Pernambuco

ENTREVISTA

"A nossa perspectiva é de um futuro melhor", destaca diretora da UNE

Lídia Gonçalves, da União Nacional dos Estudantes (UNE) comenta as perspectivas para educação superior em 2023

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Os protestos no dia 18 de outubro tomaram as ruas de todos os estados do País protestando contra os cortes na educação nos últimos 4 anos - Pablo Vergara

No início do mês, o Governo Federal anunciou um bloqueio de 2,4 bilhões de reais nos orçamentos das instituições federais de ensino superior por meio do Ministério da Educação (MEC). A repercussão negativa entre estudantes, profissionais da educação e sociedade civil foi tanta, que o executivo decidiu recuar no bloqueio, mas ainda assim as mobilizações marcadas para o dia 18 de outubro tomaram as ruas de todos os estados para denunciar a insatisfação em relação às condições precárias nas quais se encontram as universidades brasileiras.

Para falar sobre o tema, o Brasil de Fato Pernambuco entrevistou a diretora de Relações Institucionais da União Nacional dos Estudantes (UNE), Lídia Gonçalves, que também faz parte da executiva do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), na Paraíba, e militante do Levante Popular da Juventude.

Brasil de Fato Pernambuco: Lídia, a gente teve mobilizações de estudantes e do setor de educação, no dia 18 de outubro, em protesto aos cortes no orçamento nos últimos anos. Como você analisa o saldo dessas mobilizações e de que forma pretendem levar essa pauta para frente? 

Lídia Gonçalves: Aqui no estado a gente tem se mobilizado desde que surgiu o apontamento a esses cortes. O governo recuou, mas,  desde o começo do governo Bolsonaro a gente tem sentido todo esse desmanche das nossas universidades e daí a gente fez uma grande mobilização, foi gigante aqui no estado.

Aqui em Campina Grande a gente se uniu junto a outras instituições de ensino superior e fez uma grande caminhada pela cidade do universitário ao centro, se uniu com diversas classes também. Os secundaristas, estudantes de outras universidades e os sindicatos, por entender que o problema do corte na educação também era um problema geral para a sociedade.

BdF PE: Qual é a realidade das instituições federais de ensino hoje? Você tem algum exemplo na Paraíba para mostrar como está a situação? 

Lídia Gonçalves: A gente está sob intervenção do governo Bolsonaro como diversas outras universidades, como o caso da UFPB. A gente tem visto aí diversos desmontes acontecendo, tanto com a infraestrutura quanto com a assistência estudantil. A gente fez recentemente uma atividade que é o ‘DCE Volante’  e a gente visitou todos os campus da universidade e pôde ver o quanto tem faltado, como o restaurante universitário e as residências universitárias estão um descaso. 

Na primeira semana de aula do retorno presencial, a gente teve um problema gigante, a universidade estava sem energia, professor dando aula usando lanterna de celular. Então, o que a gente tem sentido é que a universidade está suspirando, mas sem muita previsão de como continuar. Inclusive essa é uma das nossas maiores pautas. Dia 18 a gente disse que não tem condição de continuar o período do jeito que está. A gente tem sentido as universidades esvaziadas, estudantes precisando passar para um emprego informal porque não tem como se sustentar... Então assim, está bem complicado.

BdF PE: A gente percebe os impactos dessa instabilidade orçamentária na educação, que afeta a produção de conhecimento e de ciência. Como vocês da UNE avaliam esse processo? 

Lídia Gonçalves: Em todas as instituições de ensino superior do país esses desmontes afetam diretamente aquilo que vai contra o governo Bolsonaro, que é a produção de pesquisa, de ciência e da extensão. A gente tem visto diversos cortes na iniciação científica e daí puxando um pouco para a realidade da da UFCG o que a gente tem visto é basicamente desaparecendo da nossa realidade. É cada vez mais difícil ter essa construção e produção de ciência e extensão na universidade

BdF PE: Como estudante e militante, como vocês veem a perspectiva de futuro dos estudantes e das estudantes nesse contexto? O que vocês têm sentido?

Lídia Gonçalves: Eu acho que a realidade tem sido muito dura. Inclusive, construir um movimento estudantil dentro da universidade, porque as pessoas não estão mais na universidade, justamente por conta dessa desses desmontes. E daí eu acho que é uma perspectiva um pouco dura. Mas que a gente tem tentado retomar, acho que inclusive essas últimas movimentações também tem fortalecido. 

A que a nossa perspectiva também é que tirando Bolsonaro a gente consiga voltar a ser feliz de novo, a gente tem colocado muito isso dentro da universidade, que a galera tenha a perspectiva de entrar, tenha a perspectiva de permanecer. Enfim, de sair e formar da universidade, né? Eu acho que isso é o que a gente mais tem projetado também.

BdF PE: A gente ainda está em período de campanha eleitoral, indo para o segundo turno. Essa pauta dos cortes trouxe a educação para a crista do debate. Como vocês esperam que o próximo ano comece em relação às políticas voltadas para a educação?

Lídia Gonçalves: Eu acho que a gente está muito esperançoso mesmo, espero que a gente consiga continuar construindo um movimento estudantil, continuar tendo universidade como era antes. Um Restaurante Universitário funcionando para que os estudantes tenham condição de passar o dia na universidade, é o que a maioria dos cursos exigem; que a gente consiga ter perspectiva de infraestrutura, que a gente consiga colocar a importância de ter dentro da nossa universidade uma gestão de reitoria eleita pelos estudantes, pelo conjunto de servidores, que eu acho que inclusive é o que tem mais agido a universidade que são as intervenções. 

Então acho que a nossa perspectiva mesmo é de um futuro melhor e que a gente consiga sair da universidade formadas, com perspectiva de emprego, com perspectiva do nosso povo. Enfim, eu acho isso, né? Que os estudantes se formem, que os estudantes consigam trabalho, que consiga esperançar e outras pessoas também tenham esse sonho realizado.

Edição: Vanessa Gonzaga