Rio Grande do Sul

Coluna

1º de Maio todos os dias

Imagem de perfil do Colunistaesd
"O 1º de Maio não é e não pode ser apenas um dia do ano. 1º de Maio é e deve ser todos os dias do ano o ano inteiro" - Foto: Jorge Leão
Em tempos da urgência da luta por justiça, igualdade, por democracia, é tempo de ser mais movimento

À educadora popular, militante sonhadora, companheira e amiga Conceição Paludo, Cuti, que partiu em 03.05.23. Saudades sempre!        

1º de Maio gaúcho inova ao acolher povo sem carteira (Brasil de Fato RS, 27.04.23). Manifestação vai juntar os trabalhadores regulares, os terceirizados e mais o pessoal dos aplicativos, Amarildo Cenci, presidente da CUT/RS: “Estamos articulando o povo sem carteira. Vamos botar ônibus para todos poderem participar: povo dos aplicativos, das cooperativas, das cozinhas comunitárias, das comunidades. Todos engajados.”

Assim foi no Ato na Praça da Usina do Gasômetro em Porto Alegre.

Não estamos mais nos anos 1970/80, quando metalúrgicos, bancários e outras categorias tinham peso político. Sindicalismo combativo. Suas greves, com lutas por direitos, democracia estavam na linha de frente e marcaram época. Com as Oposições Sindicais urbanas e rurais em todo Brasil, aconteceu o sindicalismo combativo. Assim, há 40 anos surgiu a CUT, Central Única dos Trabalhadores, com as lutas e ocupações no campo, também há 40 anos, o MST, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

Eram tempos em que ser Movimento era mais importante que ser Instituição. Movimento: Nada contra ser instituição. Mas esta não pode ´matar´ o movimento, o estar na rua, o que faz trabalho de base, o que se organiza de baixo para cima.

Hoje, anos 2020, há uma conjuntura muito diferente e uma nova classe trabalhadora. Há os trabalhadores terceirizados em larga escala, os trabalhadores dos aplicativos, em geral sem direitos, sem garantias, porque não há uma legislação que garanta direitos e condições dignas de vida.

O capitalismo se transforma. No mundo, mas especialmente no Brasil, a elite escravocrata mantém, e até aumenta, sua riqueza e controle do mundo do trabalho. Entender a profundidade das transformações em curso é decisivo para lutar por uma transformação econômica, social, ambiental.

Em tempos da urgência da luta por justiça, igualdade, por democracia, é tempo também de ser mais movimento e menos instituição. Por isso, o 1º de Maio não é e não pode ser apenas um dia do ano. 1º de Maio é e deve ser todos os dias do ano o ano inteiro.

Trabalhadoras e trabalhadores, todas e todos, é preciso juntar todo mundo nestes tempos de transformação do capitalismo ultraneoliberal, onde uns poucos continuam sendo muito ricos e a grande maioria continua sendo muito pobre, e uma grande maioria passa fome. Unidade em primeiro lugar e acima de tudo, sempre. A CUT, as Centrais Sindicais, o MST, os movimentos populares continuam fundamentais na organização dos de baixo, dos que continuam na boa luta.

Minha homenagem à Conceição Paludo, Cuti, vai em forma de poema, ela que fez do 1º de Maio um dia de luta e educação popular todos os dias.


A professora Conceição Paludo formou muitos estudantes e militantes em Educação do Campo, na área da Educação e na luta pela Educação pública e de qualidade / Arquivo pessoal

AMIGA, COMPANHEIRA, MILITANTE, SONHADORA

As Amigas, os Amigos do Peito estão aqui,/ao teu lado,/caríssima Cuti./Tua família está contigo, dolorida, mas solidária./ As educadoras e os educadores populares estão contigo,/ Conceição Paludo./ As militantes e os militantes,/ as sonhadoras e os sonhadores de um ´outro mundo possível´/, urgente e necessário,/ vão continuar tua militância, teu sonho./

O tempo sempre é escasso para tudo./ O tempo dos encontros, boas comidas e alegria na tua casa,/ na nossa casa./ O tempo dos debates acalorados e das reflexões profundas/ em todos os lugares e espaços/ vai ficar sempre presente/ na memória e no coração./

O tempo da luta e do encanto continuará sendo tu,/ continuará sendo nosso,/ continuará vivo, a nos iluminar no cotidiano,/ nos Acampamentos, Assentamentos e ocupações do MST, MMC, MMTR, MAB,/ no CAMP, Centro de Assessoria Multiprofissional,/ na Universidade, em Pelotas e na UFRGS,/ no CEAAL, Conselho de Educação Popular da América Latina e Caribe, com Paulo Freire,/ na RECID, Rede de Educação Cidadã,/ nas greves da CUT/, no PT, Partido das Trabalhadoras e dos Trabalhadores,/ nos governos democrático-populares,/ nas mobilizações por democracia e direitos,/ em tantos lugares de Porto Alegre,/ do Rio Grande do Sul,/ do Brasil, do mundo/ onde sempre estiveste/ e compartilhaste tua energia, teu pensamento lúcido e firme,/ tuas opções de vida,/ tua iluminação./

Estás viva, Conceição Paludo./ Continuarás viva, Cuti./ Serás nossa voz./ Serás nossa luz./ Serás sempre uma estrela/ a nos guiar para o horizonte/ e para o amanhã./ Seguiremos juntos,/ juntinhos,/ caminhando na estrada da vida,/ da utopia,/ da esperança./

Na boa luta,/ com fé e coragem,/ Cuti,/ ESPERANÇAR freireanamente.”

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.      

Edição: Katia Marko