Rio Grande do Sul

Antirracismo

Dupla Gre-Nal e entidades debatem o combate ao racismo no futebol em evento na ALRS

Iniciativa promovida pela Frente Negra Gaúcha reuniu autoridades e entidades relacionadas ao esporte nesta segunda (23)

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Evento foi realizado no Teatro Dante Barone, da Assembleia Legislativa do RS - Foto: André Gomes

O combate à discriminação racial no futebol foi o tema central do painel "Racismo no Futebol: Prevenção e enfrentamento", realizado na tarde desta segunda-feira (23) no Teatro Dante Barone da Assembleia Legislativa do RS. A atividade foi iniciativa da Frente Negra Gaúcha, através do Fórum Democrático de Desenvolvimento Regional em parceria com o Observatório da Discriminação Racial no Futebol.

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Os convidados para discutirem a temática foram o presidente do Grêmio, Alberto Guerra Neto, o vice-presidente de relacionamento social do Inter, Cauê Vieira, o presidente da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), Luciano Hocsman, o gerente de desenvolvimento e projetos da CBF, Ricardo Leão, o diretor do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, Marcelo Carvalho, a professora de jornalismo esportivo da Ufrgs Sandra de Deus e o jornalista do Grupo RBS Rodrigo Oliveira.

“Os casos de racismo que acompanhamos nas partidas de futebol são um reflexo da postura de nossa sociedade fora das quadras, com um evento como este temos a oportunidade de levar o debate sobre o preconceito racial para toda a sociedade”, afirma Maria Cristina Ferreira dos Santos, vice-presidente da Frente Negra Gaúcha. A entidade desenvolve campanhas contra este tipo de crime, atuando em conjunto com federações, organizações da sociedade civil e com os clubes esportivos.

A deputada Luciana Genro (PSOL) representou a presidência da Assembleia Legislativa no parlamento do Rio Grande do Sul. “O racismo é uma chaga na nossa sociedade que precisa ser combatida em todos os espaços. Essa não é uma tarefa apenas das pessoas negras, essa é, mais do que tudo, uma tarefa das pessoas brancas. Os estádios de futebol são espaços privilegiados para fazer o debate antirracista porque os grande ídolos do esporte são os jogadores negros e mesmo assim vivenciam o racismo por parte das torcidas”, afirma a deputada. 

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A parlamentar abordou seus dois projetos de lei relacionados ao combate ao racismo e a todas as discriminações no futebol. O PL 268/2023, apelidado de "Lei Vini Jr.", é baseado em lei semelhante já aprovada na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, de autoria do deputado Professor Josemar, também do PSOL. A proposta prevê um protocolo para combater episódios de racismo que ocorram durante partidas de futebol. 
 
Já o projeto 137/2023 institui a política estadual de combate ao racismo, à LGBTfobia e à violência contra as mulheres nos estádios e nas arenas esportivas do Rio Grande do Sul, a ser nomeada Política Estádio de Respeito. Ambos os PLs aguardam parecer na Comissão de Constituição e Justiça.

Primeiro a falar no painel, o diretor do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, Marcelo Carvalho, ressaltou a necessidade de haver mais negros em cargos de gestão nos clubes e nas entidades responsáveis pela fiscalização e punição dos casos de racismo. “Os casos de racismo no futebol não são esporádicos, eles acontecem com muita frequência. Precisamos pensar em um movimento para além de punições desportivas, precisamos da participação de toda a sociedade. Nós não vamos combater o racismo enquanto pessoas negras não ocuparem espaços no STJD e na gestão no futebol brasileiro, que hoje são 99% ocupados por brancos”, comentou Marcelo.

Casos de racismo na imprensa

Já o jornalista esportivo do Grupo RBS Rodrigo Oliveira falou sobre a reportagem "Caso Vini Júnior: um mergulho nas raízes do racismo", produzida na Espanha, em junho, e comparou a situação racial na sociedade espanhola com o cenário atual no Brasil. "A reportagem mostrou que a Espanha está muito mais avançada do que o Brasil em temas importantes, como os direitos das mulheres e da comunidade LGBT, mas muito mais atrasada no debate sobre o racismo. Porém, o fato de o Brasil debater mais a questão racial é importante, mas não significa necessariamente que a nossa sociedade seja menos racista que a espanhola", avaliou.

A professora de jornalismo esportivo da Ufrgs Sandra de Deus sugere que a questão racial seja tema na formação de jornalistas no ambiente universitário. "A imprensa tem um papel fundamental nesta discussão ou neste combate ao racismo. Também não temos jornalistas negros ocupando cargos de decisão dentro dos veículos, daí fica dificil alguém decidir que está é uma pauta interessante para ser coberta pelo jornalismo. O racismo precisa ser discutido pelos jornalistas nas universidades. Os jornalistas precisam ter essa formação", declarou.

Dupla Gre-Nal contra o racismo

Os representantes da dupla Gre-Nal destacaram as iniciativas feitas pelos dois clubes para prevenir e punir casos de racismo nos estádios. Ambos ressaltaram a importância da força dos dois clubes ser utilizada para ajudar a fomentar o debate sobre o tema na sociedade.

O gerente de desenvolvimento e projetos da CBF, Ricardo Leão, participou por vídeo. Ele destacou as medidas implementadas pela gestão do presidente Ednaldo Rodrigues para punir de forma mais dura os clubes que não impedirem casos de racismo e também para formar mais técnicos e gestores de futebol negros. 

O último a realizar sua apresentação foi o presidente da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), Luciano Hocsman. Ele falou sobre as iniciativas mais recentes da entidade para combater o racismo no futebol gaúcho como, por exemplo, o projeto “Protocolo Zero: Fim de Jogo para o Racismo”, com o apoio da Odabá - Associação de Afroempreendedorismo. Serão desenvolvidas ideias e ações voltadas para prevenção de casos de discriminição racial dentro da esfera futebolística, com o apoio dos clubes filiados, desde as categorias de base até o profissional, com foco nos atletas mais jovens. O projeto terá uma duração inicial de 18 meses e também prevê a criação de um "Manual Antirracista Dentro do Futebol".

O painel teve transmissão ao vivo pela TV Assembleia.


Edição: Marcelo Ferreira