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O que vem pela frente

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"Lula e o Papa Francisco são hoje os dois maiores líderes mundiais, incontestáveis, que, no diálogo e na busca da paz e da justiça, estão/estarão presentes e atuantes no próximo período" - Ricardo Stuckert
É urgente de novo Encantar a Política, tal como está sendo proposto no Projeto das Pastorais Sociais

Fazia muito, muito tempo que, em cada reencontro presencial pós-eleição, os abraços não eram tão fortes e calorosos, abraços de ursas e ursos, como se diz aqui no Sul: chorando, braços enrolados um no corpo de outro, rostos colados, lágrimas de alegria, emoção a todo vapor, como não se via e vivia há séculos entre companheiras, companheiros, militantes, lutadoras, lutadores, sonhadoras, sonhadores. Parece que uma tonelada, ou mais, de dores, incertezas, sofrimento, angústias saiu e caiu do coração de cada uma, cada um, depois da vitória de Lula.

Os próximos tempos, mesmo com toda euforia da vitória de Lula e do campo democrático-popular, não serão nada fáceis, todas e todos bem o sabem. Muita tensão espera o Brasil. Não se pode nunca esquecer que o candidato derrotado teve mais de 58 milhões de votos. As manifestações pós-eleição já demonstram o que a direita e a ultradireita neofascista são capazes de fazer e os seus métodos de ação. Sem falar que há uma crise em todos os sentidos, às vezes se aproximando do caos, e que é preciso enfrentar e superar.

2023, exatos 20 anos depois, será muito diferente de 2003, quando Lula derrotou a social-democracia, e um operário metalúrgico e nordestino assumiu a Presidência pela primeira vez. Então, por exemplo, Fernando Henrique Cardoso subiu todo contente a rampa do Palácio do Planalto junto com Lula e entregou-lhe a faixa presidencial com pompa e civilidade. Este ano, tudo indica, será muito diferente. Novembro e dezembro de 2022 e janeiro de 2023 são, estão sendo e continuarão sendo imprevisíveis.

Diferente de 2003, quando os partidos estavam claramente definidos, especialmente os de esquerda e centro-esquerda, como PSDB e PMDB, em 2023 pode-se falar de quais grandes partidos estão (ainda) existentes, ou quais, na prática, estão enfraquecidos ou até mesmo em vias de extinção. Da mesma forma, o papel e a postura das Forças Armadas de hoje estão sendo muito diferente do que em 2003. Felizmente, hoje, a maior parte da grande mídia está compreendendo positivamente o significado e a importância da vitória de Lula.

O mundo está em ebulição. As eleições americanas são exemplo das mudanças em curso. A guerra Rússia-Ucrânia não é apenas uma guerra lá longe. Tem consequências mundiais. Sem esquecer as questões ambientais e as mudanças climáticas onde o Brasil e o futuro governo Lula têm/terão papel fundamental, senão decisivo.

Felizmente, o Brasil e o mundo recuperaram a liderança e o peso político de Lula. Ele e o Papa Francisco são hoje os dois maiores líderes mundiais, incontestáveis, que, no diálogo e na busca da paz e da justiça, estão/estarão presentes e atuantes no próximo período.

As tarefas e desafios muitas e muitos no atual contexto político, econômico, social, cultural e ambiental, para as quais estão todas e todos, mais que chamados, convocadas-os a darem sua contribuição, na redemocratização do Brasil e na preservação da humanidade.

A mobilização social do campo democrático-popular vista no período eleitoral deverá ser mantida, com a incorporação ampliada, especialmente, de jovens, mulheres e da população negra e indígena. É fundamental manter e consolidar a unidade do campo democrático-popular e de esquerda, para garantir a democracia, a soberania e os direitos de trabalhadoras e trabalhadores.

Em prazo curto e rápido, e com ampla mobilização, deverá acontecer a reconstrução das políticas públicas com participação social, a saída do Mapa da Fome, Conferências e Conselhos funcionando e acontecendo, e espaços da educação popular nas políticas públicas.

É tempo de mais movimento, menos instituição, tal como aconteceu no período pré-eleitoral, inclusive em Parlamentos e governos.

É preciso mobilização, trabalho de base, formação na ação, para enfrentar a direita no campo das ideias e valores, ampliando rapidamente a conscientização e a organização popular.

É urgente de novo ´encantar a política´, tal como está sendo proposto no Projeto ENCANTAR A POLÍTICA das Pastorais Sociais da Igreja católica, com apoio de diferentes igrejas e religiões. O Papa Francisco propõe e anuncia na Encíclica Fratelli Tutti a política como caridade máxima, com ternura e amizade social, para construir a fraternidade e o cuidado com a Casa Comum.

Não há, pois, nem refresco, muito menos descanso para quem quer lutar e continua sonhando com um Brasil justo e solidário e com um mundo com paz. Nada está definitivamente perdido, nada está definitivamente ganho.  À boa luta, pois. ESPERANÇAR. Freireanamente.

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko