Rio Grande do Sul

Novembro Negro

"Mulheres negras, racismo e saúde mental" foi tema de roda de conversa promovida pelo Sintergs

Fala foi transmitida ao vivo pelo Youtube e Facebook; atividade integrou a agenda do Novembro Antirracista Unificado

Brasil de Fato | Porto Alegre |
A roda de conversa "Mulheres negras, racismo e saúde mental", promovida pelo Sintergs, integra a programação do Novembro Antirracista Unificado - Foto: Bruna Karpinski

A roda de conversa "Mulheres negras, racismo e saúde mental" foi promovida pelo Sindicato dos Servidores de Nível Superior do RS (Sintergs), que integra a agenda do Novembro Antirracista Unificado, na noite da terça-feira (23). Com cerca de 30 pessoas presentes, foi uma noite de reflexões sobre as oportunidades desiguais e limitações da ascensão das pessoas negras.

Foram convidadas para o evento as painelistas a mestra e doutora em História Lúcia Regina Brito Pereira, a assistente social e militante de políticas públicas Malvina Beatris Souza, a psicóloga e especialista em Saúde do Trabalhador Tatiane Oliveira e a poetisa Ana dos Santos.

Angela Antunes, diretora do Sintergs, fez a mediação da roda de conversa. Ela ressaltou que apenas 3% dos servidores públicos estaduais de nível superior se declaram negros, segundo pesquisa realizada pela PUCRS junto à base do sindicato.

A dirigente afirmou ainda que o movimento sindical no RS ainda é predominantemente branco e masculino e que é necessário discutir a representatividade dentro dos sindicatos.

Além dos presentes, o público pode conferir ainda as falas através da transmissão realizada pelo Youtube e Facebook do Sintergs.

 

Resistência e direito de bem viver

“Queremos o direito do bem viver, porque nós somos sobreviventes”, disse Lúcia Regina Brito Pereira.

Professora aposentada da rede estadual e municipal de Porto Alegre, ela apresentou mulheres negras que são referências em diversas áreas no estado, no país e no mundo. Para ela, são guerreiras, ativistas do movimento negro, artistas, intelectuais, cientistas, políticas e sindicalistas. “Precisamos ter orgulho da nossa descendência”, disse Lúcia.

Por sua vez, Malvina Beatris Souza fez um relato de experiência sobre a atuação das mulheres negras no território da Grande Cruzeiro, em Porto Alegre.

“No lugar onde havia um campo de futebol foi construída uma casa prisional”, lamentou Malvina. Sócia fundadora da Associação de Mulheres Solidárias da Grande Cruzeiro e presidenta da União de Vilas da Grande Cruzeiro, também falou sobre o desafio de arrecadar e distribuir alimentos para mais de 300 famílias na pandemia.

Intervenções de poesia

Entre uma fala e outra, Ana dos Santos fez intervenções artísticas. “O racismo furou o isolamento social. Saia da sua bolha branca. Vidas negras importam. Eu não consigo respirar, eu não consigo respirar, porque o vírus do racismo contaminou toda a minha vida”, declamou.

Além de poetisa, Ana é professora de Literatura Brasileira e mestra em Estudos Literários Aplicados. O racismo, a vida das mulheres negras e o genocídio negro são algumas das temáticas do seu trabalho.

Adoecimento como processo

Tatiane Oliveira falou sobre a importância de romper com o silêncio. “Um dos mecanismos de perpetuação do racismo é não falar sobre isso”, alertou sobre a violência racista e suas engrenagens.

Além das próprias vivências, a psicóloga trouxe a contribuição de autores que abordam a temática. Servidora na Secretaria Estadual da Saúde, Tatiane atua no Programa de Saúde do Servidor (PROSER).

“Antes de adoecer, a gente vai perdendo a nossa saúde diariamente”, explicou.

Após agradecer a participação das convidadas, a mediadora Angela fez um desabafo sobre a cobrança e a expectativa de que as mulheres negras sejam sempre fortes. "Não queremos ser fortes o tempo inteiro”, disse.

O microfone foi aberto para interação da plateia com as convidadas e, ao final, os presentes fizeram um abraço coletivo.


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Edição: Marcelo Ferreira