Rio Grande do Sul

EDUCAÇÃO

Frente Parlamentar cobra que Instituto de Educação permaneça 100% escola pública

Primeiro centro de formação de professores do RS está sob a ameaça de ser administrado pela iniciativa privada

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Durante a visita, a secretária caminhou pelos corredores e salas do prédio junto com a deputada estadual Sofia Cavedon (PT), professoras, estudantes, integrantes do movimento e técnicos - Foto: Movimento em Defesa do Instituto de Educação

Em uma visita às obras de restauro do prédio, realizada na tarde da última quinta-feira (10), em Porto Alegre, a Frente Parlamentar em Defesa do Instituto de Educação e seu conjunto arquitetônico como Escola Pública cobrou a secretária estadual da Educação, Raquel Teixeira, que mantenha o Instituto de Educação General Flores da Cunha como 100% escola pública.

Criada em agosto deste ano e presidida pela deputada estadual Sofia Cavedon (PT) e pelo Movimento em Defesa do Instituto de Educação, a Frente Parlamentar exige que o projeto original de restauro elaborado pelo governo do estado com a comunidade escolar seja respeitado. 

Prédio histórico e símbolo de escola pública do Rio Grande do Sul

Construído em 1930, o Instituto de Educação teve seu restauro licitado e contratado pela primeira vez no governo Tarso Genro (PT), em 2014. Depois houve uma nova licitação no governo José Ivo Sartori (MDB), porém as obras não andaram com períodos de interrupção e paralisação dos trabalhos.

O governo Eduardo Leite (PSDB) pegou uma licitação pronta e um contrato em andamento, porém suspendeu e paralisou as obras. Somente no penúltimo ano, quando veio a possibilidade de colocar a iniciativa privada na escola, o governo retomou o contrato e a obra.

Assim, em outubro do ano passado, o ex-governador que renunciou ao cargo e, agora, reeleito, anunciou uma mudança unilateral no projeto original. Ele disse que seria destinada uma parte do espaço para a instalação de um museu privado (Museu Escola do Amanhã) e um centro de aperfeiçoamento dos profissionais da educação, administrados pela iniciativa privada por meio de uma organização social (OS).

Modernizar é respeitar o projeto original de restauro

Durante a visita, a secretária da Educação caminhou pelos corredores e salas do prédio junto com a deputada, professoras, estudantes, mães, integrantes do movimento, técnicos e assessores. Os trabalhos estão em andamento, mas se encontram atrasados. Um técnico informou que o prazo de conclusão das obras previsto para abril de 2023 não será possível de ser cumprido.

Num determinado momento, Raquel aproveitou para dialogar com os visitantes e defender a alteração do projeto original, dizendo que já tinha um desenho do projeto de museu feito por uma curadoria de especialistas em educação, sob a alegação de modernizar o espaço pedagógico da instituição. Ela ficou de agendar uma reunião na Secretaria da Educação para fazer uma apresentação do seu projeto.


Instituto General Flores da Cunha é a instituição de ensino formadora de educadores mais antiga do Brasil em funcionamento / Foto: Movimento em Defesa do Instituto de Educação

Sofia, professores e estudantes, porém, discordaram da mudança no projeto original e ainda questionaram a contratação de uma curadoria privada para fazer adequações sem ouvir a comunidade escolar. Todos salientaram que modernizar é respeitar o projeto original da escola, que chegou a ter 3 mil alunos e era referência na educação pública do estado. Foi ressaltado o abaixo-assinado já entregue ao governo com mais de 10 mil assinaturas de apoiadores.

Alternativa para o museu em outro prédio

Ninguém se opõe à ideia de instalação de um museu e de um centro de formação de professores, desde que seja feito em outro espaço e existem vários prédios públicos vazios na cidade. Uma alternativa foi indicada para Raquel.

Trata-se do prédio localizado na esquina das ruas General Câmara e Andrade Neves, no Centro Histórico. Está abandonado desde junho de 2017, quando uma ação violenta da Brigada Militar despejou as 70 famílias da ocupação Lanceiros Negros.

O secretário de Comunicação da CUT-RS, Ademir Wiederkehr, reforçou a sugestão, dizendo que o local fica próximo de outros museus da cidade e seria adequado para o projeto. A secretária de Educação aceitou a proposta da deputada de combinar uma visita para conhecer o espaço indicado.


Obra prevê uma parte do espaço para a instalação de um museu privado (Museu Escola do Amanhã) e um centro de aperfeiçoamento dos profissionais da educação administrados pela iniciativa privada / Foto: Movimento em Defesa do Instituto de Educação

A comunidade escolar do Instituto de Educação, que lutou anos para essa restauração acontecer, quer a escola 100% pública, com alta tecnologia neste prédio maravilhoso conquistado pela comunidade”, afirmou a deputada. “Vamos continuar acompanhando, garantir o ritmo das obras e que não seja desvirtuado o projeto de restauro do Instituto de Educação”, frisou Sofia.

A vice-presidente do Conselho Escolar, professora Heloísa, alertou que “o projeto que o governo do estado, mais precisamente a secretária de Educação, quer executar é um crime no sentido de que está tirando espaço de biblioteca, laboratórios e salas de aulas, onde os alunos podem desenvolver as suas capacidades e suas habilidades”.

Para Heloísa, “colocar aqui dentro um museu é um sonho da secretária de Educação que ela não conseguiu realizar em Goiânia. É o sonho de uma só pessoa. O sonho se desfaz e o projeto se constrói”.

Escola pública de qualidade é para os alunos

A representante da Comissão de Restauro do Instituto de Educação, Maria da Graça Morales, frisou que “o Instituto de Educação é uma escola pública, que atende desde a creche até o ensino médio, com acesso para toda a população”.

“O projeto que a secretária de Educação agora nos quer mostrar deve ser feito em outro espaço. Na hora em que a escola é melhorada e o prédio fica bonito para não cair mais nada na cabeça, vamos tirar os estudantes e botar outras coisas aqui? Quem quer uma escola pública de qualidade tem que defender este espaço para os alunos”, ressaltou Graça.

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* Com informações da CUT RS


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Edição: Katia Marko