Rio Grande do Sul

DESENVOLVIMENTO

Artigo | A Energia pertence ao povo

Uma nova proposta para o desenvolvimento da agricultura camponesa precisa pensar em novas alternativas energéticas

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Movimento dos Atingidos e Atingidas por Barragens tem levantado a pauta da Soberania Energética como interesse público do povo brasileiro - Arquivo MAB

As principais fontes de energia atualmente utilizadas no campo vêm de grandes barragens e do petróleo. A agricultura brasileira é dependente do petróleo como sua principal fonte de energia, tanto para mover as máquinas como nos fertilizantes. Uma nova proposta para o desenvolvimento da agricultura camponesa precisa pensar em novas alternativas energéticas.

As grandes barragens trazem enormes problemas sociais para os camponeses pobres e danos ambientais para toda a sociedade. Desalojam milhares de pequenos agricultores e provocam destruição na natureza.

É preciso implementar políticas para utilização de outras fontes de energia, como a solar, a eólica, a biomassa e a utilização de barragens de pequeno porte. Também evitar o desperdício de energia e não fornecer energia barata e subsidiada para indústrias multinacionais eletrointensivas (como o alumínio), que vêm aqui explorar nossa matéria prima e usar energia barata conseguida às custas do sangue do povo brasileiro.

Da mesma forma, é preciso iniciar a substituição do petróleo por energia renovável, que possa ser produzida nas próprias comunidades camponesas e por elas utilizadas. Uma possibilidade é o álcool combustível, sob controle das próprias comunidades, através de microusinas e o vinhoto utilizado como adubo e parte da cana, utilizada como alimentação para o gado.

Outra questão importante é o direito camponês de acesso à energia de qualidade no interior. Luz, força, combustíveis e biocombustíveis acessíveis, baratos e, os que possíveis, produzidos nas próprias comunidades. Energia solar e eólica através de usinas comunitárias, micro e pequenos aproveitamentos hidroelétricos devemos projetar sob o controle das comunidades rurais para baratear o custo da energia no campo e baratear o custo de produção dos alimentos.

Soberania energética também começa em casa: produzir lenha em pequenos bosques e economizar gás pode ser um bom começo.

A energia é um instrumento de desenvolvimento nacional, portanto, seu controle deve ser estatal. Por isso defendemos a Petrobras e a Eletrobras Públicas, e que os recursos oriundos da exploração do petróleo sejam utilizados na educação, saúde, produção de alimentos na agricultura camponesa e Reforma Agrária. Defendemos a reestatização na geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, e a energia barata das usinas já pagas ser utilizada para baratear o custo das famílias mais pobres.

No campo, a energia é meio fundamental para a armazenagem, beneficiamento, agroindustrialização e conservação da produção. É, portanto, tema estratégico no fortalecimento e desenvolvimento da agricultura camponesa familiar.

* Frade franciscano, dirigente do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e Via Campesina. Autor de "Trincheiras da Resistência Camponesa".

** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Marcelo Ferreira e Marcos Corbari