Rio Grande do Sul

AGROECOLOGIA

Feira do Alimento Saudável de São Leopoldo completa cinco anos

Localizada no centro e alguns bairros do município, feira oferece alimentos livres de agrotóxicos para consumidores

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Marcos Wagner, 39 anos, vem de Morro Reuter para comercializar seus produtos em São Leopoldo - Foto: Gabriel Reis

Há cinco anos, moradores de São Leopoldo e produtores rurais de Lomba Grande, Morro Reuter, Santa Maria do Herval, Vale dos Sinos, Nova Santa Rita e da Serra Gaúcha se reúnem na praça Tiradentes – em frente a antiga prefeitura e próxima a Paróquia Nossa Senhora da Conceição –, localizada no centro do município, nas manhãs de sábado, das 8h às 12h, para comercializar alimentos livres de agrotóxicos na Feira do Alimento Saudável.  

Em meio às barracas com alimentos frescos, Rodolfo Gaede Neto, 71 anos, frequentador da feira, comenta que decidiu focar na compra de alimentos orgânicos e saudáveis. O aposentado diz que leu sobre os problemas dos agrotóxicos para a saúde humana e afirma incentivar a produção de alimentos orgânicos comparecendo em feiras que disponibilizam estes alimentos.

“Estamos investindo na nossa saúde. Lamentamos muito que a nossa natureza esteja sendo tão intoxicada com toneladas de agrotóxicos sendo despejados em alimentos, por vezes até infectando o solo”, comenta Rodolfo. 


:Rodolfo Gaede Neto reitera seu incentivo à produção de alimentos sem agrotóxicos sendo frequentador da Feira do Alimento Saudável / Foto: Gabriel Reis

 
Brasil, país recordista em uso de agrotóxicos 

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o Brasil atualmente é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo desde 2008, muito em função do crescimento do uso de venenos nas últimas décadas. 

O órgão reitera que é estimado, em nível mundial, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), 20 mil óbitos a cada ano em decorrência do consumo de agrotóxicos. Para a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 70 mil intoxicações crônicas e que evoluem para óbito são identificadas por ano mundialmente. Infecções não fatais totalizam em torno de sete milhões. 

A criação do evento

A Feira do Alimento Saudável surgiu em 2017 por meio do projeto da gestão municipal em prover à população maior acessibilidade a alimentos orgânicos. Naquele período, foi debatido em reuniões do Conselho Municipal de Segurança Alimentar (Consea) – órgão ligado à Secretaria de Assistência Social – a necessidade de São Leopoldo sediar um evento que dispusesse alimentos orgânicos e que ocorresse no Dia Mundial da Alimentação, em 16 de outubro. 

Henrique Schuster, 63 anos, gestor público em Economia Solidária, diretor de Economia Solidária e Meio Rural da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Turístico e Tecnológico (SEDETTEC), um dos idealizadores da Feira do Alimento Saudável, comenta que a execução do projeto foi fruto de uma parceria entre o Sindicato Rural de São Leopoldo e a Emater/RS-ASCAR.

“A primeira edição foi um sucesso. No final do evento surgiram demandas para que ele fosse continuado e decidimos realizar mais uma edição no mês seguinte, novembro de 2017. No mês de dezembro do mesmo ano mais uma edição foi feita”, explica.

Schuster diz que, após as três primeiras edições, uma nova reunião entre todas as entidades envolvidas foi convocada para debater o futuro da feira. Foi decidido que a realização do evento seria semanal, dadas as condições de durabilidade dos alimentos in natura, a partir de janeiro de 2018. 

A expansão da Feira do Alimento Saudável

Tendo como localização a região central do município, moradores de outras regiões de São Leopoldo interessados em comparecer no evento demandaram uma edição nos próprios bairros para aproximar de suas casas. Desde então, a feira é realizada também atrás dos condomínios Charrua e São Miguel e nos bairros Fião e São José.

Feiras de alimentos in natura existem há mais de 30 anos em todo o município, mas revendem alimentos obtidos pelo CEASA/RS (Centrais de Abastecimento do Rio Grande do Sul), não possibilitando maior conhecimento da procedência dos alimentos ou do produtor em si. 

