Rio Grande do Sul

15º Intereclesial

Comunidades Eclesiais de Base defendem espiritualidade comprometida com a transformação social

Um dos pontos de debate do encontro são os impactos da realidade do país e da Igreja sobre as comunidades

Brasil de Fato | Rondonópolis (MT) |
Cerca de 1.500 representantes de CEBs de todo país estão reunidos em Rondonópolis até o próximo sábado (22) - Renan Dantas / Comunica 15

O 15º Intereclesial de Comunidades de Base está acontecendo em Rondonópolis (MT) desde terça-feira (17) e segue até sábado (22). O encontro trata do tema “Igreja em saída na busca da vida plena para todos e todas” e busca refletir acerca do impacto da realidade do país e eclesial sobre as CEBs, assim como os desafios em vista de sua superação.

No segundo dia de atividades foi posto em debate temas como os ataques às minorias e a uma espiritualidade comprometida com a transformação social. Os organizadores apontaram que a criação de espaços de resistência e a articulação popular correspondem aos maiores impactos da realidade do país e da Igreja sobre a caminhada pastoral das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs).

Foi marcante a crítica ao clericalismo, fazendo eco às palavras do Papa Francisco que recentemente declarou que tal procedimento é "uma perversão na Igreja". Esse é um dos pontos do levantamento feito pelos cerca de 150 representantes de comunidades dos regionais Oeste 1 (Mato Grosso do Sul) e Sul 1 (São Paulo).

Reunidos no Centro de Eventos Santa Terezinha, no bairro Jardim Belo Horizonte, na plenária chamada “Casa Comum”, os representantes discutiram e socializaram suas impressões a partir de uma metodologia participativa, caracterizada pela escuta, pelo trabalho em grupo e o diálogo em plenária.

Igreja "pé no chão"

“As CEBs são formadas por pessoas que lutam pelos direitos de todos e principalmente de quem mais necessita, já os grandes visam mais o agronegócio e prejudicam os pequenos. Sou agricultora e sei o quanto a gente padece nas mãos dos grandes, mas a gente tem conseguindo muita coisa no assentamento, através de muito sacrifício, luta e das cooperativas”, afirma Irley Menezes, que mora no Assentamento Itamarati 2, no município de Ponta Porã, na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai.

Ela acrescenta que as CEBs se contrapõem ao esplendor da instituição religiosa representada por uma visão hierárquica e oficial, sendo uma “Igreja em saída”, como defende o papa Francisco. “Somos uma Igreja ‘pé no chão’, que não fica só na oração”, destacou.

Alex Rossi, da Comunidade São Francisco, no município de Penápolis (SP), assinalou que o processo histórico e a situação atual interferem na caminhada pastoral das Comunidades Eclesiais de Base. “O patriarcalismo, o latifúndio, o autoritarismo e o racismo impactam na realidade das CEBs, assim como este momento de ódio e polarização política que vivemos na atualidade”, pontuou.

Além disso, segundo ele, a estrutura clericalista, de caráter oficial, hierárquico e conservador promove “leigos clericalizados, contra a lógica da comunidade”. “Por isso, hoje em dia, ser de comunidade é ser contra a lógica clericalista e contra o neoliberalismo, que olha o próprio umbigo e não quer comunidade”, expôs.


Dom Maurício destacou que a Igreja é Comunidade e mostrou-se satisfeito com as atividades dos primeiros dias do Intereclesial / Renan Dantas / Comunica 15

Dom Maurício avalia primeira etapa do Intereclesial de CEBs

O bispo anfitrião do encontro, Dom Maurício da Silva Jardim, avaliou como positivos os resultados atingidos na primeira metade do encontro das Comunidades Eclesiais de Base. “No rosto das pessoas a gente vê a alegria; é gente de comunidade que está aqui. Tenho conversado com muitos cristãos leigos e leigas, religiosos, padres e bispos; a gente vê e sente que esse tipo de encontro, realmente fortalece a missão da Igreja no Brasil. Estou muito contente em poder acolher este encontro”, afirmou o bispo da Diocese de Rondonópolis-Guiratinga.

Em entrevistas concedidas para emissoras de TV católicas, Dom Maurício também pediu que os católicos que não participam do encontro estejam em comunhão com o 15º Intereclesial. “Para quem não está conosco, acompanhe pelas redes sociais da Diocese e das CEBs no Brasil, rádio e TV, as notícias certas e verdadeiras para entender a dinâmica desse encontro. Eu também peço que rezem e estejam em comunhão conosco, porque a nossa vida cristã é uma vida em comunidade; não existe fé sem comunidade. Então vamos juntos, construir essa Igreja missionária e sinodal”, afirmou.

O Intereclesial tem a participação de aproximadamente 1,5 mil representantes das CEBs de todo o Brasil, além religiosas e religiosos, bispos, lideranças de organismos ligados à Igreja Católica, e outras denominações cristãs e expressões espirituais, movimentos sociais e populares.

* Com informações do site CEBs do Brasil e do coletivo Comunica15


Edição: Marcelo Ferreira e Marcos Corbari