS – A Cooperativa Colmeia, quem formava ela nessa época? Eram ambientalistas?

Claudia - Sim, ambientalistas. O início dela foi através de uma organização que se chamava GFU, que é a Grande Fraternidade Universal, eram ambientalistas, e também junto com a Agapan (Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural). Então foi dali que se formou, eu não estava totalmente no início da Colmeia, mas eu sei que era a Agapan e o GFU que participavam e acabaram formando a Colmeia.

Além da FAE ter ela mesmo crescido, ela criou filhos em outros lugares

BdF RS – Quem vai na Redenção aos sábados de manhã encontra duas feiras lado a lado, a FAE e a FEBF - Feira Ecológica do Bom Fim. Mas o aniversário de 33 anos é só da FAE, certo?

Cláudia – Então, o aniversário é da FAE, a Feira de Agricultores Ecologistas. Ali na José Bonifácio, como a feira iniciou por essa iniciativa da Colmeia e com a autogestão, quando começou na segunda quadra a ter outra feira, no início essa feira foi uma imposição, em parte, algo criado pela prefeitura. Na época a gente queria manter a nossa própria autogestão e garantir que não viesse gente de fora, que não fosse de produção ecológica. Então esse era o medo, e realmente no início quando começou a da segunda quadra, teve muita gente que não tinha produção ecológica e estava lá, porque a prefeitura de Porto Alegre não teria como controlar ou fiscalizar uma produção de alguém que vinha de fora de Porto Alegre, por isso que desde o início ficaram duas feiras. Agora a segunda quadra é todo mundo de produção ecológica, todos certificados também.

Então os 33 anos são da FAE, e a FAE cresceu, tanto que além de ter vindo outras pessoas para essa segunda quadra, se criou outras feiras em outros locais. Se criou a feira no Menino Deus, que é no pátio da área da Secretaria da Agricultura, que foi criada também pela própria Colmeia na época, ela começou inicialmente no sábado, e aí depois se criou uma feira na quarta-feira.


Festa de 18 anos da FAE, em 2007 / Foto: Arquivo pessoal

Além disso, foram criadas feiras em outros locais e outros municípios no interior do estado também. A ideia era justamente divulgar a produção ecológica e ampliar essa produção e o acesso aos alimentos para todos. Essa sempre foi, digamos, a nossa batalha tanto na feira quanto na Colmeia, não de ter um produto bom e elitizar ele, como muitas vezes aconteceu em outros locais do Brasil, de tu ter produto a nível de exportação ou um valor caríssimo, a ideia era ter um alimento, e a gente segue nisso, oferecer um alimento saudável pra todos. Então na feira os preços são normalmente preços comparáveis a produto convencional de supermercado, não é muito mais caro, se é mais caro é porque o custo de produção ainda está muito alto, mas os preços não são muito mais caros. Então com isso se teve esse objetivo também de divulgar e criar feiras em outros locais, outros municípios.

BdF RS - Que foi um reflexo da FAE...

Cláudia - Sim, então a gente pode dizer além da FAE ter ela mesmo crescido, ela criou filhos em outros lugares. Então agora em Porto Alegre tem feiras em vários outros pontos, bairros. E no estado a gente tem Caxias, e eu lembro, até foi em 1992, quando começou a feira lá em Caxias, a gente saiu, alguns produtores da FAE foram para lá apoiar, diversificar também a produção, porque as vezes quando uma feira começa, muitas vezes tem pouco produto, poucos produtores, pouca diversidade. Então a gente saía daqui, alguns produtores da FAE, pra fazer feira lá, no foco de incentivar e apoiar, porque comercialmente as vezes não valia a pena, porque como era um público menor, e se tinha um gasto de ir, mas a gente foi, eu fui uma vez lá pra Caxias.


