Rio Grande do Sul

Igreja em saída

Encontro de Comunidades Eclesiais de Base vai refletir 'Sinodalidade e Democracia'

15º Intereclesial de CEBs acontece de 18 a 22 de julho na Diocese de Rondonópolis/Guiratinga (MT)

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Agentes de CEBs de todo país vão se deslocar ao Mato Grosso nos próximos dias - Divulgação

O encontro nacional das Comunidades Eclesiais de Base – 15º Intereclesial de CEBs – vai ser realizado na próxima semana, de 18 a 22 de julho, na diocese de Rondonópolis/Guiratinga (MT). A reflexão norteadora do encontro será “Sinodalidade e Democracia”, o lema será “Igreja em saída, na busca da vida plena para todos e todas” e o texto bíblico que serve de motivação, é “Vejam! Eu vou criar Novo Céu e uma Nova Terra” (Is 65,17ss).

Representantes da chamada “Igreja em Saída” estão se deslocando de todo o país para participar da atividade que, conforme denotam os organizadores, busca “a direção de uma Igreja toda ela Sinodal e um mundo mais justo, solidário e democrático”. O Brasil de Fato RS conversou com o Padre Alex Kloppenburg, atualmente na paróquia de Santana do Livramento (RS) e que vai participar do encontro acerca dos objetivos da atividade.

Padre Alex inicialmente explica que o Intereclesial é um encontro que reúne os representantes das CEBs de todo Brasil. É aguardada ainda a participação de representantes dos povos originários; religiosas e religiosos; bispos, presbíteros e diáconos; representantes de outras denominações religiosas; e até participantes de outros países.  

A iniciativa surgiu na década de 70, sendo realizado o primeiro em 1975, na cidade de Vitória (ES). A expressão hoje amplamente conhecida “Igreja que nasce do povo” surgiu neste intereclesial, que trazia consigo uma nova eclesiologia, nascida de uma nova consciência a partir de um novo jeito de ser Igreja.

“A Igreja é comunidade ou não é Igreja”, aponta padre Alex, relembrando que o próprio Jesus disse isso aos seus apóstolos: “onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles” (Mateus 18,20). Ele explica ainda que a Igreja ensina que ninguém se salva sozinho: "nós nos salvamos em comunidade”.

“A partir daí, iluminados pelo Concílio Vaticano II e animados pelas Conferências Episcopais Latino-americanas de Medellín (1968) e Puebla (1979), estes encontros foram se multiplicando em todos os níveis: paroquiais, diocesanos, estaduais, nacionais e continentais”, acrescenta.

"Novo jeito de ser Igreja"

No tema escolhido para a 15ª edição do Intereclesial está presente a afirmação de que “Evangelizar constitui, de fato, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade” (Evangelli Nuntiandi, 14; Evangelli Gaudium, 111). Está presente também a dimensão missionária como nota constitutiva da Igreja e razão do chamamento do Papa Francisco na perspectiva de uma Igreja em saída: “Saiamos, saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo! Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas a uma Igreja enferma pelo fechamento e pela comodidade de se agarrar às próprias seguranças” (Evangelli Gaudium 49).

Padre Alex comenta ainda que “as CEBs são Igreja em saída e, na sua caminhada no Brasil, alicerçada na Palavra de Jesus que veio para que todos tenham vida plena (Jo 10,10), se comprometem a lutar contra toda violência e discriminação, na busca de estabelecer a dignidade humana em qualquer tempo e lugar”.

Segundo informações de Marilza José Lopes Schuina, integrante da equipe Ampliada Nacional de CEBs, serão 1.100 participantes. Representantes das comunidades, convidados e convidadas vão buscar garantir os objetivos de intercâmbio, troca de experiências, formação e celebração da caminhada das comunidades, com o protagonismo, a participação dos representantes na construção dos processos de reflexão.

“O encontro intereclesial não é um evento simplesmente. Faz parte de um processo de animação da vida das comunidades, de articulação da rede de comunidades no Brasil, procurando, assim, manter viva a chama da esperança e da resistência de um 'novo jeito de ser Igreja', Igreja povo de Deus, sinodal e toda ministerial, Igreja dos pobres, com os pobres e para os pobres, Igreja do diálogo, da denúncia profética e do anúncio do Evangelho do Reino e da sociedade de irmãos e irmãs, Igreja cuja natureza é ser missionária, profética, libertadora, ecológica e sociotransformadora”, aponta a articuladora.

O Brasil de Fato RS recebeu ainda informações da organização do evento acerca da reflexão central, expressa na Carta às Comunidades, emitida para todo o país no mês de abril. “Democracia não significa apenas ter direitos iguais politicamente. Muito menos pode ser entendida apenas como liberdade de expressão, inclusive liberdade de mentir ou de enganar. Passamos por experiências muito dolorosas em nosso País, especialmente nos últimos anos. O sentido verdadeiro da Democracia está no acesso aos direitos básicos, comida em primeiro lugar, moradia digna, saúde, educação, lazer, transporte e tudo o que a Constituição Brasileira de 1988 garante, como direitos para toda a população. E nesse ponto, ainda há muita coisa a ser feita”, afirma o secretariado do encontro no documento, contando com a colaboração do Padre João Maria, do estado do Maranhão.

“Assim como precisamos avançar na igualdade de direitos e no exercício da Democracia em nossa sociedade, também no âmbito da Igreja, que enquanto estrutura social, sofre as mesmas mazelas da sociedade, este avanço se faz necessário”, acrescenta o texto, que pode ser conferido na íntegra no site CEBs do Brasil ou através de download direto em formato PDF.


Edição: Marcelo Ferreira