Para Henrique Schuster, o diferencial da Feira do Alimento Saudável é possibilitar que comprador possa perguntar ao feirante sobre o processo produtivo dos alimentos disponíveis, diferentemente dos espaços em que são vendidos itens ultraprocessados e/ou infectados com agrotóxicos. 

Os feirantes são incentivados a aproveitar as épocas para oferecerem seus produtos, evitando a disponibilidade de produtos transgênicos que, em função das modificações, perdem boa parte da riqueza nutricional. 

“Muitos clientes perguntam aos feirantes sobre o processo produtivo dos alimentos comercializados. Como hoje há uma parcela da população preocupada em consumir alimentos saudáveis, a feira veio atender a esse público mais esclarecido sobre o debate da segurança alimentar e alimentação de qualidade. Sabemos que não é uma maioria, mas é significativo", afirma Schuster.

Entre a organização e o cultivo

Vindo diretamente de Lomba Grande e realizando a colheita na véspera da feira – de preferência à noite para conservar o frescor do alimento – Leonaldo Rogério da Silva, 57 anos, coordenador da Feira do Alimento Saudável e feirante, comenta sobre o processo produtivo dos alimentos que comercializa no evento.


Leonaldo é feirante e coordenador da feira, sendo responsável pela logística das barracas e pela aprovação dos alimentos a serem disponibilizados / Foto: Gabriel Reis

“Não colocar agrotóxicos é um processo. No momento da endubação o alimento precisa passar por um processo de conservação. Nós mesmos devemos realizar a compostagem e endubação, principalmente devido aos impactos negativos ao solo. É plenamente possível produzir alimentos sem agrotóxicos e nós provamos isso”, ressalta Leonaldo Rogério da Silva.

No ofício de coordenar a feira, como a posição dos feirantes no ambiente, o que é comercializado, a tabela de valores dos alimentos e o controle de qualidade de cada produto, Leonaldo reitera o compromisso com os requisitos para participar da feira e sinaliza que há métodos naturais para conservar a produção por meios naturais. 

O processo produtivo sem agrotóxicos 


Plantação de beterraba do feirante Marcos Wagner no Morro Reuter / Foto: Arquivo Pessoal

Marcos Wagner, 39 anos, feirante do Morro Reuter que comercializa seus produtos em São Leopoldo, relembra que hoje já se tem conhecimento de métodos alternativos e naturais para conservar os alimentos durante o processo produtivo que não envolvem o uso de agrotóxicos. 

“Tem várias plantas, como o Urtigão e a Babosa, que possibilitam tratar e utilizar como repelente nas folhagens, um adubo folhar, que protege as plantas dos insetos. Não obstante, o manejo do solo, preparando-o para o processo produtivo é essencial”, descreve.

O feirante sinaliza que o processo produtivo sem adulterações nos alimentos demanda tempo e responsabilidades que nem todos os produtores estão dispostos a ter, trabalhar dentro dos limites da natureza e o manejo adequado do solo, preparando-o para o processo produtivo.

Requisitos para produtores rurais participarem da feira

Para que haja pleno controle do que for comercializado, os produtores interessados em participar da Feira do Alimento Saudável preenchem uma ficha de inscrição e recebem uma visita na plantação. O certificado do Ministério da Agricultura para produzir e comercializar alimentos orgânicos também é solicitado. Atualmente os espaços contam com 20 feirantes.

Localização das feiras

Bairro Centro: Praça Tiradentes – entre a Rua Brasil e a Avenida Dom João Becker, em frente a antiga prefeitura – das 8h às 12h nos sábados.

Bairro São Miguel: Atrás dos condomínios Charrua e São Miguel – entre a Avenida Tomás Edson e a Avenida Alta Tensão - das 8h às 12h nos sábados.

Bairro Fião: Praça Palestina – entre a Rua Nóbrega e a Rua Manoel Johann - das 13h30 às 17h30 nas quartas-feiras.

Bairro São José: Praça Elis Regina – entre a Rua Walter Lamb, Rua Adélino Ferraz e a Rua Me. Selina - das 13h30 às 17h30 nas quartas-feiras.

* Informações de Gabriel Reis - Prefeitura Municipal de São Leopoldo


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Edição: Katia Marko