Grupo de agricultores da FAE saindo para viagem técnica ao Espírito Santo em 1992 / Foto: Arquivo pessoal

Em Pelotas também a gente foi, no início, quando se começou a feira lá. A Colmeia levava também. Tinha uma banca que se chamava banca do bolicho, e era inicialmente a Colmeia que geria, porque levava produtos de outros, que os agricultores não tinham, como farinhas e outras coisas. A gente foi criando, hoje na região de Pelotas tem muitas feiras ecológicas, não só no município, mas também em outras cidades ali perto. Tudo isso a gente pode dizer que sim, foi reflexo da FAE com a cooperativa Colmeia, que ajudaram a criar e incentivar outras feiras ecológicas.

O consumidor vai ali comprar diretamente do produtor, isso cria uma relação bem diferenciada onde tu podes conversar, olhar olho no olho

BdF RS - Sua família está com a feira desde o início. Conta pra nós como é ver esse crescimento e também como evoluiu o interesse do público pelo consumo de produtos orgânicos, de quando começou até hoje.

Cláudia - Pra mim é uma realização, é muito legal. Até esqueci de dizer que eu sou agrônoma e na época que eu estava na faculdade, quando comecei a aprender sobre os venenos, os agrotóxicos que iam nos alimentos, teve alguns alimentos que eu cheguei a parar de comer, só de pensar na quantidade de veneno que ia. Então é muito legal ver que agora, por exemplo, o tomate na época eu não comia, adorava, mas parei de comer porque ia muito veneno. Moranguinho também, e a batata, batatinha... agora a gente encontra na feira. Então assim, eu posso comer tomate, posso comer morango, batatinha e tudo sem veneno, e posso oferecer pra minha família, pros meus filhos ou pros amigos que vêm lá em casa. A gente pode ter uma mesa cheia de alimentos, todos sem veneno, isso é uma realização.

Também é muito legal ver que cresceu e que deu sustento para muitas famílias. É um movimento que no início foi meio sem saber como fazer, até porque na faculdade a gente aprende um jeito de produzir que se teve que fazer diferente, buscar conhecimentos mais antigos, até anteriores de uso de veneno, e a gente foi criando muitas técnicas. Realmente é uma realização ver que se conseguiu mudar uma realidade grande.

A FAE tem um diferencial, e isso eu acho que foi assim uma grande sacada, na época, da Cooperativa Colmeia, de fazer a feira ser de produtor direito pro consumidor. Ter essa relação direta, a gente produz e leva e o consumidor vai ali comprar diretamente do produtor, isso cria uma relação bem diferenciada onde tu podes conversar, olhar olho no olho, tu vais saber, daqui a pouco, se deu uma quebra de safra, o que que aconteceu. Então todo esse contato direto, isso é bem importante porque cria essa confiança também do consumidor, que não é só necessariamente ter um selo de uma auditoria que vem ali e diz: sim, esse produto é sem veneno. Não, a gente tem certificação, mas esse contato direto de consumidor com produtor é muito importante e dá uma confiança muito maior. É uma coisa que eu acho que fez com que essa feira durasse tanto tempo, também por isso, porque se manteve esses princípios desde o início.


Encontro de agricultores da FAE na Serra gaúcha, em Antônio Prado, no ano de 1993 / Foto: Arquivo pessoal

Além disso, também a autogestão que foi algo muito importante, apesar das dificuldades que a gente tem as vezes de ter a autogestão. Porque são pessoas da própria feira que tem que tirar o seu tempo ao invés de estar na feira vendendo, estar ali se reunindo e pensando no coletivo. Mas é algo também que eu acho um diferencial que fez com que a feira durasse tanto tempo, porque nesse meio tempo a Colmeia fechou, e se tivesse sido algo só ligado à Colmeia teria fechado também. Mas como tinha essa autogestão, quando a Colmeia fechou, também a gente criou a Associação Agroecológica para dar o apoio, principalmente nessas relações com prefeitura e com outras instituições.

A gente trabalha com outro sistema de relações, não é relação de exploração

BdF RS - Você falou dessa questão do contato direto com o produtor e o consumidor. Eu tenho um entendimento de que esse tipo de experiência da agroecologia, ela é muito revolucionária em vários aspectos e vai na contramão desse sistema mundial de produção de sementes, vinculados a grandes empresas, e produção de agrotóxicos e tal. Qual o papel da agroecologia em um país produtor de alimentos que não aprendeu ainda a produzir em larga escala com respeito ao meio ambiente?

