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6 meses, vida e história

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"Urge, em 2023, é tempo de superar, de reinventar Paulo Freire e Carlos Rodrigues Brandão: construir o amanhã, o sonho, a utopia" - Arquivo pessoal
Em homenagem ao educador popular Carlos Rodrigues Brandão

O tempo passa, o tempo voa!

2002/2003: A fome tem pressa, dizia Betinho, ao criar a Ação da Cidadania nos anos 1990, quando o neoliberalismo foi dominante no Brasil, até o alvorecer de 2003. Não por outro motivo, no início dos anos 2000, o FSM, Fórum Social Mundial, aconteceu em Porto Alegre, ´um outro mundo possível´, hoje mais que nunca urgente e necessário.

As primeiras décadas dos anos 2000, governos Lula e Dilma, marcaram época. Surgiu o programa Fome Zero, com o MESA, o COPO, o PRATO, o SAL, o TALHER, e a RECID, Rede de Educação Cidadã, nas palavras proféticas de Frei Betto, “é preciso matar a fome de pão e saciar a sede de beleza”. Participação social e popular, Conselhos e Conferências, reconstrução do CONSEA, Conselho nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, o Brasil saindo do Mapa da Fome, o Brasil presença e referência no mundo, como nunca antes na História.

Vinte anos depois, anos 2020, depois do golpe e impeachment da presidenta Dilma, o Brasil é um país destruído. A fome, a miséria, o desemprego voltaram. Foi preciso criar uma Frente Nacional contra a Fome e a Sede, as Cozinhas Solidárias e Comunitárias, o povo solidário das periferias ajudando quem passa fome. As políticas públicas construídas com participação social e popular foram quase todas extintas, menos o bendito SUS, como proclamou a 17ª Conferência Nacional de Saúde há poucos dias.

As mudanças climáticas e suas consequências estão no cotidiano: ciclones extratropicais, enchentes, tempestades, estiagem. A paz mundial está em sério risco, nas palavras de Dmitri Medvedev, Vice-secretário do Conselho de Segurança da Rússia: “A 8ª guerra mundial está se aproximando (Brasil 247, 12.07.2023). O Brasil e o mundo respiram ódio, intolerância, preconceito. A América Latina e o Caribe resistem ao ultraneoliberalismo e suas vestes neofascistas.

Em 2023, com o voto do povo brasileiro, o diálogo voltou, até com o apoio do Centrão, para começar uma Reforma Tributária. Há a reconstrução das políticas públicas: Minha Casa, Minha Vida, Mais Médicos, políticas e programas de SSAN, Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, agroecologia, Economia Solidária, PAA, Programa de Aquisição de Alimentos. Acontece o PPA, Plano Plurianual Participativo, anunciando o OP, o Orçamento Participativo nacional, a educação popular voltando a ser referência e presença viva.

Os tempos, em 2022/2023, são mais difíceis que em 2002/2003. Mas, feliz e finalmente, o Brasil volta a sorrir e sonhar. E a proclamar, com Paulo Freire e Carlos Rodrigues Brandão, na boa luta, com fé e coragem, ESPERANÇAR.

O que virá pela frente? O Brasil, em seis meses de governo Lula, já está melhor, tem anúncio de futuro. Mas quem sabe o que vem pela frente? Haverá paz ou guerra nuclear? As mudanças climáticas, a humanidade e o mundo para onde? No Rio Grande do Sul, por exemplo, em menos de um mês, aconteceram três ciclones extratropicais, com consequências graves para o conjunto da população, especialmente para os mais pobres entre os pobres, moradoras e moradores das periferias.

É momento, é hora de relembrar frases e poemas do educador popular e poeta Carlos Rodrigues Brandão, falecido esta semana: “A felicidade está na maneira simples de levarmos a vida.” “É preciso criar uma vida sustentada estritamente pelo essencial, uma simplicidade voluntária, e transformar isso em vida interior e saber.” “O pódio tem três lugares – ouro, prata e bronze -, mas a vida é muito mais que isso.” “Encantar a vida pela educação.” “Mas nós somos humanos, porque somos aprendentes.” “Vocês todos não precisam ser professores, não precisam. São educadores.”

Carlos Rodrigues Brandão lembrou a vida inteira, e escreveu: “Paulo Freire sabia bem que por conta própria a educação não muda o mundo. A educação muda as pessoas. E as pessoas mudam o mundo.” Paulo Freire disse, no início dos anos 1990, quando Carlos Rodrigues Brandão e Moacir Gadotti foram perguntar-lhe se concordava com a criação de uma instituição para preservar seu legado, seus escritos, seu pensamento, seu Método conscientizador e libertador: “Se é para me repetir, não criem. Mas se é para me superar, para me reinventar, eu apoio.”

Urge, em 2023, é tempo de superar, de reinventar Paulo Freire e Carlos Rodrigues Brandão: construir o amanhã, o sonho, a utopia.

Paulo Freire vive! Carlos Rodrigues Brandão vive!

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko