Rio Grande do Sul

In memoriam

Morre, aos 83 anos, o educador popular Carlos Rodrigues Brandão 

Amigo de Paulo Freire, o antropólogo, professor, escritor e pesquisador, faleceu nesta terça-feira (11)

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Atribuída a Freire, a frase “A educação não muda o mundo. A educação muda as pessoas. As pessoas mudam o mundo" é, na realidade, de Brandão - Crédito: Reprodução do blog "A partilha da vida"

Amigo de Paulo Freire, o educador carioca Carlos Rodrigues Brandão morreu nesta terça-feira (11), aos 83 anos. Ele deixa dois filhos, três netos e uma vasta obra dedicada à educação popular.

O educador popular nasceu em 1940, no Rio de Janeiro, e atualmente residia em Campinas (SP). Formou-se em psicologia na PUC do Rio de Janeiro, dedicando-se às suas atividades especialmente na área da educação. 

“A educação não muda o mundo. A educação muda as pessoas. As pessoas mudam o mundo.” A famosa frase, comumente atribuída a Paulo Freire (1921-1997) é na verdade de Carlos, aponta a jornalista Ana Luísa D'Maschio.

Conforme destaca Ana, a frase referenciada a Freire na verdade foi retirada de um depoimento no qual Brandão fazia em alusão ao patrono da educação brasileira. “Paulo sabia bem que por conta própria a educação não muda o mundo. A educação muda as pessoas. As pessoas mudam o mundo”, diz a mensagem original, publicada no livro “Paulo Freire, educar para transformar: fotobiografia”.

Psicólogo pela Universidade Católica do Rio de Janeiro, mestre em antropologia pela Universidade de Brasília, doutor em ciências sociais pela Universidade de São Paulo, fez seus estudos de pós-doutorado junto na Universidade de Perugia (Itália) e na Universidade de Santiago de Compostela (Espanha).

Professor universitário, também escreveu poesia, literatura e abordou temas como cultura e educação ambiental. Recebeu duas vezes o título de doutor honoris causa (pela Universidade Federal de Goiás e pela Universidad Nacional de Lujan, Argentina), além de ser professor emérito da Universidade Federal de Uberlândia e da Universidade Estadual de Campinas. 

Tem estudos na Educação de Adultos, área que tem contribuído desde a década de 1960. Quando residiu em Brasília e Goiânia (1967 e 1975), trabalhou em movimentos sociais e como professor universitário, sempre desenvolvendo pesquisas e práticas de Educação Popular.

Ingressou na Universidade Estadual de Campinas em janeiro de 1976 e nela se aposentou como professor titular; mesmo aposentado continuava como professor colaborador voluntário. Ao longo de sua vida, lecionou em mais de dez universidades do Brasil e da Europa.  

Tem mais de 70 livros publicados nas áreas de antropologia, educação e literatura. É um autor muito referenciado em pesquisas universitárias e pelos movimentos sociais. 

São dele os livros “O que é Método Paulo Freire”, “O que é educação”, “O que é educação popular” e “O que é Folclore”, da Coleção Primeiros Passos, da Editora Brasiliense. Famosos nos anos 1970 e 1980, os livretos de bolso explicam, em linguagem simples e direta, diferentes áreas do conhecimento.

Atuação no RS

No Rio Grande do Sul, expõe a educadora popular, militante da Associação de Educadores Populares de Porto Alegre (AEPPA), Fernanda Paulo, contribuiu com prefeituras de governos populares, especialmente na área da Educação de Jovens e Adultos. Colaborou com a construção do Movimento de Alfabetização de jovens e adultos: MOVA-RS e MOVA-POA, também com a constituição da Associação de Educadores Populares de Porto Alegre (AEPPA).

Também participou de atividades em várias universidades do estado e em outros movimentos populares, além da AEPPA, no MST. Realizou pesquisas com Danilo Streck, igualmente pesquisador da Educação Popular e pesquisas participativas. 


Carlos Rodrigues Brandão, um dos avaliadores da banca de mestrado e doutorado de Fernanda Paulo / Foto: Arquivo Pessoal

Fernanda comenta que iniciou seus estudos universitários por conta da luta da AEPPA, espaço que Brandão colaborou como palestrante e apoiador. Ela era educadora popular do MOVA (Movimento de Alfabetização de jovens e adultos) quando conheceu Brandão presencialmente.

Desde o primeiro contato, nas ruas e vilas da Lomba do Pinheiro, periferia de Porto Alegre, iniciaram uma amizade que rendeu frutos. Entre eles a pesquisa sobre as Cartas de Carlos Rodrigues Brandão, correspondências que o educador trocou entre as décadas de 1960 a 1980, e nelas havia a presença da Educação Popular em vários contextos (escola, universidade, movimentos sociais, etc.).

“Era um apaixonado pela vida e um militante da Educação Popular. Um andarilho de sonhos, esperanças e resistências.  Ele deixou um legado a ser seguido por todos educadores e educadores que acreditam que um outro mundo é possível. Carlos Rodrigues Brandão, um amigo de Paulo Freire e de tantas outras educadoras e educadores do campo progressista, nos deixou fisicamente hoje, mas sua presença na memória através das vivências, livros, poesias, lives gravas e fotos estará viva.  Essa é uma homenagem a todas as educadoras e educadores populares do Rio Grande do Sul. A AEPPA  agradece a presença de Brandão em nosso estado”, afirma Fernanda.

*Com informações do site Porvir


Edição: Marcelo Ferreira