Cláudia - A agroecologia é um mundo diferente, é uma realidade diferente, e a gente mostrou, nesses 33 anos, que é possível. Ainda existe e tem aumentado a produção em larga escala com o veneno, mas é muito mais voltada pro mercado, pra commodities, o que aumentou muito foi soja e outros produtos que são mais como commodities para exportação. Mas para alimento mesmo a gente vê que a agroecologia dá conta e bem dessa produção.

A gente trabalha com outro sistema de relações, não é relação de exploração. Na agricultura convencional a gente vê muita ação em relação a exploração tanto de vendedor de veneno, ou às vezes tem empresas que fazem o sistema de leva o veneno e os fertilizantes e já pega a produção, e muitas vezes a margem do produtor é muito pequena nisso.

Então essa relação entre o produtor e o consumidor realmente é revolucionária, e tu vê que só começou há 33 anos atrás. É recente, mas já com frutos, a gente vê que ainda tem poucos, são poucos mercados, mas mesmo assim já tem bastante fluxo.

BdF RS - E quais os atuais desafios nessa história toda, na tua avaliação?

Cláudia - A gente está tendo desafios grandes agora, até na própria FAE, de manter essa autogestão, porque a gente vê que a prefeitura continua tentando fazer esse, digamos, não sei se é dominar, mas mudando as regras e tentando acabar com a nossa autonomia. Esse é um desafio grande. Além do desafio de tu manter, como são um grupo grande de pessoas que pensam, cada um pensa diferente muitas vezes, tu manter o convívio entre todos e todas por um bem comum é um pouco mais difícil.

Mas acho que o maior desafio é essa relação realmente com o poder público, fica tentando mudar as regras, já entrou uma lei de que agora para entrar nas feiras é tudo por licitação. Isso tira a autonomia da própria organização da associação, porque se é por licitação daqui a pouco tá entrando gente que não tem aquela consciência de produção ecológica, pode entrar, não tô dizendo que vai entrar. Um exemplo que a gente diz: daqui a pouco tá entrando uma Coca Cola orgânica, e não duvido muito, porque a Coca Cola já tem linha de produtos, claro que muda o nome, mas tem algumas linhas que eles já botam lá o selinho de orgânico, será que é orgânico mesmo? Esses são alguns desafios.


Em 2006, quando a FAE recebeu o prêmio ARI-Fepam Destaque em Ecologia / Foto: Arquivo pessoal

BdF RS – Comente a criação da Lei das Feiras Orgânicas de Porto Alegre e o processo de privatização da Redenção que está em curso, o que isso pode interferir na feira?

Cláudia - A privatização na Redenção é um receio que a gente tem, de que vá afetar a feira. Desde a pandemia, a feira começou ocupar um espaço maior, de fechar a rua, e ocupa um espaço que é da própria Redenção, do parque. Aí se privatizarem, a gente tem receio de que pode ser um passo para também tentar privatizar a própria feira, ou sei lá, de criar alguma complicação pra feira assim como ela é. E se daqui a pouco eles cercam todo o parque da Redenção, a gente perde esse espaço que seria pra feira.

E a lei, a gente está trabalhando, a gente tem participado para colocar na legislação das feiras tanto representantes nossos, da FAE, na verdade todas as feiras de Porto Alegre têm direito a ter representantes no conselho de feiras. Isso é uma coisa que a gente tem batalhado para manter, a autonomia do conselho de feiras, que é a maneira que a gente conseguiria ainda manter a autonomia das feiras. Se a gente tiver um conselho de feiras deliberativo, que tenha poder de deliberar, a gente consegue então ainda manter a autonomia, agora se nessa nova lei a prefeitura resolve, “ah o conselho não é deliberativo é só consultivo, só pra consultar”, e ela faz o que quiser, a gente perde completamente a autonomia. Então esse é um receio.

BdF RS – De onde vem essa lei? Da prefeitura ou da Câmara de Vereadores? Como que está o andamento disso?

