Rio Grande do Sul

Coluna

Solidariedade e cuidado com a Casa Comum

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"Prefeituras, CTGS, Associações de Bairro, movimento sindical, igrejas, entre outras organizações, as pessoas em geral fizeram campanhas de doação" - Foto: Samuel de Souza
A palavra que mais se ouviu a partir de todos os lados desde sábado, 17 de junho, foi Solidariedade

Os acontecimentos da semana.

Domingo, dia 11 de junho de 2023, em Santa Emília, Venâncio Aires, interior do interior do Rio Grande do Sul, preparação para a semana que promete ser intensa : sol, frio de cerca de 10 graus, velório do companheiro Acelmo Schabach em Venâncio Aires.

Segunda feira, 12 de junho, dia das namoradas e dos namorados: sol, frio de 10 graus, releitura de artigo na revista La Piragua, de CEAAL (Conselho de Educação Popular da América Latina e Caribe): ´Educação popular para reinventar a democracia´ (Selvino Heck, nº 533, junho/2018).

Terça, 13 de junho de 2023, em Santa Emília, Venâncio Aires: geada, os campos ao redor de casa todos brancos, frio de 2 graus em Santa Emília, sol durante o dia. A palestra de Frei Betto em Caxias do Sul teve que ser transferida, por pressão dos pais da Escola São José para o auditório da Universidade, com sucesso total.

Quarta, 14 de junho: o dia amanhece com chuva fina e frio, temperatura de menos de 10 graus. Viagem com mano Bruno e cunhada Rejane, mais João e Lurdes, de Santa Emília a Boqueirão do Leão, RS, para o 23º Encontro das Sementes Crioulas: “É o Encontro das agricultoras e agricultores com suas sementes e origens”. Carro lotado, a chuva foi fraca na ida, mais forte no retorno, dia inteiro com chuva e frio.

Quinta, 15 de junho: chuva forte todo dia, temperatura em torno de 10 graus. Retorno de carro de Venâncio Aires a Porto Alegre, com chuva intensa e alguns alagamentos na estrada.

Sexta, 16 de junho: um ciclone extratropical atinge violentamente o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Chuva, chuva forte, mais de 100mm num único dia em Porto Alegre, muito forte de madrugada, chuva o dia inteiro, sem parar, alagamentos, tempestade. Frio de cerca de 10 graus. A prefeitura de Porto Alegre pede para ninguém sair de casa, a não ser quando absolutamente necessário ou em consequência do ciclone.

Sábado, 17 de junho: tempo nublado, sem chuva, meia hora de sol à tarde.

Domingo, 18 de junho: de madrugada, viagem para São Paulo, Assembleia Intermediária do CEAAL. Frio de menos de 10 graus em Porto Alegre, frio de cerca de 10 graus em São Paulo todo dia.

Esta foi, em resumo, a semana anterior ao início do inverno de 2023 no Rio Grande do Sul, Sul do Brasil. Os estragos foram muitos, inacreditáveis. Ninguém esperava, nem população, nem autoridades públicas a intensidade do ciclone extratropical. Foi devastador.

Dezenas de municípios atingidos, água subindo nas ruas, estradas e casas como nunca se tinha visto, com extrema rapidez e intensidade, expulsando famílias de suas casas, estragando telhados e moradias, milhares de famílias perdendo praticamente tudo, móveis, roupas, utensílios, equipamentos, casas sem água e energia por vários dias, ruas e estradas destruídas.

Um horror, algo inacreditável, mesmo para quem, no Sul do Brasil, está acostumado a mudanças bruscas de temperatura, a muita chuva, especialmente no inverno, incluindo temporais e tempestades. Uma tragédia!

Que dias! Que semana!

A palavra que mais se ouviu a partir de todos os lados desde sábado, 17 de junho, foi SOLIDARIEDADE. É preciso ajudar quem está sofrendo. Foram roupas, móveis, colchões, utensílios para quem perdeu tudo. As famílias sem casa e sem nada foram acolhidas. Prefeituras, CTGS, Associações de Bairro, movimento sindical, igrejas, entre outras organizações, as pessoas em geral fizeram campanhas de doação, ajudaram a colocar as famílias atingidas em ginásios e equipamentos públicos, cancelando suas atividades cotidianas.

A palavra solidariedade, como ação concreta, em tempos de ódio, intolerância, violência, entrou no coração da população, das famílias não atingidas, das comunidades, como um raio de luz, uma faísca de amor. O ´ninguém solta a mão de ninguém´, sempre cantado no sentido político, tornou-se ajudar a outra e o outro, a vizinha e o vizinho no seu problema imediato, na sua necessidade de acolhimento, de ter comida e teto, para sobreviver com um mínimo de dignidade e poder começar a pensar no amanhã com esperança.

O tema das mudanças climáticas está mais uma vez no centro das preocupações, em tempos de destruição predatória do meio ambiente e da natureza. Como estará o mundo nos próximos anos? Quem sobreviverá às intempéries dos ciclones, das secas, da falta de água, ou do seu excesso, as mudanças de temperatura, ao desaparecimento de árvores e florestas? Como preservar a natureza, o meio ambiente, as florestas?

Urgem, e rugem, a solidariedade em todos os sentidos e o cuidado com a Casa Comum, como vem anunciando o Papa Francisco, especialmente através de sua Encíclica Laudato Sì, de suas palavras aos jovens, de seus alertas a toda humanidade, para a construção de uma sociedade do Bem Viver.

O aviso, mais uma vez, foi dado. Não há mais tempo a perder. A solidariedade precisa voltar a povoar corações e mentes. O cuidado com a Casa Comum precisa estar nas preocupações dos governantes, com políticas públicas de garantia de futuro de homens, mulheres, jovens, crianças, de todo planeta. Vida em primeiro lugar!

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko