Rio Grande do Sul

OPINIÃO

Artigo | Acabaram as desculpas, governador!

Abatimento da dívida pública do RS anunciado por Haddad traz folga para governo pensar em um plano de reposição salarial

Brasil de Fato | Porto Alegre |
"Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou a soma de R$ 26 bilhões para compensar as perdas decorrentes da irresponsabilidade política do governo anterior" - Foto: Maurício Tonetto/Secom

A retórica é a arte e a técnica de bem falar, de usar a linguagem para comunicar de forma eficaz e persuasiva. Um componente indissociável do ambiente político e democrático, mas que, quando não vem acompanhado de ações efetivas, se torna algo negativo, porque acaba por converter-se em nada mais do que uma mentira. Pode até ser bem contada, mas é uma mentira.

A população gaúcha já constatou que com o governador Eduardo Leite, infelizmente, tem sido assim, desde o seu primeiro mandato. Discursos empolados, grandiloquentes, proferidos com um sorriso no rosto, seguido de belos anúncios na imprensa gaúcha, que na prática, se perdem ao vento ou pior, se traduzem em descaso e negligência. Muitas vezes, essa retórica sem materialidade, aposta numa certa amnésia que não é espontânea, mas bem seletiva.

É o caso escassez de recursos alegada pelo governo gaúcho nos primeiros meses deste ano, para seguir sem repor as perdas salariais ao funcionalismo. No primeiro semestre de 2022, quando o então candidato à reeleição, Jair Bolsonaro, sequestrou o ICMS dos estados para fazer proselitismo eleitoral com a redução forçada do preço dos combustíveis, o governo Leite/Ranolfo afirmou que manteria o valor imposto reduzido, mesmo custando R$ 30 milhões mensais aos cofres estaduais e que faria cortes de gastos dentro do próprio governo.

Os deputados da base e os secretários do governo Leite não levantaram nenhuma objeção pública. A maioria apoiou a reeleição de Bolsonaro e a promessa de compensação que não havia sido cumprida. A conta, chegou e aqueles que o apoiaram durante os últimos quatro anos simplesmente silenciaram, enquanto o novo governo Leite aproveitou para justificar a manutenção do arrocho salarial dos servidores públicos, que já perderam mais de 40% no valor geral dos salários, nos últimos dois governos.

Tudo mudou na última sexta-feira (10), quando o novo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou a soma de R$ 26 bilhões para compensar as perdas decorrentes da irresponsabilidade política do governo anterior.  O RS terá abatido da dívida pública com a União R$ 3 bilhões nos próximos dois anos, que além de uma boa folga no pagamento das parcelas, vai permitir, entre outras coisas um plano de reposição salarial.

A retórica e as desculpas que serviam para justificar a ausência de investimentos, por exemplo, na política para as mulheres, vítimas de uma epidemia de violência, ou nas medidas para tratar da estiagem, que já fizeram aniversário se serem cumpridas, acabaram. Agora, parece que chegou a hora de mostrar a que veio um governo, que mesmo reeleito, ainda deixa muito a desejar.

* Deputada estadual pelo PT/RS, presidenta da Comissão de Segurança, Serviços Públicos e Modernização do Estado da ALRS

** Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Marcelo Ferreira