Rio Grande do Sul

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Amanhã vai ser outro dia!

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"O SUS foi defendido com ardor e coragem na 17ª Conferência Nacional de Saúde, em Brasília, com mais de 4 mil delegadas e delegados de todo o país" - Foto: Divulgação CNS
A saúde de um povo depende de um país, de uma nação soberana construídos coletiva e solidariamente

Foi lindo. Foi tri. Definitivamente, o Brasil está saindo dos tempos nebulosos, e voltando a sorrir e sonhar.

A 17ª Conferência Nacional de Saúde, acontecida esta semana em Brasília, e da qual fui delegado titular representando a ANEPS, Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular e Saúde, e o Grito das Excluídas e dos Excluídos, falou e cantou em alto e bom som, ´Amanhã vai ser outro dia, SUS´. O tema geral da Conferência foi: Garantir direitos e defender o SUS, a vida e a democracia. Participaram mais de 4.000 delegadas e delegadas de todo Brasil, eleitos em Conferências estaduais e municipais e em Conferências Livres, e mais de 1.000 convidadas-os.

Poucas vezes pôde-se ver o Brasil reunido com todas as suas faces, todas as suas cores, todas as suas bandeiras, todas as origens, todas as crenças, todos os paladares, todas as necessidades, todos os desejos, todas as urgências, todas as energias, todos os saberes, todas as lutas, todas as utopias. Eram negras e negras, eram mulheres, eram indígenas, era o povo LGBTQIA+, eram jovens, eram idosas e idosos, eram trabalhadoras e trabalhadores, eram aposentadas e aposentados, eram pessoas com deficiência, eram usuários, eram gestores, eram conselheiras e conselheiros, eram movimentos populares e sociais, movimento sindical do campo e da cidade. Um mar de gente conversando entre si, dialogando, loucas e loucos para ver Lula na Conferência. Lula esteve presente. Todas e todos querendo que a ministra Nísia Trindade, da Saúde, continuasse ministra. E Lula garantiu sua permanência.

As palavras do presidente do CNS, Conselho Nacional de Saúde, Fernando Pigatto, ele sempre elétrico, presente, alegre, atencioso com todas e todos, são proféticas, num momento histórico: “Vamos continuar cobrando a responsabilização de quem cometeu crimes durante a pandemia. Presidente do CNS diz ser preciso reparar os direitos violados pelo governo Bolsonaro” (Brasil de Fato RS, 01.07.2023). Nas palavras de Pigatto: “A Conferência é um processo de construção coletiva, se não fossem o SUS e o controle social, teríamos muito mais vidas perdidas na pandemia. Precisamos fazer do luto a luta e não podemos deixar cair no esquecimento. O controle social não se dá por acaso, é base de muita luta. A pandemia só potencializou a importância do SUS e seus desafios. A Conferência da Saúde vai ser uma virada histórica do processo de Conferências e vem num momento de retomada da participação, reafirmação e radicalização da democracia.”

O SUS foi defendido com ardor e coragem na Conferência, o SUS que garantiu a vida de brasileiras e brasileiros em meio a uma pandemia e ante um governo genocida, o SUS que é fruto da VIIIª Conferência nacional de Saúde, em 1986, da luta nas ruas, da mobilização social, Conferência que preparou sua presença na Constituinte de 1987 e sua consolidação na Constituição Cidadã.

A 17ª Conferência teve 4 Eixos Temáticos: 1: o Brasil que temos, o Brasil que queremos; 2: o papel do controle social e dos movimentos sociais para salvar vidas; 3: garantir direitos e defender o SUS, a vida e a democracia; 4: amanhã vai ser outro dia para todas as pessoas.

A saúde de um povo depende de um país, de uma nação soberana construídos coletiva e solidariamente, ninguém soltando a mão de ninguém. A saúde precisa de controle social e participação popular. A saúde está unida na defesa da vida e da democracia em todos os níveis e sentidos. Assim, a saúde garante que hoje e amanhã serão outro dia para todas e todas, sem exclusão de ninguém, com direitos, dignidade, justiça, igualdade.

Os debates por vezes foram acalorados. Afinal, era gente vinda de todo Brasil que não se conhecia, mas sabia que o principal e o que unia todas e todos era a defesa da vida, da natureza, o cuidado com a Casa Comum.

Cantava Chico Buarque em tempos difíceis, num hino profético inesquecível: “Apesar de você amanhã vai ser outro dia./ Quando chegar o momento,/ esse meu sofrimento/ vou cobrar com juros, juro./ Todo esse grito contido,/ esse samba no escuro./ Apesar de você amanhã vai ser outro dia./ Você vai ter que ver/ a manhã renascer/ e esbanjar poesia./ Como vai se explicar,/ quando o céu clarear/ de repente, impunemente?/ Como vai abafar/ nosso coro a cantar na sua frente?/ Apesar de você amanhã há de ser outro dia./ Você vai se dar mal/ etcetera e tal/ la la la la lalaia.”  

Amanhã vai ser outro dia, com certeza, cantaram milhares de brasileiras e brasileiros na 17ª Conferência nacional de Saúde, anunciando novos tempos, anunciando o futuro, anunciando a alegria, anunciando a boa nova de que o povo brasileiro está mais que nunca vivo, desperto, cheio de fé e coragem, pleno de amanhã, sonhos e utopia. Viva o SUS!

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko