Rio Grande do Sul

Violência

Polícia investiga tortura contra homens suspeitos de furtar carne em supermercado no RS

Episódio aconteceu no dia 12 de outubro envolvendo gerente e seguranças do estabelecimento em Canoas

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Momento da agressão flagrado pela câmeras do supermercado Unisuper - Foto: Reprodução

Funcionários, entre eles o gerente, e seguranças terceirizados do supermercado Unisuper, em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, estão sob investigação por manterem dois homens, um deles negro, em cárcere privado e os torturarem durante 45 minutos. A ação aconteceu no dia 12 de outubro, após terem flagrado a dupla supostamente furtando duas bandejas de picanha, no valor de R$ 100 cada, entre outros alimentos.

A denúncia foi feita por meio de um parente de uma das vítimas. A Polícia Civil começou a apurar o caso depois que um dos agredidos deu entrada no Pronto Socorro de Porto Alegra, em estado grave, com diversos hematomas e fraturas pelo corpo incluindo a região do rosto.

As imagens das câmeras de segurança foram mostradas no Fantástico, pela RBS TV, afiliada à Rede Globo, na noite deste domingo (4), e revelam - além dos dois homens, de 32 e 47 anos, um deles negro - os agressores. Eles foram identificados como o gerente da unidade, Adriano Dias, o subgerente Jairo da Veiga, e mais cinco seguranças da Glock, empresa contratada para os serviços de segurança do supermercado.

Sobre o caso 

De acordo com as imagens recuperadas pela Polícia Civil é possível ver ao menos dois homens armados. Um homem de casaco azul é conduzido por um segurança. Retira dois pacotes que estavam escondidos na roupa e os entrega ao gerente do mercado. Nesse momento, o segurança o agride com um soco e uma rasteira.

O outro homem já estava "rendido" pelos seguranças. Ele estava com o pacote de carnes e, também sem esboçar nenhuma reação, enquanto os gerentes apenas assistem às cenas, é agredido pelos seguranças e cai no chão.

Com mais socos, gritos e chutes, a sessão de tortura perdura por mais 45 minutos, incluindo pedaços de madeira e até pallets usados contra os dois homens. Ao final, a "equipe" ainda posa para uma foto, feita pelo gerente da unidade.

"[Foram] diversas agressões nas mãos, no rosto. Vemos momentos ali o uso de palletes, momentos com pedaço de pau, com martelos para serem usados como ameaça, vemos momentos que colocam saco na cabeça. Foi uma soma de eventos, de agressões, que chegaram até a nossa Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa", disse à reportagem o delegado Robertho Petternello, titular da delegacia de Homicídios da Polícia Civil de Canoas, responsável pela investigação.

Conforme afirma o delegado, há nesse primeiro momento a ideia da tortura como forma de obtenção de provas. "Eles buscaram os comparsas e eventualmente onde estavam os objetos de furto e também utilizaram essa tortura como forma de punição, naquele momento aplicando a sua pena a sua justiça privada", afirma.

No fim das agressões, os cinco seguranças voltaram ao depósito e posaram para uma foto comemorativa, que foi tirada pelo gerente do supermercado.

De acordo com a polícia, 31 câmeras de segurança gravaram o que aconteceu dentro do supermercado e também no depósito onde as vítimas foram agredidas. Os policiais foram até o estabelecimento coletar as imagens, mas perceberam que os arquivos haviam sido deletados logo que os agentes entraram no local. O delegado Peternelli apreendeu o equipamento de gravação, que foi encaminhado para a perícia.

O perito criminal Marcio Faccin do Instituto Geral de Perícia (IGP) do RS conseguiu recuperar os arquivos.

Além de agredir física e psicologicamente, os agressores só libertaram os dois homens após entregarem todo o dinheiro que tinham em mãos, cerca de R$ 645.

Nota da rede Unisuper

Guiados pela transparência que sempre pautou as nossas ações, informamos que chegou ao nosso conhecimento a existência de um inquérito policial referente a uma abordagem relacionada a uma ocorrência de furto. Este inquérito foi instaurado para apurar a conduta dos profissionais da empresa terceirizada Glock Segurança.

Primeiramente, queremos reafirmar que repudiamos veementemente qualquer ato de violência ou de violação dos Direitos Humanos, os quais reconhecem e protegem a dignidade de todas as pessoas e são pilares essenciais para a construção de uma sociedade mais justa, e reafirmamos o nosso compromisso com o respeito à vida, à coletividade e aos valores éticos e morais que sempre marcaram a trajetória das famílias supermercadistas que construíram a nossa empresa.

Estamos integralmente à disposição das autoridades para fornecer todas as informações solicitadas no intuito de contribuir com as investigações. Somos os maiores interessados em que todos os fatos sejam esclarecidos, confiamos no trabalho da polícia, e seguiremos colaborando com a investigação e aguardando a conclusão do inquérito pelas autoridades

Nota da defesa de Jairo e Adriano

Na condição de advogados de JAIRO ESTEVAN DA VEIGA e ADRIANO LUGINSKI DIAS, manifestamos o nosso respeito a todas as pessoas e instituições que atuam no presente caso. Por questões éticas e, até mesmo em respeito à autoridade policial, nossa manifestação se dará exclusivamente nos autos.

Manifestação no dia 7 de dezembro

O Movimento Esquerda Socialista (MES) - PSOL/Canoas também lançou uma nota para denunciar e repudiar o grave caso de tortura ocorrido nas dependências do mercado Unisuper, na Av. Inconfidência em Canoas.

"Casos de violência, torturas e, em alguns casos, até mesmo de assassinatos como no caso do Beto em 2020, morto por seguranças privados do Carrefour, vêm acontecendo repetidas vezes em nosso Estado. Não podemos tolerar que a lógica da segurança privada dessas empresas siga julgando e punindo com as próprias mãos. Não podemos tolerar que essa lógica siga colocando a defesa dos interesses e lucros da propriedade privada a cima da vida de nosso povo", declaram.

E convoca uma manifestação nesta quarta-feira, dia 7/12, às 12h, em frente ao Unisuper, na Av. Inconfidência, 710, pedindo: Justiça às vitimas! Tortura nunca mais!

* Com informações da CUT-RS e G1


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Edição: Marcelo Ferreira