Rio Grande do Sul

LIBERDADE À IMPRENSA

Jornalista negro é agredido e intimidado na Câmara de Vereadores de Porto Alegre

O jornalista trabalha como assessor parlamentar do vereador Jonas Reis (PT) e estava fazendo imagens no plenário

Brasil de Fato | Porto Alegre |
O vereador Jonas interveio em favor do seu assessor que estava sendo atacado pelo vereador Idenir Cecchim - Foto: Elson Sempé Pedroso /Câmara de Vereadores

O relatório "Silenciando o mensageiro: os impactos da violência política contra jornalistas no Brasil", produzido pela Abraji, mostra como a radicalização do cenário político tem afetado a situação da liberdade de imprensa e da atividade jornalística no país. Pela primeira vez desde o início do monitoramento, promovido desde 2019, o número de “Agressões e ataques” ultrapassou o de “Discursos estigmatizantes”.

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De acordo com a pesquisa, as agressões graves a jornalistas cresceram 34,2% entre 1º de janeiro e 15 de maio de 2023, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Nos últimos quatro anos, profissionais da imprensa brasileira sofreram, principalmente, com violência verbal e campanhas de descredibilização on-line. Em 2023, os comunicadores se tornaram alvos frequentes de violência física, ameaças graves, atos de intimidação e perseguição e episódios de roubo e destruição de equipamentos de trabalho.

O jornalista negro Luis Henrique Silveira, 60 anos, entrou para esta estatística ao sofrer, na tarde de ontem (9), durante a sessão plenária da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, agressões proferidas pelos vereadores Idenir Cecchim (MDB) e a Comandante Nádia (PP), na tentativa de impedir o exercício profissional. 

O jornalista que trabalha como assessor parlamentar do vereador Jonas Reis (PT), e estava fazendo imagens no plenário, nunca tinha sofrido um ataque como este.

"Em 38 anos de profissão nunca havia sofrido uma violência como essa, me senti intimidado e acuado, não consegui reagir, pois não acreditava que um parlamentar poderia me agredir de maneira gratuita, apenas por estar fazendo o meu trabalho", afirma Luis. Ainda, segundo ele, nunca presenciou tal cena com qualquer outro assessor parlamentar para que interrompesse a filmagem durante sessão plenária. "Eles não me agrediram apenas por eu ser jornalista, me agrediram por eu ser um jornalista negro que não cumpriu uma ordem", complementa.

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O vereador Jonas interveio em favor do seu assessor, mas a vereadora Nádia, ao deixar o microfone de apartes, fez questão de interpelar o jornalista chegando a desferir um tapa na mão do profissional que segurava seu aparelho celular. Na sequência, o vereador Cechim levantou-se do seu assento para também intimidar e agredir o jornalista. As agressões foram registradas por diversos profissionais presentes na sessão, incluindo alguns da própria Câmara de Vereadores.

Boletim de Ocorrência


O jornalista registrou um Boletim de Ocorrência contra os parlamentares / Foto: Maria Helena dos Santos

Na tarde de hoje (10) o jornalista foi até a Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância para registrar um boletim de ocorrência contra os parlamentares. Ele estava acompanhado do vereador Jonas, do advogado Lúcio Costa, que é diretor da Associação de Juristas Pela Democracia – AJURD, da Bete Charão, diretora do Sindicato do Municipários de Porto Alegre (Simpa) e do Pedro Dreher representante do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS. "Eu espero que sejam tomadas providências para que não se repita com nenhum outro jornalista", afirma Luis.

Em nota de repúdio, o Sindicato de Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SindJoRS) e a Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj) denunciaram e repudiaram o ataque ocorrido contra colega jornalista e prestaram sua solidariedade ao profissional.


Edição: Katia Marko