Rio Grande do Sul

7 ANOS DE ANGÚSTIA

Justiça extingue processo contra jornalista gaúcho preso no exercício da função em 2016

Prisão de Matheus Chaparini enquanto trabalhava na cobertura de ocupação estudantil em Porto Alegre foi alvo de críticas

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Ato em apoio ao repórter Matheus Chaparini reuniu jornalistas em frente ao Palácio Piratini - Foto: Joana Berwanger/Sul21

Foi extinto o processo contra o jornalista Matheus Chaparini, preso no exercício da profissão, em junho de 2016, quando fazia a cobertura de uma ocupação de estudantes na Secretaria da Fazenda (Sefaz) do RS. A decisão da juíza Salete Zanatta de Miranda, da 9ª Vara Criminal do Foro Central da Comarca de Porto Alegre, considerou o processo prescrito. A primeira audiência sobre o caso seria realizada nesta terça-feira (2).

Na época, o jornalista trabalhava para o Jornal Já e foi detido pela Brigada Militar por estar dentro do prédio da Sefaz. Permaneceu preso por 14 horas e chegou a ser levado ao Presídio Central, em Porto Alegre. Chaparini era acusado pelo crime de dano qualificado ao patrimônio público, por estar trabalhando dentro do prédio ocupado pelos estudantes.

A prisão do jornalista teve grande repercussão entre os trabalhadores da comunicação e recebeu todo o apoio e solidariedade da categoria. O Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul (Sindjors), Centra Única dos Trabalhadores do RS (CUT-RS) e outras entidades sindicais se mobilizaram, prestando apoio e organizando protestos pela retirada das acusações. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RS) divulgou nota repudiando a prisão.

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Em sua decisão, a juíza Eda Miranda considerou que o processo contra Chaparini, que também tinha outro réu, já estava prescrito desde 2019, visto que a pena máxima para o delito era de 6 meses, o que prevê prescrição em 3 anos.

"Ótima notícia", mas não faz justiça

Em suas redes sociais, Chaparini contou que recebeu a notícia no Dia do Trabalhador. Escreveu que “depois de sete anos de angústia, espera e agonia”, o processo foi extinto um dia antes da primeira audiência, um desfecho que não é o que ele gostaria ou considera justo.

“Eu e minha defesa jurídica lamentamos não termos tido a oportunidade de apresentar em juízo todo o farto material que comprova a minha inocência e o absurdo que foi a prisão de um jornalista em pleno exercício da profissão e devidamente identificado”, afirmou.

Ainda assim, o jornalista considera uma ótima notícia. “A extinção do processo tira um peso enorme dos meus ombros e me devolve a liberdade e a tranquilidade – que me foram arrancadas quase sete anos atrás – para exercer a minha profissão, o ofício do qual tiro meu sustento e por meio do qual busco contribuir diariamente para uma sociedade melhor. Não é uma vitória, mas é um resultado que passa de fase. Um empate que classifica”, avaliou.

A atual presidenta do Sindjors, Laura Santos Rocha, enfatiza que “ter o processo do jornalista Matheus Chaparini extinto é uma vitória para toda a nossa categoria. Mesmo que o profissional não tenha recebido o julgamento justo, acabou esta tortura e a criminalização descabida contra quem estava exercendo o seu papel profissional, em campo, da melhor forma possível: mostrando todos os lados e as partes envolvidas em uma notícia”.

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“O Sindjors esteve ao lado do colega desde o início desta ação descabida e comemora, junto a todas as pessoas envolvidas em dar apoio e suporte para encaminhar da melhor forma esta situação, o arquivamento desta diligência. O Sindjors é contra qualquer tipo de censura e de cerceamento à liberdade de expressão. A Entidade Sindical estará sempre ao lado de todas e de todos procurando exercer seu papel em defesa da nossa categoria”, garante Laura.

Secretário de Comunicação da CUT-RS, o jornalista Ademir Wiederkehr ressalta que a extinção do processo traz uma sensação de alívio e vitória. “Foi uma prisão sem provas, ocorrida quando o Brasil sofria o golpe de 2016. O absurdo processo foi mantido ao longo de todos esses longos anos em que resistimos e sobrevivemos aos ataques dos governos Temer e Bolsonaro, aqui respaldados por Sartori e Eduardo Leite”, compara.

“A extinção do processo acontece nos primeiros meses do governo Lula, que reacendeu a esperança no estado democrático de direito, na retomada dos direitos dos trabalhadores e na defesa da democracia”, salienta.

* Com informações da CUT-RS e do Sul 21


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Edição: Marcelo Ferreira