Rio Grande do Sul

MÚSICA

Grupo Unamérica celebra 39 anos nesta terça (13) no Café Fon Fon

Duo interpreta músicas do mais recente álbum "Canções para Tempos de Cólera" e outras que marcaram a trajetória do grupo

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Dão Real e Zé Martins formam o grupo Unamérica - Foto: Katia Marko

Grupo Unamérica comemora 39 anos de estrada no palco do Café Fon Fon, em Porto Alegre, nesta terça-feira (13), a partir das 20h. Formado por Dão Real e Zé Martins, o duo interpreta músicas do mais recente álbum "Canções para Tempos de Cólera" e outras que marcaram a trajetória do grupo formado em 1983.

O álbum está disponível nas plataformas digitais com 12 músicas antigas e novas e arranjos que contam também com vários instrumentos de origem andina, como charango, quena e zampoña.  Com um estilo próprio, as composições do Unamérica foram sempre influenciadas pelos vários momentos históricos e políticos da América Latina.

O show tem couvert artístico de R$ 30,00. Reserva antecipada pode ser feita pelo fone (51) 998807689.

Um pouco de história

Tudo começou no início da década de 1980, mais precisamente em 1983, no Vale dos Sinos/RS. Formado originariamente por Dão Real, José Carlos Martins e Protásio Prates (já falecido), o Unamérica teve também em sua formação o músico e compositor Luis César de Oliveira.

No início da década de 1980, a cena musical no Rio Grande do Sul era efervescente e propiciava ao novo. Havia muitos festivais nativistas pelas cidades do interior do estado, festivais universitários, festivais de canções populares e o rock gaúcho, com o surgimento de muitas bandas, transformando-se em uma referência nacional.

Dão Real, estudante na Unisinos, Zé Martins, na UFRGS, e Protásio Prates, professor, ligados ao movimento estudantil, começam um intercâmbio com estudantes universitários de outros países da América do Sul.

A cultura e, principalmente, a música estiveram sempre presentes nestes encontros. As Peñas Folclóricas e as Tertúlias passam a ser frequentes e o intercâmbio musical mostra as semelhanças culturais, as possibilidades e as necessidades de cantar esta América tão diversa e tão única. Surge então o Grupo Unamérica, com esta ideia de integração latino-americana, tendo a arte como instrumento.

Seguindo Fernando Brant na canção de Milton Nascimento, "Ficar de frente para o mar e de costas para o Brasil, não vai fazer deste lugar um bom país", o Unamérica abre os braços para a América, aprendendo a tocar seus instrumentos nativos, como o Charango, o Bombo Leguero, o Quatro Venezuelano, as Ocarinas e as Zampoñas, mesclando os ritmos folclóricos e tradicionais com poesias que mostram o homem e o meio em que ele vive, contando que somos iguais, só não falamos a mesma língua.

O Unamérica marcou a história da música gaúcha. Seu trabalho representa um catalisador de experiências que vêm dos festivais, mas que rompeu com a fórmula estabelecida e imposta pelo movimento tradicionalista. Buscavam unir com a música gaúcha aspectos culturais da América Latina e do Brasil urbano e rural.

Únicos no gênero

Confira depoimentos de quem conhece o Unamérica:

"Entre meados dos anos 1970 e o início dos 80, houve no Brasil um movimento de descoberta e valorização da música latino-americana. É de 1976, por exemplo, o espetáculo e disco Falso Brilhante, em que Elis canta Los Hermanos e Gracias a la Vida. Discos de Mercedes Sosa, Violeta Parra, Victor Jara, Quilapayun e outros são pela primeira vez lançados em nosso País. No Rio Grande do Sul, A Califórnia da Canção Nativa traz Atahualpa Yupanqui e Alfredo Zitarrosa. Em São Paulo, surgem dois grupos fundamentais: Tarancón e Raíces de America, mesclando músicos brasileiros e de países vizinhos também ocupados por ditaduras. Tudo isso motiva os jovens Dão Real e Zé Martins, de Sapucaia do Sul, a criar o grupo Unamérica, principal representante gaúcho do movimento de aproximação e unidade com os irmãos latino-americanos. Outros grupos vieram, mas o Unamérica, 39 anos depois, é o único sobrevivente daqueles dias em que se pregava e acreditava na unidade latino-americana. Talvez mais no que nunca, essa unidade se faz indispensável."

Juarez Fonseca, jornalista e crítico musical

 

"Quando surgiu o Unamérica, nos anos 1980, achei muito legal a ideia de um duo trazendo a música do Uruguai, Argentina, Peru e os instrumentos desses países. Me chamou a atenção o engajamento político enraizado numa canção popular, tradicional, brasileira e mundial que defende as causas sociais. Eles são únicos."

Gilmar Eitelwein, jornalista e crítico musical

 

"Tive uma bela surpresa ao conhecer o Unamérica, pois era um duo cantava canções de nossa Latino-américa com um sabor muito especial, podemos chamar de brasileiro, mostrando assim um caminho de integração para as diversas linguagens e sentires de nosso continente. Com apenas dois integrantes, realizava uma música plena, variada, ampla, cheia de  matizes e sabores, onde brilhava a execução dos instrumentos de diferentes etnias e um trabalho vocal bem concebido e realizado. Tive o prazer de escutar minha canção Paz pra Nicarágua em gravação de seu disco, e só lamentei a produção escassa nos anos seguintes, compensada por uma atuação solidária constante. Nos últimos anos, coincidimos no disco autoral sobre poemas do cubano Tony Guerrero, que, junto a Pedro Munhoz, mais nos uniu neste já longo sendeiro de 'americanidades'."

Raul Ellwanger, músico

 

"Conheci Dão Real e Zé Martins ainda pelos idos dos anos 80, quando iniciavam esta jornada chamada Unamérica, em seu formato de duo. Trinta e cinco anos se passaram. Dos anos 2000 para cá, vez por outra, nos encontramos para algum projeto, alguma atividade, o que para mim é sempre uma grande satisfação. O Unamérica, ao longo deste período, manteve sua coerência musical, porque possui uma coerência política.A música é uma linguagem direta e de disputa, os dois sabem bem disso e por isso mantém o Unamérica sem negociar seus princípios, pois acreditam na arte como ferramenta de construção e transformação. Minha saudação ao Dão e ao Zé, que seguem na trilha da canção, em tempos difíceis, cantando o amor, a solidariedade, respeitando as diferenças, entoando cantos de liberdade, empunhando bandeiras, com a coragem daquel@s que teimosamente não desistem de querer pintar o mundo de vermelho, tarefa a que eles também se dedicam."

Pedro Munhoz, músico


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Edição: Marcelo Ferreira