Cláudia - Há uns anos atrás já tinha vindo essa proposta de lei, depois ficou parada completamente, agora retornou. Acho que tinha ido pro jurídico da prefeitura, e agora retornou, e agora estamos vendo ponto a ponto para dar as nossas sugestões. Só que a gente não sabe até que ponto as nossas sugestões vão ser aceitas. O debate tem sido direto, no conselho de feiras, mas é com a prefeitura, só que tá meio truncado, porque desde que o conselho de feiras foi reativado, mês passado, não tem se conseguido uma boa conversa com a prefeitura ou com o secretário.


Na feira em 2021 / Foto: Arquivo pessoal

BdF RS - Está ocorrendo no RS a Semana da Alimentação. Em um contexto onde novamente o Brasil volta ao mapa da fome, qual a importância de se discutir o tema?

Cláudia - Isso é fundamental, até falando nisso, o aniversário da feira é justamente porque ela foi criada no Dia Mundial da Alimentação. Então é fundamental a gente manter essa discussão, porque houve um retrocesso bem grande, o Brasil já não estava mais no mapa da fome. É bem importante a gente discutir essas questões e também o tipo de alimento que se quer e que se busca. A agroecologia vem nesse sentido de trazer uma alimentação saudável e com qualidade, porque muitas vezes tem produtos que são produzidos com fertilizantes sintéticos, que fazem com que o alimento cresça muito rápido, tá lindo, maravilhoso, mas de conteúdo, de nutrientes tem pouco. E aí a produção agroecológica já sabe que em geral nutricionalmente ela é melhor, mais saudável.

Não é só o não usar veneno, também tem toda essa preservação do ambiente como um todo, mantendo a água limpa, o solo, evitando também a erosão

BdF RS - Sem falar da questão do meio ambiente. Acho que podemos encerrar falando sobre essa questão, a gente vê o nosso país com imensas monoculturas, que tu comentaste que dominou o RS há alguns anos, e vai avançando sobre florestas e tudo mais. E a agroecologia com esse contraponto. Comente sobre esse cenário brasileiro macro.

Cláudia - O cenário macro é bem preocupante, porque a gente vê aumentando muito o desmatamento e também o avanço de áreas. Como a soja tá com um preço bom, ela tem invadido áreas não só de mato, mas também de campos nativos. Além de transformar uma área que era de vegetação nativa em monocultura, além de ter eliminado essa vegetação nativa, ela ainda acaba criando um ambiente muito monótono. Com o tempo vai aumentar o número de pragas e doenças na plantação, já se sabe, quando tem o monocultivo, às vezes num primeiro ano tu não notas isso, mas a partir do segundo, terceiro ano, começa aumentar também o número de pragas e de doenças para aquele cultivo. Isso acaba então fazendo com que os agricultores aumentem a quantidade de veneno que usam.

No meu caso, que eu sou apicultora, está bem difícil a situação, porque a gente tem que ter um distanciamento de 3 km de área de lavoura, e tá cada vez mais difícil de conseguir uma área que não tenha lavoura por perto.


A Feira da Redenção foi a primeira feira de agricultores ecológicos do país e é considerada a maior a céu aberto da América Latina / Foto: Elson Schroeder

A agroecologia então é um bom contraponto, porque além dela não usar veneno, na agroecologia a gente usa cultivo consorciado também e com áreas de mata nativa no meio, perto, não se devasta uma área grande para começar a produzir. Não, a gente aproveita o ambiente, as condições do ambiente para produzir também o alimento. A gente trabalha com a natureza e não contra a natureza, que é o caso da agricultura com agrotóxicos.

A gente trabalha com a natureza e não contra a natureza, que é o caso da agricultura com agrotóxicos

Normalmente se tu vais numa propriedade que tem produção agroecológica, tu vai ver o mato, tu vais ver os cultivos no meio da vegetação nativa, então se preserva muito mais. E não é só o não usar veneno, também tem toda essa preservação do ambiente como um todo, mantendo a água limpa, o solo, evitando também a erosão. Infelizmente em nível nacional a gente vê que tem aumentado muito o incentivo para as monoculturas, mas a gente tenta seguir na luta.


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Edição: Katia Marko