Rio Grande do Sul

Coluna

O silêncio dos inocentes

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"Creio que nada resume melhor estes tempos do que a triste imagem daquela ovelha, suspensa a 5 metros de altura do universo das ovelhas, enforcada em fios de postes da rede elétrica" - Reprodução
Será necessário alertar a população, fazer planos de contingência, encarar o futuro e prevenir

Semana repleta de temas da maior importância.

As repercussões, o impacto, as motivações e o teor da decisão do ministro Toffoli reconhecendo a prisão de Lula como “um dos maiores erros judiciários da história do país”, e acusando lideranças lavajatistas de se valer de “verdadeira tortura psicológica, UM PAU DE ARARA DO SÉCULO XXI, para obter 'provas' contra inocentes"; o reconhecimento pelo STF de que áreas que não cumprem a função social, produtivas ou não, devem ser desapropriadas; a triste substituição da Ana Mozer pelo Fufuca Filho, o “fufuquinha”, de família associada ao trabalho análogo à escravidão e tradicionalmente oposta a tudo que este governo representa; a tragédia climática no Sul, levando tanto a dramas ainda impossíveis de mapear como à justificada e meritória aliança entre gremistas e colorados e ao surpreendente extravasamento de arrogância autoritária por parte do governador gaúcho, sempre tão cuidadoso com sua figura de bom menino, e sei lá o que mais estará acontecendo, e ainda não emergiu diante de nós...

Creio que nada resume melhor estes tempos do que a triste imagem daquela ovelha, suspensa a 5 metros de altura do universo das ovelhas, enforcada em fios de postes da rede elétrica.

Ali se expressa o fato de que vivemos uma era de perplexidades e desencantos, onde (mesmo que se faça difícil de aceitar e entender), tudo se conecta.

E se há nisso tudo alguma lição básica, a ser interpretada, será aquela repetida por todas as avós, desde sempre: mais vale prevenir do que (tentar) remediar.

Vale para os ministros do STF, para o governo Lula, para o Eduardo Leite, para cada um de nós: Errou? Aceite, reconheça, recomece. Respeite o conhecimento, observe as experiências acumuladas. Abra os olhos e a mente: os tempos são outros. É hora de fortalecer a quem atua em favor dos interesses da maioria. Escolher o que e a quem apoiar, e não deixar margens para dúvidas a respeito disso.

Com as florestas e as geleiras desaparecendo, com os aquíferos se esgotando, com a desertificação avançando aqui e ali, se faz inevitável que, lá e acolá a água de superfície circule com maior rapidez, volume e violência. Pode até resultar positivo em algumas circunstâncias, mas não pode ser impunemente permitido que ocorra, em outras.

No caso do clima, fomos avisados. O aquecimento das águas do Pacífico (o el Niño) prenunciava tempestades no Sul, bem como a secas e incêndios no Norte, Nordeste e Centro. Alegar surpresa porque a tragédia foi de dimensão inédita não justifica a total ausência de medidas antecipatórias, preventivas ao drama. Até porque ele tende a se repetir. A chuva não acabou e as águas do Norte ainda não chegaram à Depressão Central. É possível afirmar que, com um vento sul represando o Guaíba, estão ameaçados todos e tudo que se acomoda em suas margens.

O que fazer?

Neste caso, de momento, preparar brigadas, atender os que mais precisam. Remediar.

A seguir, será necessário alertar a população, estabelecer planos de contingência e encarar o futuro com objetividade, apoiando quem faz, pode ou pretende verdadeiramente fazer o que precisamos que seja feito. Prevenir.

Para isso, há que levar em conta a importância de informações a respeito de tendências inerciais das pessoas e das forças envolvidas. E agir sabendo que em algum momento será inevitável desrespeitar/afrontar aqueles interesses que recomendam vista grossa à raiz dos problemas.

Como canta o poeta Pedro Munhoz, quando a fome bate em casa não haverá ação corretiva capaz de evitar o caos.

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko