Rio Grande do Sul

Coluna

O rei está nu e os tolos festejam nas ruas. Até quando?

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Bolsonaristas em Santa Catarina fazem saudação nazista após a derrota eleitoral - Reprodução
O que caracteriza uma organização criminosa e como devemos nos posicionar em face a elas?

Logo após as eleições chamou atenção aquela emergência confessa e precoce de ampla organização criminosa, caracterizada pela abrangência e articulação planejada de ações ofensivas à legislação e aos direitos humanos.   

Já era ruim, mas de repente tudo piorou. Com o presidente que mente se posicionando naquele seu estilo peculiar, nem tão rápido que parecesse covardia, nem tão devagar que parecesse provocação ao Xandão, restou clara a condição de cumplicidade, senão de liderança, do centro de governo para com mais esta maquinação golpista. Diante da perplexidade geral, o país parou. E parou especialmente naquelas regiões do Sul onde o fascismo havia alcançado seus melhores resultados eleitorais, ampliando as dificuldades que serão enfrentadas pelos aliados da anormalidade bolsonarista, em SC, PR, RS e SP.

Diante de tais evidências, o que o bom senso recomendaria?

Num primeiro momento, restaria esperar que o presidente que mente e seus aliados desativassem a bomba, tocando o berrante de recolher, chamando o rebanho de volta para o cercadinho e tratando de lamber as feridas e apartar os mochos dos guampudos. Em outras palavras, seria de esperar que, entre os golpistas, exorcizado o trauma e vomitados os gritos e maldições entre eles irreprimíveis, viessem a ser tomadas medidas preventivas comuns entre vaqueiros experientes, aqueles que sabem da importância de evitar machucaduras que possam desvalorizar a carne e apressar o abate de componentes das suas tropas. 

De outro lado, entre os democratas, seria de esperar uma festa alegre, um deixar rolar evitando cair em provocações. Enaltecimentos, enfim, às vantagens que os favorecem na comparação entre os comportamentos de cada grupo, nas fases pós eleitoral de 2018 e 2022. E logo a seguir, cobranças organizadas, segundo a lei, de posicionamento das instituições públicas quanto à medidas de contenção dos desvarios, com responsabilização dos criminosos, desbaratamento de suas redes e reafirmação dos valores constitucionais ameaçados.

Na ausência de medidas concretas, pedagogicamente punitivas, os malucos que vieram para as ruas já tornam muito complicada a estratificação de sua turba, o apartamento de lideranças merecedoras de punição exemplar, com perda de direitos políticos e cadeia, da massa de manobra composta por aqueles tolos carentes de auxilio e os cúmplices menores, em suas diferentes graduações e responsabilidades.

Me refiro aqui à categorização e tratamento dos maus exemplos em função de seus assanhamentos, chinelinhos, coturnos e sapatênis, e atribuições, enquanto influenciadores, exibicionistas ou articuladores de fundo. Certamente aquele bobo que tentou segurar o caminhão no braço não pode ser confundido com aqueles que furaram pneus de caminhões de leite e combustível ou com os que atacaram peça de teatro infantil na Feira do Livro de Porto Alegre. O primeiro está mais próximo dos pobres de espírito, como aqueles que cantaram o hino nacional para pneus, ou marcharam com a camiseta do Neymar, ou se limitaram a fazer saudações nazistas, pedindo intervenção militar. Para estes, até porque são muitos, deve bastar um susto, com o fichamento policial e um puxão de orelhas. Mas aqueles outros, que como o Nelson Piquet, falam em enviar Lula para o cemitério, estes merecem punição exemplar.

Estamos num momento crucial semelhante àquele que todos conhecemos, quando alguma criança rola pelo chão tentando forçar papai e mamãe a comprar um brinquedinho japonês, ou alguma outra bobagem, diante da observação atenta de outras crianças. Ali cabe aos adultos decidirem pela criação de um chantagista, dissimulador e mau exemplo para o mundo, ou pela formação crítica de uma pessoa capaz de lidar com frustrações, enfrentar adversidades, aceitar negativas, dar a volta por cima e recomeçar.

Em outras palavras, está pintando um clima, entre eles, que dá corpo ao que vem ocorrendo desde as últimas semanas e que, conforme nossa posição, definirá as possibilidades do Brasil ao longo das próximas décadas. Queremos justiça, democracia, ordem e progresso? Então, precisamos ir para as ruas, evidenciando a força deste querer.

Ou isso, ou seremos dominados pelos malucos, pelos fantoches, pelas marionetes que servem de proteção a seus titereiros.

Penso aqui nos Gaviões da Fiel, na democracia corintiana liberando as estradas, no desejo de que flamenguistas ofendidos, gremistas, colorados palmeirenses e todos os brasileiros de fé, venham às ruas, com seus cantos, suas danças, assumindo a responsabilidade adulta dos que querem limpar a sujeira que transbordou dos palácios deste desgoverno. Eles estão com medo disso e contam com nossa apatia para garantir a impunidade de seus líderes, para anunciar que o crime compensa e sentenciar que devemos nos encolher no silêncio das ovelhas inocentes.

Concluo, em dois passos.

No primeiro, repetindo a pergunta:

O que caracteriza uma organização criminosa e como devemos nos posicionar em face a elas? O que faremos para garantir que as crianças do futuro não nos confundam com os canalhas e seus cúmplices?

No segundo, agradecendo à Beatriz Fagundes, da Rádio Manawa, pela dica precisa de música ajustada a este momento de nossa história.

Chico Buarque nos traz este samba, com a força de que precisamos para corrigir o mal e construir um futuro que esconjure a ignorância, desmantele a força bruta, espante o tempo feio e remedie os estragos que, nestes 6 anos, vêm (até aqui impunemente) corroendo a alma de nosso pais.

 

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko